O futuro da Universidade está no cruzamento entre disciplinas e conhecimentos

Em mais uma conferência que assinala os 70 anos da FEP, Augusto Santos Silva manifestou-se preocupado com a imposição das métricas que atrofiam a produção científica

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Augusto Santos Silva (Presidente da Assembleia da República e Professor da FEP), Olga Pombo (Professora Jubilada de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa), António M. Figueiredo (Fundador da Quaternaire Portugal e ex-Professor da FEP) e Miguel Pestana de Vasconcelos (Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas e Professor da Faculdade de Direito da UP)
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Miguel Pestana de Vasconcelos, Olga Pombo, Augusto Santos Silva, António M. Figueiredo e Samuel Silva
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A universidade de futuro tem de ser interdisciplinar. “A produção da novidade exige a contaminação, a irrequietude, a curiosidade, o interesse por outra coisa, abrir a janela para ouvir o vento que passa ou ler um romance”, descreveu a professora jubilada da Universidade de Lisboa, Olga Pombo. Uma ideia que foi confirmada pelo Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, para quem as várias disciplinas não podem estar fechadas em prateleiras, têm de se “interceptar e cruzar”.

Os dois docentes foram os oradores principais da conferência "A Interdisciplinaridade e o Futuro da Universidade", que se realizou a 4 de Dezembro na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP). Esta conferência, a terceira no âmbito das celebrações dos 70 anos da instituição e que se prolongam até Maio de 2024, homenageou o “compromisso da FEP com a abordagem interdisciplinar, que remonta à sua criação, em 1953”, referiu o Professor Óscar Afonso. Para o director da FEP, “a universidade não pode preparar [os alunos] em isolamento”, pelo que “o sucesso de um economista e de um gestor dependem de uma noção abrangente de mundo.”

O Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, que se definiu como um “beneficiário líquido” desta tradição interdisciplinar da FEP, explicou que a “interdisciplinaridade não é adicionar em prateleiras os saberes de uma ciência e de outra, significa o cruzamento entre disciplinas diferentes, autónomas, distintas, mas que se interceptam, se cruzam.” No seu caso particular, de licenciado em História, doutorado em Sociologia e trabalhando – é Professor Catedrático – numa faculdade de Economia, “uma das bases que me permite dialogar com o meu colega economista é que há linguagens comuns.”

António M. Figueiredo recordou a sua experiência na construção de uma nova Economia, a Economia do Desenvolvimento e em que tinha de estar atento à Sociologia, à Antropologia, à História, à Ciência Política. “A interdisciplinaridade é quando uma disciplina se deixa interferir por uma outra e há um esforço de recursos para produzir conhecimentos”, definiu o antigo Professor da FEP, também ele convidado para a conferência enquanto comentador, tal como Miguel Pestana de Vasconcelos. O Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas, igualmente antigo docente na FEP, sublinhou que “é muito importante para um aluno de economia, de gestão, perceber como é que pensa um sociólogo, um jurista, um gestor. Não pensam exactamente da mesma forma. É importante que saiba que há formas diferentes de ver uma mesma realidade.”

A ideia errada do facilitismo

Olga Pombo recordou que “hoje, o matemático puro existe, mas ele interessa-se por Economia, Psicologia, Filosofia ou Ciências da Computação. E esse interesse, essa ligação, essa paixão, vão ser muito importantes para o desenvolvimento da sua disciplina. As disciplinas precisam de arejar – uma coisa a que se chama heurística”, explicou a Professora, acrescentando que “a universidade, que sempre foi pluridisciplinar, com uma organização hierárquica, medieval e que depois se começou a abrir e a formar vários departamentos, hoje vê-se na necessidade de ser interdisciplinar.” É que, sublinhou, “a interdisciplinaridade é o futuro da universidade. Foi a sua raiz num certo sentido e, de alguma maneira, é o seu futuro. E pobre da universidade que não faça isso.”

O uso desta palavra começou na própria universidade, “na boca dos estudantes em Maio de 68, mas tem sido muito maltratada e banalizada”, descreveu, a Professora jubilada, apontando “um dos erros fundamentais”, que é é pensar-se que, com a interdisciplinaridade “se abandonam as disciplinas e entramos numa de cultura geral ou de outra coisa qualquer de facilitação das disciplinas.” É exactamente o oposto: “As disciplinas exigem rigor, estudo, muito esforço para se ter uma competência dentro da disciplina.”

Um alerta: as métricas atrofiam o pensamento

A finalizar a conferência, Augusto Santos Silva manifestou-se “bastante preocupado” com a métrica que contabiliza, em vez de avaliar qualitativamente os processos de conhecimento científico: “É uma espécie de métrica, na qual os financiamentos, as carreiras se baseiam quase exclusivamente e que é uma formatação que atrofia o pensamento propriamente dito, quer na ciência, quer na diversidade intracientífica. Isso é preocupante, porque aumenta o risco de redundância e ortodoxia”, referiu, concluindo que “a interdisciplinaridade tem de ser fomentada por uma universidade que preze a ciência como uma forma de pensamento e que despreze a ciência como uma forma mecânica.”

O Professor e Presidente da Assembleia da República recordou que “quando olhamos para os saltos paradigmáticos, muitos deles resultaram de pensamento, de pessoas que ousaram pensar coisas novas.”

Um alerta: as métricas atrofiam o pensamento

A finalizar a conferência, Augusto Santos Silva manifestou-se “bastante preocupado” com a métrica que contabiliza, em vez de avaliar qualitativamente os processos de conhecimento científico: “É uma espécie de métrica, na qual os financiamentos, as carreiras se baseiam quase exclusivamente e que é uma formatação que atrofia o pensamento propriamente dito, quer na ciência, quer na diversidade intracientífica. Isso é preocupante, porque aumenta o risco de redundância e ortodoxia”, referiu, concluindo que “a interdisciplinaridade tem de ser fomentada por uma universidade que preze a ciência como uma forma de pensamento e que despreze a ciência como uma forma mecânica.”

O Professor e Presidente da Assembleia da República recordou que “quando olhamos para os saltos paradigmáticos, muitos deles resultaram de pensamento, de pessoas que ousaram pensar coisas novas.”