Os Emmys desta noite deviam ter sido em 2023 e têm séries de há quase dois anos
Duas greves e quase quatro meses após a data prevista para a festa da televisão dos Estados Unidos, desenrola-se mais uma passadeira vermelha para Succession, The Crown ou Wednesday.
Era uma tarefa difícil, mas a Academia de Televisão de Hollywood tinha de a fazer — e foi assim que anunciou as suas nomeações para os Emmys da temporada 2022/2023 em Julho, um dia antes do início da greve dos actores e já com os argumentistas norte-americanos paralisados. A cerimónia, que costuma ter lugar em Setembro, foi adiada para a madrugada desta terça-feira (hora portuguesa), aterrando em plena contagem decrescente para os Óscares e apenas uma semana depois da entrega dos Globos de Ouro. Mas a sensação de tempo diferido tem também a ver com o facto de certas séries estarem nomeadas por temporadas mais antigas, caso de The Crown, que concorre a com a penúltima leva de episódios e não com a que o público viu mais recentemente, e de outras, como Wednesday, um fenómeno pop, já remontarem ao Outono de 2022. De resto, a paisagem audiovisual mudou bastante entretanto, fazendo com que estes 75.ºs Emmys possam ter um certo tom de fim de ciclo.
Em Portugal, a SIC Caras transmitirá a gala em directo logo a partir da meia-noite (hora portuguesa), com a habitual dose de smokings e vestidos à entrada. A cerimónia começa à 1h e deve prolongar-se até às 4h. Quem preferir o diferido pode sintonizar o canal E! às 20h de terça-feira. Nos Estados Unidos, os Emmys serão transmitidos pela Fox. Cabe ao actor e comediante Anthony Anderson o papel de anfitrião.
A gala deste ano puxará pela memória dos espectadores, ao fazê-los recuar à primeira temporada de The Bear e, como acima se dizia, à penúltima temporada de The Crown, vencedora do Emmy de melhor série dramática em 2021. Eram elegíveis para esta edição dos prémios séries estreadas e transmitidas entre 1 de Junho de 2022 e 31 de Maio de 2023.
Nos Estados Unidos, a gala vai competir com um jogo de playoffs de futebol americano e com o caucus do Iowa (votações dos dois principais partidos norte-americanos para a escolha dos seus candidatos à Casa Branca), que decorrem em simultâneo. A forte concorrência poderá intensificar a habitual ladainha sobre a continuada perda de audiências das cerimónias de prémios. Talvez por isso, e porque o “tempo” parece ser a tónica da antecâmara destes 75.ºs Emmys, estão prometidas homenagens (nalguns casos com direito a reunião do elenco) a séries como Os Sopranos, Cheers, Uma Família às Direitas, I Love Lucy, Ally McBeal e Anatomia de Grey.
Voltando ao presente, recordemos as matemáticas: Succession soma 27 nomeações (oito das quais para o elenco) e muito provavelmente ganhará a estatueta de melhor série dramática; a temporada de estreia de The Last of Us tem 24 nomeações; a segunda de The White Lotus acumula 23. São as três grandes candidatas da HBO Max. Ted Lasso, da Apple TV+, tem 21 possibilidades de receber Emmys, sendo uma potencial vencedora na comédia depois de dois anos consecutivos a levar a estatueta alada para casa, derrotando concorrentes como Abbott Elementary, Barry, The Bear, Jury Duty, The Marvelous Mrs. Maisel, Homicídios ao Domicílio e Wednesday (um enorme sucesso da Netflix que se estreou, recorde-se, já nos idos de Novembro de 2022).
Apesar de a terceira temporada de Ted Lasso não ter sido tão bem sucedida quanto as anteriores, deu à série o seu maior número de menções de sempre. “Claramente os votantes dos Emmys ainda a adoram”, diz Joyce Eng, editora do site de apostas de prémios Gold Derby, em declarações à agência Reuters.
Os prémios das chamadas categorias técnicas e de rubricas como a de actor convidado já foram entregues e The Last of Us saiu à frente com oito estatuetas arrecadadas, seguido por quatro para The White Lotus, The Bear e Wednesday; Beef teve três prémios e a despedida de The Marvelous Mrs. Maisel idem.
“Quem quiser prever os vencedores dos Emmys terá de recordar qual era o ambiente em Agosto [de 2023]”, argumenta Eng em jeito de resumo. Os vencedores são escolhidos por cerca de 20 mil membros da Academia de Televisão, que inclui actores, realizadores e produtores, entre outros profissionais, divididos em 31 grupos de especialidade. As duas greves de 2023 — e os efeitos que tiveram, nomeadamente a paralisação de projectos, o adiamento de estreias e a possível inflexão criativa em Hollywood — serão seguramente mencionadas na cerimónia desta noite.