Para o fotógrafo aventureiro Jakub Rybicki, a maior aventura ainda está para vir

Fotógrafo, escritor de viagens e guia, o polaco Jakub Rybicki já escalou no Afeganistão e Tibete, pedalou pelo lago Baical e no Árctico, já deu muitas voltas. Mas “ainda há muito para explorar”.

bicicleta,protagonista,fotografia,viagens,fugas,turismo,
Fotogaleria
Jakub Rybicki no Exodus Aveiro Fest Nelson Garrido
bicicleta,protagonista,fotografia,viagens,fugas,turismo,
Fotogaleria
Rússia, Altai Jakub Rybicki
bicicleta,protagonista,fotografia,viagens,fugas,turismo,
Fotogaleria
Rússia, Altai Jakub Rybicki
Lago Baikal
Fotogaleria
Lago Baical, Sibéria JAKUB RYBICKI
bicicleta,protagonista,fotografia,viagens,fugas,turismo,
Fotogaleria
Lago Baical, Sibéria JAKUB RYBICKI
bicicleta,protagonista,fotografia,viagens,fugas,turismo,
Fotogaleria
Cuba JAKUB RYBICKI
bicicleta,protagonista,fotografia,viagens,fugas,turismo,
Fotogaleria
Cuba Jakub Rybicki
bicicleta,protagonista,fotografia,viagens,fugas,turismo,
Fotogaleria
Afeganistão Jakub Rybicki
bicicleta,protagonista,fotografia,viagens,fugas,turismo,
Fotogaleria
Afeganistão Jakub Rybicki
bicicleta,protagonista,fotografia,viagens,fugas,turismo,
Fotogaleria
Tibete Jakub Rybicki
bicicleta,protagonista,fotografia,viagens,fugas,turismo,
Fotogaleria
Irão JAKUB RYBICKI
bicicleta,protagonista,fotografia,viagens,fugas,turismo,
Fotogaleria
Gori, Geórgia JAKUB RYBICKI

O despertar para as viagens na natureza aconteceu em tenra idade, “aos três, quatro anos”, acompanhado dos pais. “Nos anos 90, a Polónia era um país pobre e, por isso, não viajávamos muito para o estrangeiro”, introduz Jakub Rybicki, nascido em 1985, na cidade de Poznań. O grande clique, conta, aconteceu em 2006, quando decidiu viajar de bicicleta desde a Polónia até à Estónia, cumprindo um total de 1700 quilómetros. “Foi uma altura dura para mim, porque tive uma lesão nas costas. O médico dizia para eu não pedalar, mas, passadas algumas semanas a viajar de bicicleta, descobri que as minhas costas já não estavam a doer”, testemunha o fotógrafo e escritor de viagens que diz ter descoberto que “as viagens de bicicleta de longa distância” são “uma espécie de meditação”. Desde então, nunca mais parou. Já andou a pedalar no lago Baical, na Sibéria, no Círculo Polar Árctico, na Gronelândia, entre outras paisagens, e a escalar montanhas. No fundo, adora aproveitar a natureza e ir a extremos.

Uma das suas aventuras foi, precisamente, a viagem de bicicleta no segundo maior lago do mundo, por onde andou a pedalar ao longo de três semanas e sujeito a temperaturas de 35 graus negativos. “Quando tens um casaco e sapatos apropriados, um bom creme na cara e estás a mexer-te, não tens frio. Já o dormir numa tenda, à noite, no gelo, não é tão confortável”, confessa em conversa com a Fugas, durante aquela que foi a sua estreia no Norte de Portugal — Jakub Rybicki ainda só tinha visitado o Alentejo, que amou, garantiu —, para participar na edição deste ano do Exodus Aveiro Fest. E o que pode levar alguém a sujeitar-se a essa falta de conforto? “És recompensado com algumas paisagens que muito pouca gente consegue ver e, para mim, enquanto fotógrafo, garanto fotos únicas”, explica.

No seu caso em particular, a audácia já lhe valeu umas quantas distinções — o seu trabalho fotográfico foi distinguido com vários prémios nacionais e internacionais — e tem ainda muitas pernas para andar. Em Março, vai voltar a viajar de bicicleta, da Índia ao Nepal, e ainda não perdeu a esperança de voltar à segunda montanha mais alta do mundo. “Já tentei e não cheguei ao cume. Faltavam cerca de 200, 300 metros”, conta. “Também adorava explorar grutas, mas para o fazer é preciso muito treino e eu não tenho tempo para o fazer agora. Já visitei algumas grutas — já estavam exploradas — e fascinou-me, porque é outro mundo”, acrescenta. Ao contrário de outros fotógrafos com os quais tinha acabado de trocar ideias à margem do encontro realizado em Aveiro, Jakub não concorda que esteja já “tudo fotografado” no mundo. “Nem todas as montanhas foram já escaladas, nem todas as cavernas foram já penetradas. Ainda há muitos espaços para explorar. Se nunca ninguém lá esteve, ainda é algo não fotografado”, argumenta.

Irão JAKUB RYBICKI
Afeganistão JAKUB RYBICKI
Sibéria JAKUB RYBICKI
Altai, Rússia JAKUB RYBICKI
Fotogaleria
Irão JAKUB RYBICKI

O prazer de fazer retratos

Para quem já escalou no Afeganistão e no Tibete, dormiu no gelo e entrou por várias cavernas, o medo faz parte da viagem. “Estou constantemente com medo. E qualquer aventureiro que eu conheça também está constantemente com medo. Ao preparar uma viagem, é preciso olhar para a longa lista de coisas que podem matar-nos e analisar como te podes livrar destes perigos”, testemunha. “Costumo dizer que os lagos gelados não são muito radicais, porque teria de ter muito azar para ser magoado ou morto durante essa viagem. Nessas zonas geladas, o único animal que pode matar-me é um urso e, se fizeres tudo correctamente, é muito pouco provável que sejas atacado por um”, observa. “Já nas montanhas, a lista de perigos é grande e, por isso, é que as montanhas são extremas.”

Sendo Jakub fotógrafo, o que está em causa não é apenas a aventura de explorar locais e paisagens. Tem de carregar o material fotográfico consigo e nem sempre tem tempo e condições para disparar. “E às vezes também falta a coragem”, admite, especificando com um cenário em concreto: “Estás muito quentinho, a dormir no saco de cama, e há uma aurora boreal a brilhar no céu e tu dizes: desta vez não, desculpa”. Mais complicado é quando estão em causa pessoas. “Na paisagem, cabe-te apenas a ti decidir se disparas ou não, mas quando fotografas pessoas, especialmente quando estás a fazer reportagem, não é só decisão tua. Também é decisão das pessoas”, refere o profissional que diz não acreditar “nesse estilo de fazer fotos sem permissão” e que garante encarar o retrato como “o mais alto nível da fotografia”. “Não digo que seja pior fotografar animais, paisagens, mas o que mais valorizo é um bom retrato”, frisa.

Foto
Ucrânia, fotojornalismo, "Ukraine on Fire" JAKUB RYBICKI

Mais do que o “desafio”, o que move este fotógrafo polaco é o facto de ter percebido que “corpo e mente trabalham de forma diferente nestas condições extremas”. “E isso ajuda-te em toda a tua vida”, assegura o também co-autor do podcast sobre viagens sustentáveis Dobra Podroz e co-fundador do Centro de Turismo Moderno, uma ONG dedicada à promoção e desenvolvimento do turismo sustentável. Jakub Rybicki recusa-se a impingir-nos uma qualquer forma de viajar. O caminho, acredita, deve ser feito de forma voluntária. “Para mim, a bicicleta é o meio ideal, mas não acho que toda a gente tenha de o fazer. Façam o que entenderem. O que nós estamos a tentar promover é uma reflexão em torno do turismo. Reflictam sobre as vossas viagens, pensem se o meio de transporte que vão usar é o ideal para vocês, para as pessoas do meio que vão visitar, para o ambiente... E talvez possam equacionar uma outra forma”, sublinha. Fica o desafio.

Foto
Jakub Rybicki no Exodus Aveiro Fest nelson garrido
Sugerir correcção
Ler 1 comentários