Fogos florestais do Canadá emitiram 23% do CO2 mundial a nível de incêndios
Relatório anual do Copérnico mostra que incêndios florestais no Canadá foram a “história mais significativa” em 2023. Ao todo, mundo emitiu 7700 megatoneladas de dióxido de carbono nestes fenómenos.
Os fogos que assolaram o Canadá durante a Primavera e o Verão representaram 23% das emissões mundiais de carbono provenientes de incêndios florestais entre o início do ano e 10 de Dezembro, de acordo com um relatório divulgado nesta terça-feira pelo Copérnico, um serviço da União Europeia para a observação de vários parâmetros meteorológicos e de ambiente da Terra. Os fogos que ocorreram na Grécia, durante o Verão, foram outro marco de 2023 no que toca a incêndios.
“De acordo com as estimativas do Serviço de Monitorização da Atmosfera do Copérnico (CAMS, na sigla inglesa), os incêndios florestais em 2023 geraram cerca de 2100 megatoneladas de emissões de carbono”, adianta um comunicado do Copérnico. Ou seja, o equivalente a 7700 megatoneladas de dióxido de carbono (CO2). Daquele total, 480 megatoneladas de carbono (ou 1761 megatoneladas de CO2) foram emitidas apenas no Canadá, o que equivale a 23% do total, graças a incêndios que queimaram uma área de 180.000 quilómetros quadrados, cerca de o dobro de Portugal continental.
Os novos dados foram libertados no último dia (oficial) da COP28, a cimeira do clima que está a decorrer no Dubai, onde se discute se a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis passa a ser um objectivo escrito em um dos documentos principais que saem da convenção.
Embora os incêndios florestais emitam CO2 e outros gases responsáveis pelo efeito de estufa, como o metano, a queima de combustíveis fósseis para a produção de energia é o maior responsável pelo aumento da concentração daqueles gases na atmosfera, que está na origem do aquecimento global. Por comparação, as emissões humanas apenas de CO2 em 2022 foram de 38.522 megatoneladas de CO2, sete vezes mais do que as emissões provenientes de incêndios contabilizadas em 2023.
No entanto, o aquecimento global e as alterações climáticas estão a produzir condições mais favoráveis para os incêndios florestais através de ondas de calor mais fortes e períodos de seca mais extensos. Tudo leva a crer que 2023 vai ser o ano mais quente desde que há registo, com uma temperatura média 1,4 graus acima dos níveis pré-industriais. Além disso, se uma floresta queimada der lugar a um ecossistema menos diverso – como ocorre em certas regiões da Amazónia, onde a savana está a ganhar terreno –, então pode deixar de ser um sumidouro de carbono como era até ali, dificultando ainda mais a luta contra as alterações climáticas.
“No serviço CAMS, monitorizamos de perto os incêndios que ocorrem na vegetação em todo o mundo ao longo do ano, para melhor compreender como é que as temporadas de incêndio podem estar a mudar e o que isso pode significar para a qualidade do ar em todo o mundo”, explicou Mark Parrington, um cientista sénior do CAMS, num comunicado do Copérnico.
O CAMS faz estas medições através do Sistema Global de Assimilação de Incêndios desde 2003. Para isso, usa os satélites Terra e Aqua da NASA. Ambos os satélites têm um espectro-radiómetro de imagem capaz de medir a radiação emitida pelos incêndios à superfície da Terra. Ou seja, o calor que eles libertam. A partir deste valor, o CAMS consegue produzir uma estimativa da intensidade de cada incêndio e também das suas emissões. Isso permitiu obter os valores associados à intensa temporada de fogos do Canadá e aos outros incêndios que ocorreram em todos os continentes.
“Os fogos florestais no Canadá foram a história mais significativa das emissões dos incêndios em 2023”, adiantou Mark Parrington. A quantidade de emissões deste ano foi cinco vezes maior do que a média que aquele país emite devido aos incêndios florestais. “A escala em grande parte do país, e a persistência com incêndios que ocorreram de Maio até Outubro, foi a um nível que nunca tinha sido registado (incluindo registos mais longos do que aqueles que temos). Os impactos na qualidade do ar da América do Norte, e o facto de que a Europa pôde experienciar céus enevoados como um resultado daqueles incêndios é uma clara indicação do seu significado”, acrescentou.
A Grécia também sofreu o maior incêndio que alguma vez se registou na União Europeia. O país viveu um intenso fogo em Julho na ilha de Rodes e outro na região de Evros, perto da fronteira da Turquia, em Agosto, que queimou uma área superior ao Parque Nacional Peneda-Gerês. As emissões produzidas nos incêndios naqueles dois meses foram de 7,34 megatoneladas de CO2, o terceiro valor mais alto para aquele país, após os anos de 2007 e 2021.
Outro caso de referência obrigatória foi o incêndio na ilha de Maui, no arquipélago do Havai, nos Estados Unidos, que matou pelo menos 115 pessoas, de acordo com o Copérnico. No Hemisfério Sul, destacam-se os incêndios no Chile, em Fevereiro, que destruíram uma área de 2700 quilómetros quadrados, mataram 26 pessoas e feriram outras 1000.