Actores aprovam contrato com estúdios em Hollywood por maioria esmagadora

Aprovado o contrato entre o sindicato de actores SAG-Aftra e os estúdios de Hollywood. Negociações duraram três semanas depois de uma greve de 118 dias. Cláusula sobre IA continua a ser polémica.

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Membros do Writers Guild of America (WGA) em greve protestam em frente aos escritórios da Netflix em Julho deste ano Reuters/MIKE BLAKE
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O contrato negociado entre sindicato dos actores SAG-Aftra e a aliança dos estúdios de Hollywood AMPTP foi aprovado esta quarta-feira, 6 de Dezembro, com 78,33% dos votos, uma margem esmagadora, apesar da insatisfação com cláusulas relativas a inteligência artificial, IA. A direcção do SAG-Aftra anunciou os resultados algumas horas após o fim das votações, que duraram três semanas depois de uma greve de 118 dias que paralisou Hollywood.

“Hoje fechámos um dos capítulos mais importantes na história recente da indústria do entretenimento”, disse a presidente do sindicato, Fran Drescher, que deu a cara pela luta por um contrato com melhores condições de trabalho para os actores, numa declaração conjunta com o negociador principal, Duncan Crabtree-Ireland. “Este contrato é uma enorme vitória para os actores trabalhadores e marca o início de uma nova era para a indústria”, consideraram, salientando os aumentos salariais, melhor compensação com o streaming e protecções relativas à inteligência artificial.

Mas a forma como o acordo aborda esta utilização de IA na indústria, nomeadamente réplicas digitais dos actores, levou 21,67% dos milhares membros do sindicato que participaram a votar não. A actriz portuguesa Kika Magalhães, que vive em Los Angeles desde 2016, fez isso mesmo, explicando à Lusa que as provisões do contrato não defendem os interesses dos actores, sobretudo daqueles que não têm poder de negociação. “Um actor vai fazer um casting [audição] e os produtores perguntam se aceita que façam a sua réplica digital. Se o actor disser que não, podem não lhe dar o papel”, exemplificou, antes de a votação se concluir.

Ao contrário do que acontece no contrato alcançado pelo sindicato dos actores (WGA) e a aliança dos estúdios, aqui não há uma especificação de que os artistas têm de ser humanos. Isso abre a possibilidade de que a representação, seja visual ou apenas com voz, seja feita por actores sintéticos — isto é, réplicas digitais, possibilitadas pelo avanço recente da IA. No caso dos argumentistas, está especificado que os escritores têm de ser humanos.

O contrato ratificado esta quarta-feira estará em vigor durante os próximos três anos, o que para o artista de iluminação português Afonso Salcedo, que trabalhou no mais recente filme da Disney WishO Poder dos Desejos, é um bom prazo para perceber como a tecnologia vai evoluir.

O comunicado do sindicato referiu que votaram 38,15% dos cerca de 150 mil membros. Com o fim da greve e a luz verde para novas produções, não se espera um regresso em força do trabalho até ao ano novo, o que significa que em 2024 deverá haver menos filmes e séries do que nos anos anteriores.