Conflito no Médio Oriente: Borrell defende solução imposta pela comunidade internacional

Chefe da diplomacia da União Europeia participou no primeiro dia do Seminário Diplomático, em Lisboa, encontro promovido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Foto
alto representante para a Política Externa e Segurança da União Europeia foi recebido em Lisboa por João Gomes Cravinho EPA/TIAGO PETINGA
Ouça este artigo
00:00
03:19

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O alto representante para a Política Externa e Segurança da União Europeia, Josep Borrell, defendeu esta quarta-feira que a solução para o conflito em curso no Médio Oriente tem de ser imposta pela comunidade internacional, já que as partes em confronto “nunca se conseguirão entender”.

A solução para a guerra entre Israel e o movimento islamista palestiniano Hamas “tem de ser imposta a partir do exterior porque as duas partes nunca conseguirão chegar a acordo. Tem de ser a comunidade internacional a impô-la”, afirmou Borrell, durante o Seminário Diplomático, que decorre esta quarta-feira e quinta-feira em Lisboa.

A guerra entre palestinianos e israelitas “é um problema territorial” entre “dois povos que têm direitos legítimos a uma terra”, referiu o chefe da diplomacia da UE, considerando que “a única solução é que partilhem [o território] ou que um deles desapareça”.

Borrell lembrou que “há 30 anos que se defende a solução de dois Estados”, mas “o radicalismo do Hamas e a extrema-direita de Israel não o têm permitido”.

E, embora os últimos anos tenham criado “uma ilusão de que o Médio Oriente estava pacificado”, o ataque de 7 de Outubro “pôs em evidência a debilidade” da paz entre as duas partes agora em confronto.

O Hamas atacou, de forma inesperada e inédita, o território israelita, provocando, segundo Israel, cerca de 1200 mortos, a maioria dos quais civis.

Mais de 200 pessoas foram também sequestradas nesse dia e levadas para a Faixa de Gaza, das quais mais de 120 ainda permanecem em cativeiro no enclave, território controlado pelo Hamas, considerado uma organização terrorista pela UE, pelos Estados Unidos e por Israel.

Em retaliação, Israel declarou guerra ao Hamas, bombardeando Gaza diariamente e provocando, segundo as autoridades locais, mais de 22 mil mortos, além de bloquear o acesso a bens essenciais como água, medicamentos e combustível.

“O que estamos a aprender [com esta guerra e com o passado] é que a solução tem de ser imposta pela comunidade internacional”, insistiu Josep Borrell.

“Os Estados árabes já avisaram que está fora de questão voltarem a financiar a reconstrução de Gaza – esta seria a quarta vez – se não houver uma solução que comprometa a comunidade internacional”, adiantou o representante europeu.

Por outro lado, recordou, “o Hamas não quer a solução de dois Estados e Israel também não”, pelo que o cenário tem de ser forçado externamente.

“Se isto [a guerra] não acabar rapidamente, todo o Médio Oriente vai entrar ‘em chamas’”, advertiu, referindo que, em menos de três meses de conflito, “já há mais de 20 mil mortos, dois milhões de deslocados e Gaza tornou-se numa cidade mais destruída do que estava Varsóvia quando acabou a II Guerra Mundial”.

Mas a necessidade de a comunidade internacional impor uma solução no Médio Oriente também mostra as fraquezas da própria UE, admitiu o chefe da diplomacia europeia.

Ao contrário do que aconteceu em relação à guerra na Ucrânia, “não conseguimos ter uma posição unânime” relativamente à Palestina e Israel, lamentou Borrell.

“Só conseguimos um acordo para apoiar pausas humanitárias e, quando chegámos às Nações Unidas, esse consenso rompeu-se”, referiu o político, sublinhando que a falta de união “debilita a Europa” e facilita as críticas de que “há comportamentos diferentes [double standards]” relativamente a diferentes conflitos.

Borrell participou esta quarta-feira, como convidado especial, no primeiro dia do Seminário Diplomático, encontro anual promovido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros com os diplomatas portugueses para debater as prioridades da política externa.