CP suprime comboios no Algarve e não faz serviço rodoviário de substituição

Avarias no material circulante levaram empresa a suprimir 20 comboios em quatro dias. Só quatro comboios tiveram autocarros de substituição.

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A frota de automotoras a diesel no Algarve está envelhecida, mas a electrificação da linha não irá trazer grandes ganhos de velocidade Nuno Ferreira Santos
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As supressões de comboios voltaram ao Algarve, e com uma intensidade que faz recordar o período negro de 2018, em que as supressões eram diárias nas linhas em que a CP opera com material diesel. Entre 17 e 20 do mês corrente de Dezembro, a empresa suprimiu 20 comboios, sete dos quais entre Faro e Lagos e 13 entre Vila Real de Santo António e Faro. Só na passada quarta e quinta-feira foram suprimidos 15 comboios. Os passageiros de, pelo menos, 16 destes comboios ficaram literalmente em terra, pois a CP não assegurou serviço rodoviário de substituição.

Questionada pelo PÚBLICO, a empresa diz que “as supressões ocorreram devido a imobilizações do material automotor para fazer manutenção e foram agravadas por um acidente recente” quando, no dia 16 de Dezembro, numa passagem de nível em Olhão, uma automotora ficou danificada na sequência de um embate contra um automóvel.

Quanto à ausência de autocarros para suprir os comboios em falta, a CP diz: “Sempre que é possível, recorremos ao serviço rodoviário de substituição [mas] quando não é possível, encaminhamos os passageiros para o próximo comboio.” No entanto, parte destas supressões já era previsível, pelo que a empresa poderia ter, atempadamente, programado um serviço rodoviário alternativo. A CP, porém, diz que “muitas vezes há dificuldades em encontrar autocarros que cumpram os tempos e trajectos ferroviários”. Acresce que em 21 das 30 estações e apeadeiros do Algarve não há qualquer funcionário da CP ou da IP e por isso muitos passageiros ficam nas plataformas sem qualquer informação, à espera de um comboio que não chega.

A CP diz que a situação deverá ficar normalizada com a chegada, esta sexta-feira, de mais duas automotoras vindas do Porto e de Lisboa. Como, em virtude da época festiva, a CP vai suprimir dez comboios nos dias 24 e 25 de Dezembro, é praticamente seguro que o resto da operação se realizará sem problemas.

No Algarve, a CP opera com uma frota envelhecida composta por automotoras a diesel que entraram ao serviço entre 1965 e 1966. Em 1999, foram alvo de uma profunda remodelação que lhe prolongou o tempo de vida útil. Mas 24 anos depois as Unidades Duplas Diesel (UDD 450) estão de novo velhas e com problemas de manutenção, o que explica o elevado número de imobilizações em oficina.

A CP contava poder prescindir delas há já alguns anos, tendo em conta os planos de electrificação da rede ferroviária nacional, mas tem-se visto obrigada a mantê-las em circulação devido aos atrasos da IP na modernização das linhas. De acordo com o Ferrovia 2020, a Linha do Algarve (que já está electrificada entre Tunes e Faro) deveria ter os troços Vila Real de Santo António-Faro e Tunes-Lagos concluídos no primeiro semestre de 2021, mas só no segundo semestre desse ano é que as obras começaram no troço a Sotavento. No Barlavento, entre Tunes e Lagos, as obras só começaram em Junho de 2022. As duas frentes de obra estão atrasadas e a IP não se compromete com nenhuma data para a sua conclusão.

A própria CP, questionada pelo PÚBLICO sobre este assunto, respondeu: “Não possuímos informações adicionais sobre a conclusão das obras na Linha do Algarve.” Ainda assim, e como a intervenção em curso se limita praticamente à electrificação da linha sem intervir na infra-estrutura da via, os tempos de percurso não irão ser significativamente mais curtos porque as velocidades pouco irão aumentar. A única grande vantagem será a substituição de tracção diesel por tracção eléctrica, menos poluente, e com um maior grau de fiabilidade do material circulante, menos dado a avarias.

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