Caso gémeas: “Cunhas que salvam crianças não fazem mal a ninguém”, diz bispo José Ornelas

“Se isso é ser corrupto, então eu também quero ser corrupto”, referiu o bispo de Leiria-Fátima, referindo-se às duas gémeas luso-brasileiras tratadas no Hospital de Santa Maria.

Foto
Caso das gémeas "é uma história bonita para contar" no Natal, afirma bispo de Leiria-Fátima Maria Abranches
Ouça este artigo
00:00
02:09

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, afirmou esta terça-feira que é contra as "cunhas", mas se salvarem vidas "não fazem mal a ninguém", referindo-se às duas gémeas luso-brasileiras tratadas no Hospital de Santa Maria, caso em que há suspeitas de favorecimento.

"Sou totalmente contra as "cunhas", mas "cunhas" que salvam crianças, não fazem mal a ninguém. Não é por aí que enferma o SNS [Serviço Nacional de Saúde], não é por aí que enferma a corrupção. Antes fosse", disse em conferência de imprensa de apresentação da sua mensagem de Natal.

José Ornelas abordou esta caso dizendo que gostaria de ver "neste Natal contada a história bonita" do salvamento das duas crianças.

"Da parte dos comentários que tenho ouvido, são poucos os comentadores que têm falado das duas meninas. No Natal, é uma história bonita para contar", disse.

José Ornelas prosseguiu: "Eu gostava de contá-la assim: Havia duas meninas que estavam a ponto de morrer, não tinham salvação. Então, ouviram dizer que havia médicos e havia um tratamento que podia salvá-las. E o que é que eles fizeram? Foram a tudo. No SNS, marcavam-lhe consulta para daqui a um ano. Mas houve gente que se apressou. Fosse quem fosse, não interessa. Se isso é ser corrupto, aqueles que ajudaram, então eu também quero ser corrupto".

Sublinhou, ainda, que "estas meninas desapareceram das notícias para ficar tudo aquilo que foi à volta, como se isso fosse o mais importante".

O caso duas crianças gémeas residentes no Brasil que entretanto adquiriram nacionalidade portuguesa e vieram a Portugal em 2019 receber o medicamento Zolgensma para a atrofia muscular espinhal, com um custo total de quatro milhões de euros, foi divulgado pela TVI, em Novembro.

O assunto está a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) e é objecto de uma auditoria interna no Hospital de Santa Maria.

Marcelo Rebelo de Sousa, que já entregou documentação à PGR sobre o assunto e confirmou que o seu filho o contactou sobre a necessidade de tratamento das crianças, negou ter tido qualquer intervenção no processo.