Morreram 18 migrantes por dia ao tentar chegar a Espanha no ano passado
O ano de 2023 foi o mais mortífero de que há registo e 6618 pessoas terão morrido a tentar chegar a Espanha. Foi na rota das Canárias, a mais perigosa, que foi registado o maior número de vítimas.
Morreram ou desapareceram 18 pessoas por dia enquanto tentavam chegar à costa de Espanha em 2023, o ano mais mortífero alguma vez registado desde que a organização não-governamental Caminando Fronteras faz esta recolha, que começou em 2007.
“2023 foi o ano mais mortífero de que há registo. Em 2021, o número total de vítimas foi de 4639, o que significa que 12 pessoas morreram todos os dias ao atravessar as fronteiras. Em 2023, este número vergonhoso subiu para 6618 e para 18 mortes por dia”, lê-se no relatório divulgado esta quarta-feira pela ONG.
Do número total de vítimas, cerca de 380 eram crianças e 360 mulheres. Foi no mês de Junho (1197) e de Outubro (2370) que foi registado o maior número de vítimas. Pelo menos 84 barcos terão desaparecido com toda a tripulação a bordo.
O relatório, que junta relatos de familiares das pessoas que morreram ou desapareceram com estatísticas oficiais de resgate, refere que o aumento acentuado do número de mortes está relacionado com os esforços para conter a migração.
“A prioridade do controlo de fronteiras acima do dever de socorro, a não-activação dos meios de busca e salvamento com a urgência necessária, a prática cada vez mais habitual das buscas passivas e a redução de meios destinados à protecção da vida são algumas das causas do aumento de mortes”, lê-se no documento.
Em muitas das tragédias que a organização documentou, as operações de busca e salvamento não foram mobilizadas ou foram adiadas durante tanto tempo que as vidas das pessoas foram postas em risco.
Foi na rotas das ilhas Canárias, a “rota mais longa e perigosa”, que foi registado o maior número de mortes: 6007. Ainda assim, um número recorde de homens, mulheres e crianças chegou às Canárias de barco em 2023 – um aumento de 154% em relação a 2022. Na rota da Argélia foram registadas 430 mortes.
A Caminando Fronteras refere ainda que aumentou a “capacidade de resposta às necessidades emergentes no Senegal e nas ilhas Canárias” e que está a combater o “tabu generalizado em torno das mortes nas fronteiras”. “O silêncio em torno das vítimas foi exacerbado pelo medo da repressão estatal e da detenção entre aqueles que se manifestam. A nossa investigação também destacou um aumento na perseguição, estigmatização e criminalização de famílias que procuram os seus entes queridos.”
Embora as vítimas fossem provenientes de 17 países, quase metade eram do Senegal, onde a agitação política, o aumento dos preços dos alimentos e o esgotamento das populações de peixes ao largo das suas costas levaram a uma subida no número de crianças nas rotas do Atlântico. “No último trimestre de 2023, mulheres e crianças muito pequenas, incluindo bebés, também começaram a fazer a travessia”, diz o relatório, acrescentando que este é um desenvolvimento totalmente novo em comparação com as actividades anteriores nesta rota.