Cinco exemplos do uso terapêutico de substâncias psicadélicas
Estas substâncias têm em comum o facto de serem ilícitas e de possuírem propriedades terapêuticas. SICAD divulga dossier sobre a sua utilização clínica.
Psilocibina
A substância psicadélica mais estudada nas últimas duas décadas é a psilocibina (presente em diferentes espécies de cogumelos), que tem sido usada para lidar com casos de depressão resistente ao tratamento, de ansiedade em pessoas com diagnósticos potencialmente terminais, e na redução do consumo de tabaco e álcool. Os resultados mais promissores indicam melhorias mais rápidas do que as registadas nos tratamentos mais convencionais da depressão. Os ensaios clínicos, actualmente em curso, da psicoterapia assistida quer por psilocibina, quer por MDMA, receberam a designação breakthrough therapy pela Food and Drug Administration, a agência reguladora do medicamento nos EUA.
MDMA
Estudos clínicos com MDMA têm encorajado o seu uso psicoterapêutico em doentes com perturbação de stress pós-traumático. Os clínicos sugerem que esta substância pode catalisar o processamento terapêutico, permitindo que os pacientes permaneçam emocionalmente envolvidos enquanto revisitam experiências traumáticas sem se sentirem oprimidos. MDMA, juntamente com a psilocibina, serão, talvez, as primeiras substâncias a serem aprovadas para uso terapêutico. Tanto o MDMA como a psilocibina estão a ser estudados em ensaios clínicos de fase 3. A Austrália foi o primeiro país a autorizar a terapia com MDMA para o stress pós-traumático.
Cetamina
Há mais de duas décadas que a cetamina, um fármaco formalmente aprovado como anestésico, tem sido utilizada na depressão resistente ao tratamento, por intermédio de ensaios clínicos controlados por placebo e por tratamento activo, nos serviços públicos de psiquiatria. É dito no dossier Drogas: utilizações terapêuticas, do SICAD, que “uma das limitações para a reapreciação das indicações formais da cetamina por parte das agências regulatórias dos medicamentos tem sido a ausência de ensaios clínicos de fase 3, limitação parcialmente explicada pelas dificuldades de financiamento de ensaios clínicos dessa dimensão, que são tipicamente desenvolvidos e financiados pela indústria farmacêutica, para o estudo de moléculas patenteadas”. Como é uma molécula genérica, de domínio público, a sua investigação em ensaios clínicos está primariamente dependente de financiamento público.
Canabinóides
O uso de canabinóides no tratamento da acne, psoríase, prurido, parkinson, alzheimer, fibromialgia, síndrome de Gilles de la Tourette, e também em algumas doenças oncológicas, tem tido resultados considerados auspiciosos. Os efeitos adversos daquela que é a substância ilícita mais consumida em todo o mundo “não parecem ter grande expressão, sobretudo quando são utilizados em contexto de terapêutica com monitorização clínica”, refere o dossier do SICAD. Os autores do respectivo capítulo, Ricardo Dinis-Oliveira e Cristina Aguiar, chamam a atenção para o facto de não se poder “’vender a ideia’” de que a cannabis é o elixir da vida eterna ou a cura para todos os males”. A cannabis terá sido usada no tratamento da malária, dor e dismenorreia desde 2700 a.C.
Ayahuasca
A ayahuasca tem sido referida como eficaz na diminuição da sintomatologia depressiva e associada ao luto, graças à dimetiltriptamina (presente na decocção sul-americana ayahuasca). O seu potencial terapêutico não foi ainda devidamente apurado. Estudos referem que o uso terapêutico da ayahuasca pode ser eficaz e trazer benefícios no bem-estar emocional e na saúde mental, no tratamento de desequilíbrios e de dependências de substâncias. Conhecida por caapi ou yagé, a ayahuasca é um dos inúmeros psicotrópicos vegetais usados pelas populações indígenas da bacia Amazónica, por motivos medicinais ou religiosos.