Hollywood permanece longe da equidade racial e de género, indicam novos estudos

Estudos recentes da Universidade Estadual de San Diego e da Universidade do Sul da Califórnia apontam para a pouca representatividade — étnica e de género — nos filmes com maior bilheteira de 2023.

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Apenas 16% dos 250 filmes de maior bilheteira em 2023 foram dirigidos por mulheres, aponta a SDSU PEXELS

Barbie, realizado por Greta Gerwig, foi um dos grandes marcos do cinema em 2023. Mas mesmo que o filme com melhores resultados de bilheteira do ano passado tenha sido realizado por uma mulher, o feito não deixa de ser uma excepção. E Gerwig sabia-o. Basta relembrar o aclamado monólogo da actriz America Ferrera, que reflecte sobre como é ser e viver enquanto mulher. Segundo a sua personagem, Gloria, “o sistema está viciado”. Os mais recentes estudos das norte-americanas Universidade Estadual de San Diego (SDSU) e da Universidade do Sul da Califórnia (USC), publicados no início deste ano, comprovam-no.

Apenas 16% dos 250 filmes mais vistos em 2023 foram dirigidos por mulheres, aponta o Centro para o Estudo das Mulheres na Televisão e no Cinema, associado à SDSU​ — a amostra refere-se aos filmes exibidos nos Estados Unidos da América, Canadá e territórios não incorporados (áreas não totalmente integradas no país ao qual estão ligadas) como a Samoa Americana ou Porto Rico. Em 2022, o rácio era um pouco mais alto, ficando-se pelos 18%.

Se incluirmos na lista os filmes que envolveram argumentistas, produtoras, editoras e directoras de fotografia, o número sobe para os 22%. Mas a tendência decrescente continua — em 2022, eram 24%. O centro já faz este levantamento anual há 26 anos.

Regra geral, as principais funções atrás da câmara são para eles. Apenas 4% dos filmes com resultados de bilheteira mais expressivos optaram por contratar dez ou mais mulheres (contra os 75% que tiveram dez ou mais homens nos cargos de maior proeminência). Mas nos filmes dirigidos por mulheres, a tendência inverte-se. A SDSU aponta uma representação de 61% nos argumentos, 35% na edição, 10% na direcção de fotografia e 26% na composição musical (opostos aos respectivos 9%, 18%, 7% e 11%, já nos filmes realizados por homens).

O relatório “Inclusion in the Director’s Chair (ou, numa tradução literal, “Inclusão na Cadeira do Realizador”), desenvolvido pelo centro Annenberg Inclusion Initiative, da USC, foca-se nos 100 filmes com melhores resultados em 2023. Nesta amostra, apenas 14 dos 116 directores associados às produções eram mulheres (cerca de 12%). Mas mesmo que se verifique uma melhoria — em 2022, eram 9%; em 2018, 4,5% — o relatório frisa a lentidão inerente ao processo, num meio ainda marcado pelo sexismo, visível em inúmeros casos de assédio sexual e queixas de disparidade salarial.

Entre 2007 e 2023, apenas 6% dos filmes de ficção mais rentáveis foram conduzidos por mulheres. Ao todo, o rácio é de 9,8 homens para cada mulher. O relatório menciona Elizabeth Banks, Emerald Fennell e Sofia Coppola, cujos trabalhos — Cocaine Bear, Saltburn e Priscilla, respectivamente fizeram sucesso em 2023. Mas o destaque vai para Anne Fletcher, conhecida pelo filme A Proposta, de 2009, e Lana Wachowski, uma das criadoras de Matrix, que ganhou um quarto filme em 2021. De acordo com a USC, Fletcher e Wachowski foram as mais consistentes durante o levantamento dos últimos 17 anos (ambas dirigiram quatro filmes de grande alcance comercial no período indicado).

No que à diversidade racial diz respeito, o reexaminar das práticas de inclusão, impulsionado pelos protestos Black Lives Matter, ainda não deu frutos significativos, tal como alerta o centro Annenberg Inclusion Initiative, que descreve as tentativas de diversidade como “performativas”. Segundo indica o relatório, apenas 26 dos 100 filmes considerados apresentam realizadores de grupos sub-representados (22,4%), um pouco mais do que em 2022 (20,7%).

Se unidas as variantes, apenas quatro eram mulheres racializadas — um total de 3,4% da amostra. São elas Celine Song, com Past Lives, Adele Lim, com Joy Ride, Fawn Veerasunthorn, com a animação Wish, e Nia DaCosta, com The Marvels.

Texto editado por Maria Paula Barreiros

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