Norte não é todo igual e os resultados dos PISA deixam-no claro

Interior tem muito piores resultados do que o litoral, puxando para baixo a média da região. Pandemia pode ter agudizado estas desigualdades, sugerem os dados do estudo da OCDE.

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Resultados dos estudantes do Norte no PISA e nos exames nacionais não são tão distintos como parecem Rui Soares (arquivo)
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Em cada novo ano lectivo, o Norte emerge quase sempre como a região que mais se destaca pela positiva nas notas dos exames nacionais. Mas no PISA (Programme for International Student Assessment), o grande estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), os resultados dos alunos nortenhos estão longe de ser os melhores. O fenómeno explica-se pelas desigualdades entre o seu litoral e o interior, que vinham de trás, mas que podem ter sido agudizadas em resultado da pandemia.

Nos exames do 9.º ano de 2022, o distrito de Braga teve a melhor média nacional. No ensino secundário, foi o Porto a ficar no topo. Daí que, aquando da divulgação do último ranking das escolas, o PÚBLICO reflectisse sobre os bons resultados na região. De resto, têm sido escolas da região a dominar os primeiros lugares da lista dos melhores desempenhos nas provas. Já nessa altura se apontava que o fenómeno se concentrava no eixo entre o Grande Porto e Braga, o que volta a verificar-se nos PISA, cujos resultados foram divulgados na semana passada.

A explicação para a aparente divergência nos resultados dos alunos nortenhos pode, afinal, ser bastante simples: “A unidade territorial não é a mesma”, notam Tiago Neves e Gil Nata, investigadores do Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Universidade do Porto. “Quando falamos dos bons resultados do Norte, não é do Norte todo. Há diferenças dentro da região”, concorda Luís Catela Nunes, professor da Nova School of Business and Economics (SBE).

Nos PISA 2022, a região Norte é a terceira melhor do país a Matemática (a disciplina em “foco” nesta edição), com 473 pontos, menos oito do que o Centro, a mais bem colocada a nível nacional. Nas outras dimensões estudadas pela OCDE, o desempenho nortenho é ainda pior: é a quarta região tanto na Leitura (a 13 pontos da Madeira), como nas Ciências (com menos dez do que o Centro).

As primeiras comparações entre os desempenhos regionais no PISA, divulgados pelo Instituto de Avaliação Educativa ao mesmo tempo que o relatório internacional, usam dados relativos às NUT II, as sete grandes regiões em que o país se divide administrativamente. A OCDE divulgou, entretanto, as bases de dados completas do estudo de 2022, que permitem conhecer os desempenhos dos alunos por sub-regiões (NUT III).

Numa primeira análise desses indicadores, Luís Catela Nunes encontra sustentação para a sua análise. Se a região do Cávado (onde está Braga), que consegue 483 pontos a Matemática, e a Área Metropolitana do Porto (477) têm resultados acima da média nacional (que foi de 472), também é verdade que Trás-os-Montes (425) e Alto Tâmega (428) são duas das três piores regiões do país no PISA 2022.

Comparando estes resultados com os do último exercício do PISA, em 2018, encontram-se também na região Norte quatro das seis regiões onde os desempenhos mais recuaram. Os já referidos exemplos do Alto Tâmega e Trás-os-Montes perderam, respectivamente, 48 e 38 pontos. Também as sub-regiões do Alto Minho (menos 41) e Ave (menos 40) descem muito face à avaliação anterior.

A intenção destas comparações é perceber “até que ponto a pandemia afectou mais algumas regiões do que outras”, explica Catela Nunes. A análise preliminar sugere que “sim”, ainda que investigador da Nova SBE vá aprofundar este estudo ao longo dos próximos meses.

Estas diferenças regionais dentro do Norte já eram identificadas no estudo “Da Desigualdade Social à Desigualdade Escolar nos Municípios de Portugal”, coordenado por Catela Nunes e que foi publicado pelo Edulog, think tank para a Educação da Fundação Belmiro de Azevedo, em Julho, com os concelhos do interior, especialmente os transmontanos, a saírem-se bem pior do que os do litoral da região.

Os próprios resultados dos exames nacionais reflectem esta mesma realidade. Nos exames nacionais do ensino secundário, o Porto (12,13) e Viana do Castelo (12.01) são os distritos com médias mais elevadas, mas Vila Real (11,45) e Bragança (11,25) ficam abaixo da média nacional – que foi de 11,63.

O fenómeno é semelhante no caso das provas do 9.º ano – realizadas por estudantes com idades mais próximas daqueles que respondem ao PISA, que é aplicado a jovens com 15 anos. O melhor resultado é o do distrito de Braga – 54,3 pontos, numa escala até 100, que depois é convertida numa classificação de 0 a 5. Viana do Castelo está em segundo e o Porto em quinto. Mas, mais uma vez, os distritos de Vila Real (48,9) e Bragança (48,6) têm resultados inferiores à média nacional, que foi de 50 pontos.

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