Madalena Palmeirim estreia no B.Leza um disco de sabor crioulo, Morna Mansa

Na véspera do lançamento do seu novo álbum, inspirado em Cabo Verde, Madalena Palmeirim apresenta-o ao vivo no B.Leza, em Lisboa, nesta quinta-feira, às 22h.

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Madalena Palmeirim com o seu cavaquinho MARLENE BARRETO
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Cabo Verde já estava na cabeça e no sangue da lisboeta Madalena Palmeirim quando lançou o seu primeiro disco, Right As Rain, em 2019. Viajara até São Vicente, onde ficou um mês, em férias e trabalho, e dessa experiência nasceu um fascínio que viria a tomar forma na morna M’cá sabê, com um videoclipe gravado em terras crioulas.

O disco saiu em Dezembro de 2019 e, passados dois meses, a pandemia da covid-19 obrigou o país a uma reclusão sanitária. Cantora, compositora e multi-instrumentista, Madalena não hesitou: em Fevereiro de 2020, rumou a Cabo Verde. “A vida já me tinha mostrado que era um sítio de encontro, muito mais humano”, diz ao PÚBLICO. “A situação lá estava muito melhor do que em Portugal e essa viagem foi uma reacção a este contexto, um acto de sobrevivência para recuperar a respiração e voltar à canção.”

Era para ficar apenas um mês, ficou quase cinco. Em São Vicente, viajando depois até Santo Antão. “Fui ficando, porque a situação em Portugal piorou e também porque fui muito bem acolhida, tenho família lá.” Haveria de voltar, mais recentemente. “Já com apoio da Direcção-Geral das Artes e com um trabalho mais estruturado, a todos os níveis. Quis gravar também lá um videoclipe com mulheres com quem já tinha trabalhado.” E foi assim que nasceu o seu novo álbum, Morna Mansa. “Eu não podia fazer este disco em Portugal, muito menos sozinha, tinha de envolver as pessoas do universo cabo-verdiano com quem me tinha cruzado e com quem tinha tocado”, diz Madalena. E as duas primeiras canções a serem divulgadas tiveram ambas videoclipes gravados em Cabo Verde e com músicos cabo-verdianos: É bô, com John D’Brava, e Mudjer, com Milanka Vera-Cruz.

Quatro canções do novo disco são cantadas em crioulo e quatro em português: “Dei-me conta de que tenho um lado muito melancólico, mas onde há também momentos de ‘tempestade’”, explica Madalena. “Ao fazer esta aproximação com Cabo Verde, a vibração e as cores são outras e isso passa para os temas em português. Sem deixar de ser introspectivo, a proposta neste disco é um pouco mais consciente naquilo que são os meus lugares-comuns e para onde é que eu queria ir, no fundo. Este era o meridiano.”

Seis das canções do disco têm letra de Madalena Palmeirim (autora de todas as músicas) e as outras duas são de Margarida Vale de Gato (Marinha) e Lídia Jorge (Afortunada). “Durante a pandemia”, diz, “trabalhei em ciclos de leituras com a [actriz e encenadora] Sara Carinhas e esse foi um dos temas que surgiram, no São Luiz, no ciclo dedicado a mulheres. E como a palavra ‘afortunada’ se ajustava à sensação que tive com este disco, de um resgate, um voltar à vida, ao encontro, às pessoas, fazia sentido acabar o disco com esse tema.”

Na véspera do lançamento do seu novo álbum, vai apresentá-lo ao vivo em Lisboa, num concerto no B.Leza. Com Madalena Palmeirim (voz, cavaquinho e ukulele) estarão os músicos Manuel Dordio (guitarra acústica e eléctrica), David Santos (contrabaixo e baixo eléctrico) e Nuno Morão (bateria e percussão), que já tinham tocado com ela no disco de estreia, Right As Rain. E terá três convidados especiais: o cantor cabo-verdiano John D’Brava (agora a morar em Lisboa), Margarida Vale de Gato e Sara Carinhas. “A Sara vai cantar comigo a Afortunada, simbolicamente, e a Margarida com o seu poema.”

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Madalena com Milanka Vera-Cruz, em Cabo Verde MARLENE BARRETO

O espírito do concerto será, também, cabo-verdiano. Ela dá como exemplo o dia em que conheceu Milanka, com quem gravou Mudjer: “Estava a assistir a um concerto dela enquanto comia uma cachupa, com o meu cavaquinho encostado ao balcão (o que é um óptimo denunciador de músicos), e passado pouco tempo já estava com ela em palco. É esse lado de esbatimento entre palcos e plateia que é também muito enriquecedor em Cabo Verde. E é isso que vou tentar trazer aqui para Lisboa, para o B.Leza.”

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Com John D’Brava e capa do disco, com colagem de Lídia Reis DR

Nas plataformas digitais a partir desta sexta-feira, 19 de Janeiro, Morna Mansa tem também edição em CD. “Estará disponível no concerto desta quinta-feira”, diz Madalena. “E há-de haver vinil, lá mais para a frente.” Depois do B.Leza, Madalena Palmeirim diz que estará em Maio no Brasil, a actuar entre o Rio e a Bahia: “E não sei se, antes de voltar, ainda consigo fazer o triângulo amoroso passando por Cabo Verde, para depois voltar a apresentar o disco em Portugal.”

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