Funcionário da UE preso no Irão arrisca pena de morte

Diplomata da União Europeia foi detido em 2022 e é acusado de espionagem para Israel.

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Johan Floderus num tribunal em Teerão Amir-abbas Ghasemi/MIZAN/WANA
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O primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, exigiu na segunda-feira a libertação imediata do funcionário da União Europeia (UE) Johan Floderus da prisão no Irão. O homem, de nacionalidade sueca, foi detido no aeroporto de Teerão, em Abril de 2022, e é acusado de espionagem para Israel e por "corrupção na Terra", um crime que pode levar à pena de morte. A sentença deverá ser conhecida na próxima semana.

"Johan Floderus é acusado de medidas alargadas contra a segurança do país, de cooperação alargada entre os serviços secretos e o regime sionista e de corrupção na Terra", podia ler-se na agência noticiosa iraniana Mizan, no domingo, de acordo com o jornal The Guardian. Na acusação é ainda detalhado que Floderus tinha reunido informações sobre os programas nucleares e de enriquecimento do Irão, realizando "projectos que beneficiariam Israel".

Segundo a APA, a agência de notícias do Azerbaijão, são ainda apontadas alegadas ligações ao grupo Mujahedin do Povo, o principal grupo de oposição ao regime iraniano. Floderus é ainda acusado de estar a montar uma rede de agentes para os serviços secretos suecos no Irão. A sentença, diz a APA, deverá ser conhecida no dia 19 de Dezembro.

As relações entre a Suécia e o Irão são de grande tensão desde 2019, quando a Suécia prendeu Hamid Nouri, um antigo funcionário iraniano, acusando-o da execução em massa e tortura de prisioneiros políticos na década de 1980.​ Foi, em Julho de 2022, condenado a pena de prisão perpétua. Hamid Nouri recorreu da sentença e, segundo escreve a agência Reuters, espera-se uma decisão do tribunal de recurso durante a próxima semana.

Nesta segunda-feira, Ulf Kristersson exigiu a libertação imediata de Floderus, por se tratar de uma "detenção completamente arbitrária". "Exigimos a libertação imediata", disse durante uma conferência de imprensa. Durante o fim-de-semana, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Suécia, Tobias Billstrom, confirmou que o julgamento do diplomata já tinha começado em Teerão. O ministro disse que a Suécia tinha enviado um representante para o tribunal, mas que lhe foi recusado o direito de participar no julgamento. "A Suécia solicitou o direito de estar presente quando o julgamento for retomado", disse o responsável, citado pela Reuters.

Também a família do diplomata sueco se manifestou, acusando o Irão de uma detenção "sem qualquer justificação", diz a Reuters. Ao jornal The Guardian, o pai de Johan, Matts Floderus, disse que o filho estava a partilhar uma cela, sem acesso a chamadas telefónicas ou livros e com pouca alimentação. "Estamos profundamente preocupados e dizemos isto uma e outra vez. Ele foi detido de forma arbitrária. Não fez nada de mal e deve ser libertado e autorizado a deixar o país", apelou o pai do detido.

Diplomacia de reféns

O caso de Floderus foi tornado público pelo jornal norte-americano The New York Times em Setembro. "Um cidadão sueco que trabalha para o corpo diplomático da UE está preso no Irão há mais de 500 dias, o que faz dele uma importante moeda de troca para Teerão, que tenta obter concessões do Ocidente", escreveu o diário. O jornal destacava, então, que o caso tinha sido mantido em segredo pelas autoridades suecas e da UE, no que será mais uma tentativa do Irão de fazer "diplomacia de reféns".

Depois da publicação do caso, Ylva Johansson, comissária europeia para os Assuntos Internos, para quem Floderus trabalhou, disse que estavam a ser feitos todos os esforços para o libertar. Ao jornal The Guardian, em Setembro, Johansson disse que o sueco estava a trabalhar na sua equipa há dois anos e que tinha passado para outra equipa porque queria trabalhar para a delegação da UE no Afeganistão. A responsável europeia disse que o homem tinha sido detido quando viajava a título pessoal com amigos.

Grupos de defesa dos direitos humanos e governos ocidentais têm acusado o Irão de procurar concessões políticas de outros países através de detenções com base em acusações de segurança que podem ter sido falsificadas. Por seu lado, Teerão afirma que as detenções são feitas tendo por base o código penal do país. Em Agosto, escrevia o New York Times, os EUA desenharam um acordo com o Irão para a libertação de cinco norte-americanos em troca de seis mil milhões de dólares em receitas petrolíferas, assim como a libertação de iranianos detidos nos EUA.

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