“Seria muito útil”: Assis lança Costa para o Conselho Europeu

Francisco Assis foi a surpresa da campanha interna do PS ao dar o seu apoio a Pedro Nuno Santos, mas considera que “não há nenhuma divergência ideológica profunda” a separá-lo de José Luís Carneiro.

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Francisco Assis confessa que gostaria de ver Costa na presidência do Conselho Europeu Maria Lopes, Tomás Anjinho Chagas
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O actual presidente do Conselho Económico e Social, antigo líder parlamentar do PS, ex-eurodeputado, deputado e autarca, um socialista mais à direita, revê-se quase totalmente no candidato Pedro Nuno Santos. Questionado sobre um futuro em Belém, diz, em entrevista ao programa Hora da Verdade, do PÚBLICO e da Rádio Renascença, que “não há portas”. E sobre António Costa, desenha-lhe um futuro europeu.

Depois de tudo o que aconteceu e da forma como o Governo caiu, o PS tem que ter na sua liderança um rosto que consiga entender-se com o PCP e o Bloco?
O PS tem que ter um líder que fale directamente aos portugueses, que apresente um programa ao país, que diga claramente quais as prioridades do PS, que inicie um novo ciclo na vida nacional e na vida do PS. E que esteja disponível para um diálogo com todos os partidos democráticos em Portugal.

No passado houve essa experiência e Pedro Nuno Santos teve um papel muito activo nesse Governo em que o PS teve o apoio parlamentar do PCP e do BE. Ele faz uma avaliação bastante positiva desse processo. Eu tenho uma avaliação histórica distinta, fui contra essa solução por razões essencialmente de ordem política e moral.

Na altura não me pareceu a melhor solução para o país. Mas estamos em 2023, as pessoas já sabem que o PS tem essa disponibilidade, conhecem as vantagens e as desvantagens da solução e, portanto, o quadro político é completamente diferente. Mas eu não o apoio pelas ligações que ele possa ter. Eu apoio-o pelo que ele é, pelas suas posições, pela sua energia, pela sua inteligência, pela sua qualidade política e no essencial das suas ideias, com as quais concordo nos aspectos fundamentais.

Foi tão crítico da "geringonça". Já não é uma pedra no sapato? Teria hoje a mesma posição?
Hoje, nem eu nem ninguém pode ignorar o que se passou nestes anos em Portugal: ao fazer-se essa coligação, alterou-se a realidade política portuguesa e, a partir desse momento, a possibilidade de se repetir uma solução dessa natureza existe.

Já não é impossível.
Não é impossível. Tem vantagens e desvantagens. Eu acho que tem que ser é avaliado no seu momento e por isso não antecipo o que o PS deve fazer num quadro pós-eleitoral.

Em abstracto, não preferia um candidato que fizesse entendimentos com o PSD do que um candidato que fizesse entendimentos com a esquerda?
Não estamos a escolher o candidato que vai fazer entendimentos com este ou com aquele; estamos a escolher o secretário-geral do PS.

É inevitável que isso seja um factor?
E esse candidato [Pedro Nuno Santos], a meu ver, neste momento, é o que garante maior unidade no PS, o que não é de somenos importância, porque estamos a poucos meses de travar uma disputa eleitoral com a obrigação de nos apresentarmos coesos perante o país.

Nós devemos fugir dessa discussão e de saber quem é mais moderado ou radical, se este se entende melhor com este ou aquele, e concentrarmo-nos no essencial: saber o que é que o PS vai propor em matéria de política económica, política orçamental, das reformas que são necessárias do Estado social, em matéria de política europeia e de política externa.

A "geringonça" teve um efeito: deu poder ao PS. E quando se tratou da questão do poder, foram poucos os que ficaram de fora. E eu fiquei de fora. Há pessoas que dizem ‘Eu estou disponível para ficar de fora’, mas há outras que podem dizer ‘eu fiquei’. Há uma certa diferença entre manifestar uma intenção e apresentar um dado biográfico. Eu fiquei.

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Francisco Assis Daniel Rocha

Continua a haver aí alguma mágoa?
É evidente que quando uma pessoa fica muito isolada num partido e teve uma vida muito ligada ao partido há sempre alguma mágoa. Nesse período, lembro-me que fui a um congresso em que fiz uma intervenção com uma sala em silêncio absoluto. E nalguns sectores havia sinais de hostilidade. O isolamento na política cria alguma mágoa, mas é assim que tem que ser. Eu sempre tomei posições e nunca fugi a elas.

Essa sua participação pode ir até que ponto? Está disponível para integrar um governo de Pedro Nuno Santos, ser novamente deputado, encabeçar uma lista às europeias?
Isso não vou responder por uma razão muito simples: eu nunca falei com o Pedro Nuno Santos sobre nenhuma dessas questões.

Porquê?
Porque estou farto de ouvir… há sempre tendência para a maledicência. Eu não negociei absolutamente nada como nunca negociei nada ao longo da minha vida política. Já apoiei vários candidatos a secretário-geral que perderam, estive fora da política partidária e tencionava permanecer. Agora as coisas precipitaram-se, estas eleições são difíceis e entendi que tinha esta obrigação.

O partido não corre esse risco de ficar dividido a partir de domingo?
Não. O PS sempre teve candidatos fortes e até disputas mais acérrimas do que esta. A disputa entre António Costa e António José Seguro foi muito mais violenta do que está a ser esta. Agora, claro que foi porque as circunstâncias o permitiam, porque as eleições se colocavam num horizonte mais distante.

Porque é que eu entendo que não vai haver risco nenhum? Porque não há nenhuma divergência ideológica profunda a separar uns dos outros. Aliás, os dois candidatos fizeram parte dos mesmos governos; nunca se lhes notou divergências absolutas em matérias fundamentais. Claro que eles têm perspectivas um pouco diferentes, são pessoas diferentes, mas no essencial não há aqui nenhuma divergência insuperável, pelo contrário.

Falando em futuro político: o de António Costa acabou?
Não. Isso parece-me evidente que não acabou.

E por onde passa?
Também não lhe sei responder. Esse é o tipo de discussão que neste momento não serve o debate político nacional, porque não é isso que se vamos discutir nas eleições legislativas e não serve o PS. É evidente que ele vai ter, pode ter um papel na vida política, porque é novo.

Na política europeia?
Eu aí até vou um bocadinho mais longe do que tenho ido. Pessoalmente, gostaria de o ver, se possível, na presidência do Conselho Europeu. Não por ser português, socialista e a pessoa de quem sou amigo, independentemente das nossas diferenças. É porque acho que ele seria muito útil ao projecto europeu. É uma área em que foi absolutamente firme, adquiriu um enorme prestígio na Europa, não apenas na sua família política, mas nomeadamente junto da direita democrática europeia.

Numa altura em que há a ameaça de crescimento de extremismos a nível europeu, em particular extremismos de direita, parecer-me-ia interessante que uma personalidade com estas características – um europeísta convicto, um democrata que consegue falar com todas as grandes famílias políticas democráticas e com uma grande experiência – pudesse presidir ao Conselho Europeu. Não estou a ver, entre os primeiros-ministros em funções, alguém que tenha um perfil tão adequado ao desempenho daquela função quanto o António Costa.

E para Belém?
Isso ainda é muito cedo para discutir quem é o candidato a Presidente da República. Essa é uma discussão que se terá na altura própria e certamente que avançará alguém da nossa área política.

Não o Francisco Assis?
Nem sim nem não. Nessas coisas sou cauteloso porque…

Não fecha a porta.
Não é não fechar a porta. Nem fecho, nem… Não vou fechar nem abrir uma porta que neste momento não existe.

A minha disponibilidade neste momento é, de facto, inesperadamente para mim próprio, voltar à vida político-partidária. Não sei em que termos, repito, não falei nem sequer pensei muito sobre isso e até tenho evitado pensar. Terei que tomar dentro de alguns dias algumas decisões, mas a verdade é que o fundamental neste momento, e esse é o apelo que eu faço aos candidatos: não perder de vista que este processo democrático interno termina dentro de poucas horas ou poucos dias. A seguir, o partido tem que estar unido, tem que estar coeso.

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