Gérard Depardieu enfrenta nova acusação de violação

Jornalista espanhola acusa o actor de a ter violado em 1995 . É a terceira acusação de violação sobre Depardieu, que poderá perder as insígnias da Legião de Honra atribuídas pelo estado francês.

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Uma reportagem da France 2 exibida dia 7 de Dezembro, Gérard Depardieu: A Queda do Ogre, abalou definitivamente a reputação do actor Reuters/ERIC GAILLARD

Um terceiro processo por violação, movido por uma jornalista espanhola, Ruth Baza, hoje com 51 anos, que acusa Gérard Depardieu de a ter violado em 1995. A ministra da Cultura francesa, Rima Abdul Malak, a anunciar um processo disciplinar para decidir sobre a eventual retirada da Legião de Honra atribuída ao actor em 1996. A sua estátua de cera a ser removida do Museu Grévin, em Paris, devido às reacções negativas dos visitantes e nas redes sociais.

Desde 2018, aquele que é um dos mais célebres actores do cinema francês, reconhecido à volta do globo, foi acusado de assédio e violência sexual por 13 mulheres, profissionais na área do cinema. Em 2020, a actriz Charlotte Arnould formalizou uma queixa, alegando ter sido violada por duas vezes por Depardieu – o caso continua em investigação. O actor negou todas as acusações e, apesar de abalada, a sua reputação enquanto tesouro do cinema francês não se desvaneceu. Mas tudo mudou há duas semanas.

Primeiro, nova acusação de assédio sexual, pela actriz Hélène Darras, que relata ter sido importunada repetidamente durante a rodagem do filme Disco (2017). No dia seguinte, 7 de Dezembro, a France 2, canal da televisão pública francesa, exibiu no programa Complément d’enquête a reportagem Gérard Depardieu: La Chute de L’Ogre ("Gérard Depardieu: A Queda do Ogre"), onde eram ouvidos testemunhos de assédio e se mostravam imagens, registadas no âmbito de um documentário sobre a participação do actor nas comemorações dos 70 anos do regime norte-coreano, em que é visto a proferir comentários obscenos sobre mulheres, a assediar uma tradutora, a sexualizar uma criança. A exibição destes materiais do documentário, tal como inscrito no título do mesmo, parece estar a precipitar a sua queda.

O diário catalão La Vanguardia noticiava esta terça-feira que a jornalista e escritora espanhola Ruth Baza apresentou entretanto queixa-crime por violação contra Depardieu. A situação que agora veio reportar terá acontecido em Paris, a 12 de Outubro de 1995, quando Baza, então com 26 anos, se deslocou à capital francesa para uma entrevista, ao serviço da revista Cinemanía. Depardieu, à época com 46 anos, terá surpreendido a jornalista logo no início do encontro. “De repente, ele pega-me ao colo”, relatou esta à AFP. “Começou a beijar-me a cara toda. Deu-me um beijo na boca e eu não me conseguia mexer. Tocou no meu corpo e nas minhas virilhas. Não me podia mexer e ele estava a beijar-me, a beijar-me.” Tratou-se, sublinha, de “uma intrusão sem qualquer consentimento”, que a deixou “paralisada”. Uma violação: “foi assim que a polícia o descreveu”, disse Baza.

O sucedido permaneceu durante anos apagado da sua memória, conta a jornalista, no que é um efeito comum nas pessoas que vivem um trauma como o descrito. Porém, ao ler um artigo, em Abril deste ano, sobre as acusações de assédio a Depardieu, as suas memórias começaram a reaparecer. São corroboradas, afirma, por notas pessoais escritas na altura e que reencontrou agora.

Apesar de ter poucas hipóteses de sucesso numa acusação, dado que o tempo decorrido desde o alegado crime já ultrapassou o prazo de prescrição definido pela lei francesa, Ruth Baza defende que decidiu ainda assim apresentar a queixa-crime de forma a que outras potenciais vítimas se sintam encorajadas a vir a público.

"Uma vergonha para a França"

Uma semana depois da exibição da reportagem da France 2, era noticiado que Gérard Depardieu teria abandonado o seu país havia já algumas semanas, instalando-se em Mont-Saint-Aubert, uma aldeia belga perto da fronteira francesa. As repercussões, entretanto, chegavam ao Estado francês. A ministra da Cultura, Rima Abdul Malak, que classificou o comportamento de Depardieu mostrado pela reportagem televisiva como “uma vergonha para a França”, anunciou a 15 de Dezembro, em declarações à France 5, que tendo em conta que a Legião de Honra “reconhece um homem, um artista, uma atitude e valores”, o conselho da mesma iria iniciar um processo disciplinar para decidir sobre a eventual suspensão ou retirada da distinção a Depardieu. Através dos seus advogados, o actor informou ter posta a medalha à disposição da ministra, questionando, porém, se esta não estaria “a desferir mais um golpe na já moribunda presunção de inocência", cita o Le Figaro.

Rima Abdul Malak defendeu contudo que os filmes de Depardieu devem continuar a ser vistos. “Penso que hoje em dia ninguém quer fazer uma homenagem ou uma noite de festa dedicada a Gérard Depardieu”, afirmou. Mas, acrescentou, “não vamos eliminar os seus filmes do nosso património, de forma alguma!”.

Certo é que a reacção do público ao documentário e às novas acusações levou a que o Museu Grévin, em Paris, tenha retirado da exposição permanente, na passada quinta-feira, a estátua de cera do actor ali instalada em 1981, uma entre as cerca de 250 reproduções de celebridades das artes, da política ou do desporto que a instituição expõe. Os responsáveis do museu justificam a decisão com as reacções negativas dos visitantes ao depararem-se com a estátua em tamanho real do actor e com as críticas manifestadas através das redes sociais.

Na mesma altura, Depardieu viu-lhe ser retirado título de cavaleiro da Ordem Nacional do Quebeque, que lhe havia sido atribuído em 2002 pela sua contribuição para o cinema de expressão francesa. Foi também destituído do título de cidadão honorário de Estaimpuis, na Bélgica.

Em resposta a esta sucessão de acontecimentos, vários membros da família de Gérard Depardieu, incluindo três dos seus filhos, classificam as acusações de que o actor é alvo como “uma cabala”. Num texto publicado no Journal du Dimanche descrevem-no como "rude, atrevido, gaulês, por vezes pesado, sim, mas não violento” e acusam: "Claro que ficamos muitas vezes chocados com os comentários de Gérard, mas o nosso pai/avô/tio está a ser alvo de uma cabala sem precedentes."

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