JS deixa cair emergência climática e aposta em habitação, emprego e fim das propinas
Os jovens socialistas levam quatro temas ao congresso deste fim-de-semana, mas deixam para trás uma das bandeiras. A luta contra as alterações climáticas dá lugar à crise de habitação.
Maior aposta no emprego jovem, mais medidas de apoio à habitação, fim das propinas e legalização da cannabis. Estas são as quatro moções sectoriais que a Juventude Socialista (JS) irá levar ao 24.º congresso do PS, que se realiza entre 5 e 7 de Janeiro. Para trás fica a aposta na emergência climática, tema que os jovens socialistas levaram ao último encontro do PS e que desta vez não consta como tema focal de nenhuma das 45 moções que serão discutidas.
No congresso de 2021, a JS tinha apresentado como bandeiras a regulamentação da prostituição, a discussão da regionalização e a emergência climática. Enquanto os dois primeiros temas serão discutidos por outros proponentes, a questão climática deixa de estar no radar dos jovens socialistas, embora as manifestações pelo clima se tenham tornado cada vez mais frequentes. A saúde mental e os direitos LGBTQ+, que inspiraram propostas da JS no passado, também não são apresentados pelo grupo de jovens, embora o reforço dos direitos LGBTQ+ esteja representado numa das moções apresentadas por um militante.
Questionado pelo PÚBLICO, o líder da JS admite que "não está tudo feito" na luta contra as alterações climáticas, mas afirma que a maioria das medidas exigidas pelos jovens socialistas já foi concretizada ou "estão em fase de execução" pelo Governo que agora cessa funções. Um dos exemplos dados por Miguel Costa Matos é a antecipação da neutralidade carbónica para 2045. Mas reconhece que ainda existe trabalho, defendendo, por exemplo, o fim do gás natural até 2030, bem como o reforço dos transportes públicos e alargamento da gratuitidade dos passes.
Naquele que é o primeiro congresso de Pedro Nuno Santos enquanto secretário-geral do PS, os jovens socialistas desafiam o partido a ser mais ambicioso na habitação, área tutelada justamente pelo líder socialista até Janeiro de 2022. Ao programa Mais Habitação, a JS quer ver adicionados apoios para jovens que queiram comprar a primeira casa. "Só em Lisboa, 80% das casas disponíveis são para comprar, não para arrendar. Não podemos abdicar de 80% do mercado", argumenta.
Quanto ao ensino superior, Costa Matos argumenta que, "se é possível financeiramente suportar a devolução integral da propina, é também possível deixar de a cobrar integralmente”. A JS pede ainda o alargamento do complemento de alojamento para alunos da classe média. Com a cobertura do alojamento estudantil a chegar apenas a 14% dos estudantes deslocados e com os preços dos quartos a chegar aos 500 euros, Costa Matos reconhece que é preciso fazer mais.
Sobre a necessidade de uma Agenda de Trabalho para os jovens, Costa Matos propõe uma automatização dos apoios já existentes, como o IRS Jovem, para "tentar superar o défice de adesão" à medida. "Há constrangimentos que é preciso superar", e "o Estado tem informação suficiente para esse processo de automatização. É um esforço que vale a pena", considera.
A propósito da legalização da cannabis, onde o PS conta com o apoio do Bloco, IL, PAN e Livre, Costa Matos assinala o "maior progresso nos últimos 20 anos" dentro da JS, com a aprovação da criação de um grupo de trabalho para discutir o tema na Assembleia da República, e tem esperança de que a proposta se aproxime da concretização no próximo ciclo político.