Costa despede-se da AR e anuncia apoio à adesão da Ucrânia à UE
“Que seja o primeiro dia do resto da vossa vida e que sejamos tão felizes nas vidas que teremos a seguir como nas vidas que exercemos ao longo destes anos”, disse o primeiro-ministro.
Já formalmente exonerado, António Costa despediu-se esta segunda-feira da Assembleia da República, naquele que foi o seu último debate enquanto primeiro-ministro no Parlamento, dizendo que foi “uma grande honra” ter sido líder do Governo três vezes, ministro noutras três vezes e ainda deputado em seis ocasiões.
O primeiro-ministro saudou todas as bancadas, “sem qualquer excepção”, lembrando que o Parlamento “é feito de controvérsia, de contraditório, às vezes mais vivo, outras vezes menos vivo”, e garantiu que, se “melindrou” alguém, não o fez "intencionalmente" e que, se foi melindrado por algum deputado, já o esqueceu.
Aos parlamentares que vão ser reeleitos, desejou uma “continuação de bons mandatos” e aos que vão abandonar a Assembleia da República disse esperar que “seja o primeiro dia do resto” das suas vidas. “Que sejamos tão felizes nas vidas que teremos a seguir como nas vidas que exercemos ao longo destes anos”, rematou. Os deputados do PS e alguns deputados do PSD aplaudiram António Costa de pé.
O presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, aproveitou para “agradecer” ao líder do Governo “toda a disponibilidade para a fiscalização por parte da Assembleia da República” e “toda a solidariedade” que existiu entre os dois órgãos.
Antes, o primeiro-ministro anunciou que Portugal vai apoiar a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) no próximo Conselho Europeu de 14 e 15 de Dezembro, em que os líderes europeus vão tentar tomar uma decisão sobre o início das negociações para a integração ucraniana no projecto comunitário. E assinalou que espera que saia dessa cimeira“"um compromisso da UE com as expectativas que criou à Ucrânia”.
Costa alertou, ainda assim, que esse processo de adesão tem de ter em conta as candidaturas dos países dos Balcãs Ocidentais, em relação aos quais diz que também é “necessário e possível dar passos em frente”, e que deve ser “acompanhado passo a passo pela reforma interna da UE”.
Quanto à revisão intercalar do quadro financeiro plurianual, embora considere que não será “particularmente significativa”, admitiu esperar que se possa alcançar o “essencial”, como “a intocabilidade dos envelopes nacionais para a política de coesão e para a política agrícola” ou “dotar a Ucrânia de um quadro previsível e estável de financiamento”.
Costa antevê vitória do PS em Março
Durante o debate preparatório do próximo Conselho Europeu, que serviu também de campanha aos partidos, o primeiro-ministro defendeu ainda a “geringonça” e garantiu que o actual ciclo político vai continuar com a vitória dos socialistas nas próximas eleições legislativas antecipadas. Mas também deixou avisos aos antigos parceiros, o PCP e o BE, ao alertar que não vão conseguir parar de “definhar” se continuarem a fazer do PS o seu “inimigo principal”.
“Este ciclo político pode ter começado com uma derrota do PS, mas vai seguramente prosseguir com uma vitória do PS no próximo dia 10 de Março”, afirmou, respondendo às críticas do PSD, que acusou os socialistas de terem começado a governação dos últimos oito anos com uma derrota nas eleições de 2015 e de agora terminarem “como sabemos”.
A deputada Catarina Rocha Ferreira (PSD) criticou ainda o PS por se ter aliado a partidos “contra a construção europeia” e de se preparar agora para “voltar a dar a mão ao PCP e ao BE” e eleger um “líder que quer fazer tremer as pernas dos banqueiros”, referindo-se a Pedro Nuno Santos. “Esse registo com o PSD não vai acontecer”, vincou, sublinhando que o partido de Luís Montenegro quer “virar a página para defender a Europa”.
Em resposta, António Costa considerou que aquilo que os últimos oito anos mostraram foi a “derrota da direita” e que a sua “visão da Europa da austeridade” foi “esmagada” pela governação do PS. “A vossa receita foi um fracasso e a alternativa da esquerda foi vitoriosa”, afirmou, garantindo que a “atitude de Portugal com a Europa mudou” porque “deixámos de estar de joelhos e em posição subserviente e passámos a estar numa posição construtiva”.
Questionado pela IL sobre futuros entendimentos à esquerda, não se quis pronunciar sobre o futuro do PS, mas, quanto ao passado, considerou que nenhum dos ex-parceiros do PS “sacrificaram a sua identidade” nem o Governo “sacrificou um milímetro”.
Mas, apesar dos elogios à “geringonça”, o primeiro-ministro avisou os partidos da esquerda, o PCP em particular, de que é um “problema para a democracia portuguesa e para o conjunto da esquerda” os comunistas compararem o PS à direita porque “é importante que outras correntes [da esquerda] não continuem a definhar e sejam capazes de se afirmar”. Algo que, diz, “nunca conseguirão continuando a eleger o PS como inimigo principal”.
“Devia reflectir um pouco. Quanto mais vezes o PCP diz que o PS é igual ao PSD, CDS, IL e Chega, menos os portugueses acreditam no PCP”, alertou, em resposta às críticas da líder da bancada, Paula Santos, para, a seguir, defender que “a direita significa corte de salários e pensões”, ao contrário da “governação do PS apoiada pelo PCP”.