Sunny orgulha-se de ser uma cidadã cumpridora da lei de Singapura, mas nos últimos três anos tem acolhido um felino fugitivo chamado Mooncake.
O fofo ragdoll vive com Sunny, desafiando uma lei com 34 anos que proíbe os gatos nos apartamentos construídos pelo Governo, onde vive a grande maioria dos singapurenses.
Felizmente para Mooncake, Singapura planeia acabar com a proibição no final deste ano, libertando Sunny da ameaça de uma multa de quase três mil euros ou do potencial despejo do seu animal de estimação.
"Os gatos são muito mais silenciosos do que os cães. Se permitem cães, não percebo porque não permitem gatos", diz Sunny, de 30 anos, que trabalha em marketing e pediu para ser identificada apenas pelo primeiro nome porque não queria correr o risco de lhe tirarem o gato.
As autoridades raramente fazem cumprir a proibição, que só se aplica aos blocos de apartamentos altos do Housing and Development Board (HDB), onde vivem 80% dos 3,6 milhões de singapurenses, e há muito que é desrespeitada por inúmeros amantes de gatos.
No entanto, a proibição dificulta as coisas: porque tecnicamente não deveriam existir, os gatos de estimação dos HDB, como o Mooncake, não são elegíveis para o seguro de animais de estimação. O deputado Louis Ng, que fez campanha para revogar a proibição, disse que o regulamento por vezes se torna uma arma de arremesso para vizinhos em conflito.
Porquê os gatos?
A proibição de gatos nas habitações HDB de Singapura é mais um exemplo da infame cultura de regras da cidade-estado, onde, por exemplo, a venda e a importação de pastilhas elásticas continuam proibidas.
Criado em 1960, o sistema HDB vende unidades construídas pelo governo directamente a cidadãos, com contratos de arrendamento de 99 anos. Este sistema conduziu a uma das mais elevadas taxas de propriedade de casas do mundo, mas os residentes estão sujeitos a muitas restrições e regulamentos.
Os gatos eram permitidos nos apartamentos HDB até o parlamento alterar a lei da habitação em 1989. No seu site, a autoridade de Singapura justifica a proibição dizendo que os gatos são "difíceis de conter dentro do apartamento... têm tendência a largar pêlos e a defecar ou urinar em áreas públicas, além de miarem, o que pode incomodar os vizinhos".
Não se sabe ao certo o que levou o Governo de Singapura a mudar de ideias, mas o ponto de viragem parece ter sido um inquérito oficial realizado em 2022 que revelou que nove em cada dez inquiridos concordavam que os gatos eram animais de estimação adequados, incluindo em apartamentos HDB. As autoridades estão agora a inquirir o público sobre o "quadro de gestão de gatos proposto", que deverá entrar em vigor no final de 2024.
Os cães não foram sujeitos a uma proibição semelhante, mas estão limitados a um por agregado familiar e apenas determinadas raças e tamanhos podem ser mantidos como animais de estimação. Por exemplo, "sim" para os caniches miniatura e "não" para os golden retrievers.
A empresa de estudos de mercado Euromonitor International previu um aumento do número de gatos. Num relatório sobre as perspectivas das empresas de alimentos para gatos, a Euromonitor International estima que a população actual de animais de companhia em Singapura é de cerca de 94 mil gatos e 113 mil cães.
O deputado Ng, que geria um grupo de protecção dos animais antes de entrar para o Parlamento em 2015, também espera que a mudança leve mais pessoas a adoptar gatos resgatados. De acordo com o novo enquadramento, os residentes dos HDB estão limitados a dois gatos. O novo diploma exige também o licenciamento e a colocação de microchips nos gatos, bem como a instalação de redes nas janelas para que os gatos não caiam.
Alguns amantes de gatos dizem que os novos regulamentos não vão suficientemente longe. Thenuga Vijakumar quer que a lei imponha a esterilização. Chan Chow Wah, 50 anos, que se dedica ao resgate de gatos, também quer sanções para os donos irresponsáveis. Disse que teve de tratar de um gato que caiu do terceiro andar e cujos donos se recusaram a pagar as despesas médicas, bem como de outro que foi abandonado depois de lhe ter sido diagnosticada uma doença cardíaca.
"Acabo por tomar conta destes casos. Basicamente, cuido deles até morrerem", diz Chan, estimando que gastou mais de quarenta mil euros em despesas veterinárias em 2022.
Mas para muitos donos de gatos, como Sunny, a "mamã" de Mooncake, a lei é uma bênção que lhe trará paz de espírito. "Acho que é uma coisa boa e é um passo em frente após 30 anos", disse ela.