Ela quer que 50 pessoas decidam o que fazer aos 25 milhões que herdou: “Nunca tive de trabalhar para eles”

Marlene Engelhorn, de 31 anos, herdou 25 milhões de euros, mas quer que a fortuna seja redistribuída. Faz parte de uma organização de milionários que defendem que devem ser taxados.

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Marlene Engelhorn quer redistribuir a riqueza DR
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Marlene Engelhorn está à procura de 50 pessoas para a ajudarem a decidir o que vai fazer aos 25 milhões de euros que herdou. A austríaca de 31 anos era neta da filantropa Traudl Engelhorn-Vechiatto, que morreu em 2022 e deixou um património avaliado em 3,8 mil milhões de euros, resultante da venda da farmacêutica Boehringer Mannheim, que Marlene espera que seja redistribuído.

Na verdade, já antes da morte da avó, a austríaca, que pertence ao grupo Millionaires for Humanity, tinha declarado que tencionava doar 90% da herança. “Nasci numa família rica e vou herdar uma fortuna para a qual nunca tive de trabalhar”, apresenta-se Marlene no site da organização, que conta com nomes como Abigail Disney, neta de Walt Disney, ou o actor canadiano Tommy Chong, e que pede aos governos que taxem os milionários (a começar por eles próprios).

“Os milionários não deviam decidir se contribuem ou não de forma justa para a sociedade onde se inserem — e sem a qual nunca se teriam tornado milionários”, continua Marlene. Mas, apesar do seu pedido retumbante e directo — “taxem-nos!” —, a Áustria aboliu o imposto sobre heranças em 2008.

Assim, a jovem decidiu pôr mãos à obra: “Se o Governo falha, nós arranjamos as coisas.” Criou um fundo com os 25 milhões de euros que herdou, ao qual chamou Guter Rat, e está à procura de 50 austríacos que decidam que destino dar à fortuna.

O processo deverá funcionar assim: dez mil pessoas seleccionadas aleatoriamente vão ser contactadas e, caso estejam interessadas, deverão responder a um inquérito. A partir das respostas, vai ser criado um conselho com 50 pessoas que reflictam a população austríaca “da forma mais precisa possível, em termos de género, origem, salário e por aí adiante”, lê-se no site da iniciativa.

As pessoas seleccionadas deverão encontrar-se ao longo de seis fins-de-semana, para receber “informação de especialistas em temas como a distribuição da riqueza e o seu impacto na política e na sociedade austríaca”. A partir daí, o Guter Rat deve desenvolver ideias para a distribuição do dinheiro.

Os 50 seleccionados terão direito uma compensação de 1200 euros por fim-de-semana, estada, viagens, refeições, um serviço de creche e intérpretes, se necessário. O objectivo é “simples”: “Usar a herança para lutar contra as causas da desigualdade e não apenas os sintomas.” Não podem ser escolhidos “grupos, indivíduos ou actividades inconstitucionais, hostis ou desumanas” ou para organizações que tenham o lucro como objectivo.

Para Marlene, doar o dinheiro — talvez a solução mais imediata — “não resolve o problema do falhanço político” e, mais ainda, continua a “garantir-lhe um poder” que acredita não merecer. “A redistribuição deve ser um processo que me ultrapassa”, escreve. Também por isso escolheu retirar-se do projecto assim que o grupo estiver formado, não tendo poder de veto, apenas “direito a comentar sobre os temas da distribuição da riqueza e redistribuição”.

Se as discussões não levarem a uma decisão “amplamente apoiada”, o dinheiro deverá ser devolvido a Marlene.

A Millionaires for Humanity é uma organização que reclama a taxa de 1% sobre a riqueza de multimilionários para “ajudar à recuperação da covid-19, mitigar a pobreza, as alterações climáticas e ao alcance dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas”. Referem que o seu dinheiro faz com que sejam ouvidos com mais atenção, e querem usar esse poder com responsabilidade. E lembrar que, em 2018, os 26 mais ricos do mundo tinham em seu poder tantos recursos como os 3,8 mil milhões de pessoas que fazem parte da metade mais pobre da população mundial.

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