Conflito Hamas-Israel tornou o ano sangrento para os jornalistas
Este ano, 94 jornalistas foram mortos, 68 deles no conflito. Federação Internacional de Jornalistas fala em “massacre” e pede à comunidade internacional que assuma as suas responsabilidades.
A guerra Hamas-Israel é a mais mortífera desde que a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) começou a sua contabilização em 1990. Dos 94 jornalistas mortos até esta altura do ano, 68 (72%) morreram desde 7 de Outubro, quando o Hamas atacou Israel e Israel começou a bombardear a Faixa de Gaza em retaliação. O conflito no Médio Oriente é grande parte responsável por uma média arrepiante: mais de um jornalista morto por dia nos últimos dois meses. A continuar assim, superar-se-á a centenas de jornalistas mortos até 31 de Dezembro.
No relatório, publicado esta sexta-feira para antecipar o Dia Internacional dos Direitos Humanos, que se assinala no domingo, a IFJ pede às autoridades internacionais que assegurem o respeito pelo direito internacional e envidem todos os esforços para “pôr um ponto final ao massacre de jornalistas em Gaza”.
“A comunidade internacional, especialmente o Tribunal Internacional de Justiça, deve assumir as suas responsabilidades e investigar exaustivamente e, se for caso disso, instaurar processos contra aqueles que ordenaram e executaram ataques contra jornalistas”, pede a IFJ no relatório.
O conflito em Gaza não tem comparação com nenhum outro dos últimos 33 anos no que diz respeito ao perigo para o trabalho dos jornalistas. A mortandade atingiu “um ritmo e uma escala” sem precedentes, sublinha a IFJ no relatório.
Como refere o presidente da organização, Dominique Pradalié, no site da organização, “nunca foi tão imperativo ter um novo padrão global de protecção dos jornalistas e a sua aplicação efectiva como agora”. É por isso que “a IFJ exige uma acção global urgente para pôr termo a este derramamento de sangue”, porque o que se está a passar em Gaza é que “os jornalistas têm sido alvo do Exército israelita”.
No seu site, sob o título “Guerra em Gaza: os jornalistas estão a ser atacados”, a organização tem a listagem dos 68 profissionais que morreram cumprindo o dever de informar. Os primeiros, logo a 7 de Outubro: os israelitas Yaniv Zohar, fotógrafo do jornal Israel HaYom; Ayelet Arnin, editor da emissora pública israelita (KAN); Shai Regev, editor do TMI, secção de notícias de celebridades do jornal Maariv; e Roee Idan, fotógrafo do Ynet, site do diário Yedioth Ahronot; e os palestinianos Mohammad Jarghoun, da Smart Media; Ibrahim Lafi, da agência de notícias Ain Media; e Mohammad Al-Salhi, fotojornalista da agência Fourth Authority. O último que figura na lista, Hassan Farajallah, da Al Quds TV, morreu no dia 3 de Dezembro.
Além de israelitas e palestinianos, fazem ainda parte desta lista fúnebre três jornalistas libaneses: o vídeo-jornalista da Reuters Issam Abdallah, morto a 13 de Outubro, e o repórter Farah Omar e o operador de câmara Rabih Me’mari, da Al Mayadin TV, mortos a 20 de Novembro.
Para além de Gaza, a Ucrânia tem sido o outro cenário perigoso para o trabalho jornalístico, com pelo menos três mortos a registar, um ucraniano, um russo e um francês. O mesmo número de mortos que se registaram na Síria e no México, onde a violência ligada aos cartéis tem sido cruel para a imprensa. Mesmo assim, a quantidade de jornalistas mortos na América do Norte e do Sul este ano (nove) desceu substancialmente em relação a 2022, quando foram 29.
Também houve jornalistas mortos no continente asiático — Afeganistão (2), Filipinas (2), Índia (1), China (1) e Bangladesh (1) — e em África — Camarões (2), Sudão (1) e Lesoto (1).
No entanto, não fosse a guerra Hamas-Israel e este ano até teria sido melhor do que 2022 e 2021 para os jornalistas. Se não contarmos os 68 mortos desse conflito, os 26 jornalistas mortos no resto do mundo seriam uma redução substancial em relação aos 67 de 2022 e mesmo aos 47 de 2021.
A IFJ contabiliza também no relatório 393 trabalhadores de órgãos de comunicação social detidos este ano, a maioria deles na China e Hong Kong (80), seguindo-se a Birmânia (54), Turquia (41), Rússia e Crimeia ocupada (40), Bielorrússia (35) e Egipto (23).