Explosões perto de cemitério iraniano deixam 84 mortos durante cerimónia pela morte de Soleimani

A televisão do Estado do Irão relatou uma primeira explosão, e depois uma segunda, na cidade de Kerman, durante a cerimónia. Soleimani foi morto em 2020, por um drone dos Estados Unidos.

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Mural com imagem de Qassem Soleimani e a sua mãe em Teerão ABEDIN TAHERKENAREH/EPA
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Duas explosões perto de um cemitério iraniano onde se marcava o aniversário da morte do comandante dos Guardas da Revolução Qassem Soleimani deixaram 84 mortos e dezenas de feridos, segundo as autoridades do país, que disseram tratar-se de um “atentado terrorista”.

A televisão do Estado do Irão relatou uma primeira explosão, e depois uma segunda, na cidade de Kerman, durante a cerimónia. Soleimani foi morto em 2020, por um drone dos Estados Unidos, no aeroporto de Bagdad, no Iraque.

Um responsável citado pela agência IRNA disse que dois engenhos explosivos postos na estrada que levava ao cemitério tinham sido activados por controlo remoto por terroristas. Aparentemente o maior número de mortos aconteceu depois da primeira explosão, quando muitas pessoas tentaram ajudar feridos na primeira. Algumas das pessoas feridas foram levadas para Teerão por aviões fretados de emergência.

O chefe do sistema judiciário do Irão, Gholamhossein Mohseni-Ejei, declarou que os organismos de segurança, serviços secretos e militares do país estavam a colaborar numa investigação para determinar quem estava por trás das explosões.

O Irão disse que o ataque foi levado a cabo para “castigar” a sua oposição a Israel. O Estado hebraico não fez comentários, e duas fontes dos EUA disseram, sob anonimato, que a suposição inicial era de que Israel não estava envolvido no ataque, mas que mais provavelmente teria sido obra de um grupo como o Daesh, cita a Bloomberg.

O grupo que se autodenomina Estado Islâmico já atacou no Irão: em 2017 atingiu Teerão com dois ataques simultâneos, um no Parlamento e outro no mausoléu de Ruhollah Khomeini, matando 17 civis e deixando 43 feridos, lembra o diário britânico The Guardian.

O diário cita analistas dizendo que seria uma operação pouco habitual para o Estado hebraico – um ataque matando civis sem um alvo militar óbvio. Por comparação, a operação na véspera, em Beirute, atingiu um encontro do Hamas que decorria num prédio de vários andares e deixou seis mortos, todos do movimento, incluindo o seu “número dois”, mas não provocou vítimas além deles (Israel não confirmou nem desmentiu este ataque).

Imagens da explosão perto da campa de Soleiman mostradas pelos media estatais mostravam caos e feridos ensanguentados, incluindo crianças, pedindo ajuda ou gritando “deus nos ajude, toda a gente morreu”, cita o New York Times.

“As nossas equipas de resposta rápida estão a retirar os feridos, mas há ondas de multidões a bloquear as estradas”, disse Reza Fallah, o responsável pelo Crescente Vermelho na província de Kerman, à televisão estatal, cita a Reuters.

Soleimani comandava a Força al-Quds, a unidade dos Guardas da Revolução que se ocupa das acções militares no estrangeiro e das operações clandestinas. Foi Soleimani que orquestrou a estratégia de propagação da presença e do poder iraniano no Médio Oriente – o que levou a que fosse descrito por John Maguire, veterano agente da CIA, como “a personalidade operacional mais poderosa do Médio Oriente”. É uma figura reverenciada pelo regime e pelos iranianos que o apoiam.

Na sequência da guerra em Gaza, as forças apoiadas pelo Irão têm estado envolvidas em confrontos com Israel, com ataques dentro de zonas limitadas entre Hezbollah e Israel, e ataques dos rebeldes houthis do Iémen contra navios no mar Vermelho.

O líder do Hezbollah, movimento libanês apoiado pelo Irão, tinha marcado um discurso para esta quarta-feira à noite para assinalar o aniversário da morte de Soleimani. O discurso ganhou outra relevância depois do ataque em Beirute da véspera ter atingido o número dois do Hamas – algo que Nasrallah tinha dito antes que seria a ultrapassagem de um limite por Israel.

Notícia actualizada a 4.1.2024: o número de mortos no ataque no Irão foi de 84, segundo as autoridades iranianas, que reviram o número primeiro para 95, depois de terem indicado mais de cem mortos, e finalmente para 84.