Tamiflu faltou nas farmácias porque armazenistas deixaram acabar stocks

Grossistas não estavam a contar com pico de procura. Medicamento para gripe é barato e normalmente pouco utilizado, mas o reabastecimento já vai ocorrer entre esta quinta e sexta-feira.

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O medicamento Tamiflu tem estado em falta nas farmácias, mas já está a ser reposto e tem um genérico, o Ebilfumin Reuters/LEONHARD FOEGER
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O medicamento Tamiflu, indicado para o tratamento dos casos mais graves da gripe A, tem estado em falta em várias farmácias por todo o país porque os armazenistas, que não estavam a contar com o aumento da procura, deixaram acabar os stocks. No entanto, o reabastecimento já foi retomado e deve estar normalizado entre esta quinta e sexta-feira, segundo explicou ao PÚBLICO o Infarmed - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde e alguns armazenistas.

Ao que o PÚBLICO apurou, junto de várias fontes ligadas ao sector, como o medicamento é barato e, normalmente, pouco vendido, não compensa aos distribuidores terem grandes quantidades em armazém. A tendência crescente da circulação do vírus da gripe nos últimos dias trocou as voltas aos armazenistas e levou a queixas generalizadas quer de utentes quer de farmácias que não conseguiam o medicamento.

Nesta quinta-feira, Isabel Cortez, presidente da Associação de Farmácias de Portugal, confirmou ao PÚBLICO, que as farmácias suas associadas “não têm Tamiflu disponível para venda e também não conseguem fazer encomendas junto dos armazenistas, uma vez que estes não dispõem do medicamento”. O PÚBLICO também constatou que ao tentarem encomendá-lo através do sistema informático, várias farmácias acabavam por receber a indicação de que o Tamiflu estava esgotado ou indisponível, pelo menos até às 10 horas da manhã.

A Associação Nacional das Farmácias (ANF) confirmou “o aumento da procura” e “acima do previsto” do Tamiflu e do seu genérico” o Ebilfumin, da Actavis, sublinhando que esta quinta-feira tinha a informação de que as distribuidoras “estarão a repor os níveis de stock”.

Depois de o próprio laboratório Roche ter informado, através de um comunicado, que tinha disponível para entrega “aproximadamente 43 mil embalagens”, as encomendas por parte dos armazenistas dispararam. Aliás, em resposta ao PÚBLICO, a própria ADIFA, Associação de Distribuidores Farmacêuticos, que tem como associados alguns dos maiores armazenistas do país, informou também que “os distribuidores farmacêuticos aguardam que lhes seja entregue produto entre hoje e amanhã pelo laboratório, para reforço de stock”. A mesma resposta deu o Infarmed que disse que já tinha sido informado “que o circuito grossista já está a abastecer-se com o referido medicamento”.

Em resposta ao PÚBLICO, Hélder Mesquita, presidente do conselho de administração de um dos maiores distribuidores do país e associado da ADIFA, a Cooprofar Farmácia - Cooperativa dos Proprietários de Farmácia, explicou que “até ao passado dia 22” foram capazes de “satisfazer a procura que as farmácias manifestaram do produto Tamiflu”. Porém, deixaram de o conseguir fazer a partir do momento em que foram informados pelo laboratório produtor de Tamiflu, a Roche, que a partir do passado dia 18 e por um período de até ao próximo dia 2 de Janeiro interromperia a facturação e, consequentemente, o fornecimento generalizado de produto ao mercado”.

Helder Mesquita explicou ainda que, “perante a procura inesperada e excepcional de produto, nomeadamente na última semana", foi solicitado “ao laboratório para reconsiderar a sua posição, sendo que o mesmo informou, hoje mesmo que, excepcionalmente, satisfará as encomendas pendentes do mercado a partir do dia de amanhã, 29 de Dezembro”.

O mesmo responsável disse ainda que foi pelas perguntas feitas “pelo PÚBLICO que soube da quantidade de produto que o laboratório tem, porque não tem acesso a essa informação”. “Seguindo todas as boas práticas e respeitando todos os nossos procedimentos e também os externos, a Cooprofar, enquanto grossista e fornecedor de medicamentos, procura sempre ter todo o stock possível que permita satisfazer a procura pelas farmácias”, sublinhou Helder Mesquista, acrescentando que, “a Cooprofar está há 48 anos ao serviço das farmácias e dos cidadãos e trabalha sempre em parceria com as autoridades nacionais e reguladores”.

Na quarta-feira, a Roche disse que “o medicamento oseltamivir, (Tamiflu), indicado para a prevenção e tratamento da gripe (infecção por vírus influenza), está disponível em quantidade suficiente para abastecer com normalidade o mercado nacional, conforme necessidade dos doentes e respectiva prescrição médica”.

No mesmo comunicado, a farmacêutica explicou que “o medicamento está disponível para fornecimento normal e através dos canais habituais, não se tendo verificado qualquer situação de ruptura ou escassez de fornecimento ao circuito de abastecimento nacional”.

Esta quinta-feira, a Roche remeteu para o mesmo comunicado e acrescentou que "não há qualquer limite mínimo de encomendas e que todos os pedidos recebidos estão a ser respondidos de forma célere para responder às necessidades".

Fonte do sector também disse ao PÚBLICO que a maior parte dos médicos tem estado a prescrever o Tamiflu, ignorando que, tal como referiu a ANF, há um genérico no mercado o que poderia facilitar o acesso dos doentes a outro tratamento.

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