Veneza continua a acrescentar alíneas ao seu manual, mais ou menos "experimental", de controlo do sobreturismo. Mantendo a próxima Primavera como época para começar a vigorar o novo sistema de controlo de entradas, a autarquia avança agora também com medidas de limitação dos grupos de turistas: no máximo 25 pessoas por grupo e interdição do uso de mecanismos de alta-voz.
As novas regras deverão entrar em vigor a tempo do Verão e aplicar-se-ão não só no centro histórico de Veneza mas também nas ilhas de Murano, Burano e Torcello.
Em comunicado, lançado no final de Dezembro, a câmara de Veneza resume as regras em análise e que, após aprovação pela assembleia municipal, passarão a ser lei a partir de 1 de Junho. Na alteração ao Regulamento de Polícia e Segurança Urbana, estipula-se que o número máximo de 25 pessoas foi assim estabelecido tendo em conta que é cerca de “metade dos passageiros de um autocarro turístico”, facilitando assim a divisão em dois grupos, e que é também o número máximo já utilizado para grupos organizados de visitantes aos museus.
“Será igualmente proibida a utilização de megafones que possam causar confusão e perturbação”, refere-se, numa tentativa de reduzir a cacofonia turística pelas mui desejadas ruas daquela que é uma das mecas turísticas mundiais, habituada a números que andarão pelos 30 milhões de turistas por ano, na sua esmagadora maioria visitantes de passagem — só 10% ficam alojados pelo menos uma noite.
"Uma medida importante que visa melhorar a gestão dos grupos organizados no centro histórico” e nas ilhas, “promovendo o turismo sustentável e garantindo a protecção e a segurança da cidade”, diz a vereadora para a segurança Elisabetta Pesce, realçando ainda a "promoção da mobilidade pedonal".
"Trata-se de uma medida que se insere num quadro mais vasto de intervenções destinadas a melhorar e a gerir melhor o turismo em Veneza, garantindo assim um melhor equilíbrio entre as necessidades de quem vive a cidade, seja como residente ou como trabalhador, e de quem vem visitar a cidade”, comenta, por seu lado, o vereador do Turismo Simone Venturini. As novas medidas foram ajustadas após “uma série de consultas e discussões com diferentes operadores do sector”.
Já o responsável autárquico para o Comércio, Sebastiano Costalonga, ainda que realçando que todas as medidas são pensadas “para respeitarem a fragilidade de Veneza, melhorarem os fluxos de trânsito e a convivência com quem vive em Veneza”, acrescenta que se pretende também dar um “sinal” quanto à “presença de guias turísticos não autorizados”: “Com este novo regulamento não serão mais tolerados".
Era um bilhete para entrar em Veneza, sff
Já em Abril, com início marcado para o dia 25 (mas após vários adiamentos), espera-se que entre em funcionamento o já célebre e muito debatido sistema de controlo de entradas. Este irá obrigar ao registo online e ao pagamento de um “bilhete” de entrada com custo médio de 5 euros — prevê-se que oscile entre os 3 e 10 euros, sendo mais barato quanto menos procurado for o dia desejado de visita. Isto porque os preços e acessos dependerão essencialmente da antecedência da aquisição e do fluxo turístico.
Para começar, este ano, a taxa avança como "experimental", com a medida a ser testada apenas durante períodos de elevado acesso: estão previstos neste calendário "pontes" e feriados da Primavera e fins-de-semana de Verão. Os visitantes com mais de 14 anos terão de pagar a taxa.
“O objectivo é desincentivar os visitantes em certas alturas do ano e incentivar o turismo de alojamento, de acordo com a delicadeza e singularidade da cidade”, dizia, na altura de apresentação do projecto, o vereador Simone Venturini. "É uma experiência, temos medo, mas assim Veneza não morre, nem morrerá", comentou recentemente o presidente da câmara, Luigi Brugnaro, ao jornal Il Gazzettino.
A esta maré contínua de medidas de gestão do turismo não é alheia a "ameaça", recentemente renovada, da UNESCO de colocar Veneza na lista do Património da Humanidade em risco. Razões: os riscos do turismo de massas e dos distúrbios climáticos e ambientais. Um dos dilemas gigantes prende-se com os cruzeiros: decidiu-se por bani-los e desviá-los do centro histórico mas continuaram a aparecer, já que há dificuldades técnicas para alguns grandes barcos nos portos alternativos. Em Setembro, a UNESCO decidiu que ainda não era desta que a cidade aportava na lista do património em risco, mas a ameaça da cidade perder a divisa persiste.