EUA entregam último pacote de ajuda militar à Ucrânia do ano no meio de incerteza
Ajuda internacional a Kiev é essencial para a Ucrânia suportar o esforço de guerra contra a Rússia.
O Departamento de Defesa dos EUA vai enviar o último pacote de apoio militar à Ucrânia de 2023, avaliado em cerca de 250 milhões de dólares, nos próximos dias, confirmou, na quarta-feira, o secretário de Estado da Defesa, Antony Blinken, numa altura em que Kiev está perto de ficar sem fundos para pagar salários e apoios sociais.
Num comunicado, a que o jornal Politico teve acesso, Antony Blinken confirma que os EUA vão fornecer à Ucrânia “até 250 milhões de dólares em armas e equipamentos, no âmbito do que já estava previamente definido”. De acordo com a mesma publicação, o pacote que será entregue nos próximos dias a Kiev contempla sistemas de defesa aéreos, munições para sistemas de rockets, munições de artilharia de 155 mm e 105 mm e mais de 15 milhões de cartuchos de munições.
A entrega do último pacote militar é marcada pela incerteza no que toca ao futuro do apoio norte-americano (os EUA são o país que mais tem ajudado militarmente a Ucrânia) à resistência de Kiev à invasão russa. O Presidente Joe Biden pediu ao Congresso que conceda mais 61 mil milhões de dólares em ajuda à Ucrânia, mas os republicanos recusam-se a aprovar a assistência sem um acordo com os democratas para reforçar a segurança ao longo da fronteira entre os EUA e o México.
Senadores de ambos os partidos, indica o Politico, estão a trabalhar para chegar a um acordo que permita desbloquear a ajuda à Ucrânia em 2024 em troca de um financiamento adicional para a segurança das fronteiras dos EUA, uma medida que está a ser trabalhada para apaziguar os republicanos, que estão a travar a renovação do apoio norte-americano a Kiev.
Neste sentido, a Casa Branca já advertiu que, sem uma dotação adicional, o financiamento disponível pelos EUA para apoiar a Ucrânia esgota-se no final do ano. “Ao longo deste ano, os EUA forneceram 34 pacotes de ajuda militar no valor de mais de 24 mil milhões de dólares... Estaremos sempre gratos por todo esse apoio”, disse o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, na quinta-feira, na rede social X.
Ucrânia assume que sem apoio do Ocidente deixa de pagar salários
Apesar da declaração do Presidente ucraniano, um relatório do Governo de Kiev, a que o jornal espanhol El País teve acesso, dá conta de que se a ajuda externa, nomeadamente por parte da UE e dos EUA, não for prolongada, em breve, cerca de dois milhões de funcionários públicos ficarão sem salário e o país deixará de pagar os apoios sociais a um milhão de pessoas durante o primeiro trimestre de 2024.
No documento que foi entregue a responsáveis da União Europeia e dos EUA, a Ucrânia pede que sejam libertados os 100 mil milhões de euros que continuam pendentes de aprovação devido a obstáculos políticos em Bruxelas e em Washington.
Na análise citada pelo diário espanhol, é sublinhado que, tendo em conta as despesas prioritárias para o sector da defesa e da segurança, assim como o reembolso da dívida pública, existe “um risco real de incumprimento das despesas” para o pagamento dos salários de mais de 1,4 milhões de trabalhadores abrangidos pelos orçamentos das instituições científicas e educativas, assim como 50 mil pessoas que trabalham em instituições públicas. Há ainda o risco de não pagamento da licença de maternidade a 700 mil pessoas e dos apoios sociais a 160 mil ucranianos que têm rendimentos mais baixos.
Aproveitando a indefinição que pauta o apoio ocidental à Ucrânia, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, disse, na quinta-feira, citado pela Reuters, que a estratégia dos países ocidentais para infligir uma derrota estratégica à Rússia “falhou completamente”. Numa entrevista a um grupo de vários órgãos de comunicação social russos, Lavrov disse que há sinais que demonstram que o Ocidente está modificar a estratégia face à Ucrânia.
“O Ocidente está realmente a mudar as suas tácticas – talvez até a pensar em clarificar a estratégia. Porque se a 'derrota estratégica da Rússia' é uma estratégia, perdoem-me a tautologia, então esta estratégia falhou miseravelmente”, disse Lavrov. “Há algumas abordagens, alguns sussurros: porque é que vocês (Rússia) não se reúnem com alguém na Europa que esteja pronto para falar, falar sobre a Ucrânia sem a própria Ucrânia?”, questionou Lavrov, que também reiterou que Moscovo atingirá todos os seus objectivos na Ucrânia.
Ao longo dos quase dois anos que dura o conflito no leste da Europa, Vladimir Putin tem insistido na ideia de que está disposto a negociar um acordo de paz com a Ucrânia, desde que o mesmo seja trabalhado nos termos definidos pela Rússia. No entanto, segundo a Reuters, que cita fontes da diplomacia norte-americana, o Presidente russo está à espera dos resultados das eleições norte-americanas de 2024 antes de dar qualquer passo no sentido de um acordo com a Ucrânia para o fim da guerra.