Poupança das famílias confirma fim da tendência de descida

Aumento do rendimento das famílias não encontra correspondência num aumento semelhante do consumo. Depois de cair a seguir à pandemia, taxa de poupança sobe pelo segundo trimestre consecutivo.

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Consumo está a registar crescimento moderado Nelson Garrido

A taxa de poupança das famílias voltou, pelo segundo trimestre consecutivo, a registar uma recuperação dos mínimos dos últimos 15 anos que tinha atingido no arranque de 2023. A maior prudência na hora de consumir num cenário de maior incerteza em relação à evolução da economia pode ser o motivo por trás deste resultado.

De acordo com os dados das contas nacionais publicados nesta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de poupança no período de 12 meses terminado em Setembro passado cifrou-se em 6,6%. Este resultado representa uma subida face aos 5,8% registados três meses antes, no final de Junho, e face aos 5,4% do final de Março, que tinham sido o valor mais baixo atingido em Portugal desde o ano de 2008.

Confirma-se assim a interrupção da sequência de descidas da taxa de poupança que se vinha verificando desde o início de 2021. Durante a pandemia, com as pessoas em casa e com menos possibilidades de adquirirem bens e serviços, a taxa de poupança em Portugal (à semelhança do que aconteceu noutros países europeus) subiu para valores muito acima do normal.

Nessa altura, o rendimento disponível das famílias diminuiu de forma ligeira, mas o consumo caiu muito mais, fazendo a taxa de poupança, que antes andava na casa dos 7%, disparar para um máximo de 13,8% nos 12 meses terminados em Março de 2021.

Desde esse momento, contudo, com o diluir da crise pandémica e o alívio nos confinamentos, a taxa de poupança começou gradualmente a regressar a valores mais habituais para Portugal. E em 2022, com a subida da inflação, não compensada imediatamente por um aumento da mesma magnitude dos rendimentos, a taxa de poupança caiu mesmo até aos 5,4%.

Agora, mostram os números do INE relativos às contas das famílias, assiste-se a uma nova inversão da tendência. As actualizações dos salários estão a levar em conta a inflação do ano passado e, por isso, em média, o rendimento disponível dos portugueses está a aumentar em termos reais, isto é, mais do que a inflação.

No entanto, a essa recuperação do rendimento disponível, não está a corresponder um aumento do consumo das famílias, que regista nesta fase variações reais próximas de zero.

É isto que faz com que a taxa de poupança esteja aos poucos a recuperar, tendo atingido agora os 6,8% do rendimento disponível.

Um movimento ascendente da taxa de poupança é habitual em momentos em que os consumidores passam a ser mais prudentes perante a perspectiva de uma deterioração da conjuntura. Nesta altura, para além da ameaça directa às finanças familiares que constitui a persistência das taxas de juro a níveis muito elevados, existe igualmente a perspectiva, tanto na Europa como em Portugal, de um período de estagnação económica, com o risco de entrada em recessão técnica a não poder ser colocado de lado.

Isto faz aumentar os níveis de poupança e acaba, por sua vez, por afectar os níveis de consumo, contribuindo ainda mais para a travagem da economia.

Nas suas últimas projecções para a economia portuguesa, o Banco de Portugal voltou a rever em baixa a sua previsão de crescimento para 2024, dando precisamente como principal explicação para o maior pessimismo a expectativa de uma variação mais moderada do consumo privado do que o esperado antes, num cenário de subida da taxa de poupança.

Os dados agora divulgados pelo INE mostram também que, por causa destas mudanças de comportamento das famílias, em conjunto com o maior excedente orçamental trimestral do Estado de que há registo desde pelo menos 1999, o saldo total da economia portuguesa com o exterior se tornou mais positivo.

Nos 12 meses terminados em Setembro, o excedente nas contas externas foi de 2,7% do PIB, mais do que os 1,7% que se registavam em Junho e uma inversão total do resultado face ao défice de 0,8% que se verificava há um ano, em Setembro de 2022.

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