A localização de Vendas Novas para a construção do novo aeroporto de Lisboa é a escolha mais recomendada se se tiver em conta apenas aspectos ambientais, de acordo com o novo relatório da Comissão Técnica Independente (CTI) que avaliou oito localizações para o futuro aeroporto. O Campo de Tiro de Alcochete, que a nível global integra a solução favorita da CTI, vem logo atrás. Mas para as organizações ambientais que estiveram presentes nesta terça-feira no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa, onde foi apresentado o relatório, o mais importante foi o chumbo da opção do Montijo.
“Congratulamo-nos veemente com a demonstração de inviabilidade das soluções que continham o Montijo”, disse ao PÚBLICO Acácio Pires, ambientalista da Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, acrescentando que com este relatório passa a haver instrumentos de decisão inéditos. “Achávamos que os factores ambientais deviam ter mais peso do que tiveram, mas finalmente vai ser possível comparar as diferentes soluções a partir dos critérios definidos” por “pessoas qualificadas”, constatou.
A avaliação ambiental que atravessa a quarta parte do relatório síntese, publicado nesta terça-feira no site AeroParticipa, olhou para vários aspectos: os impactos na saúde, quer a nível da poluição atmosférica, quer a nível do ruído; nas áreas naturais classificadas, montados e avifauna; nos solos agrícolas, águas superficiais e subterrâneas; e ainda os riscos de sismos, inundações, acidentes industriais e incêndios.
“Esta a avaliação indica que as [opções] que integram Vendas Novas seguida do Campo de Tiro de Alcochete são as mais favoráveis”, lê-se no relatório.
Dentro das oito opções estudadas para a localização do aeroporto (Portela + Montijo; Montijo + Portela; Alcochete; Portela + Santarém; Santarém; Portela + Alcochete; Vendas Novas; Portela + Vendas Novas), Vendas Novas e Alcochete são as melhores em termos de impacto para a saúde humana, por estarem em regiões com pouca população. Além disso, não têm impacto em zonas protegidas, como era evidente no Montijo, que estava em cima do Estuário do Tejo. Por outro lado, são seguras a nível de riscos naturais e tecnológicos, ao contrário de Santarém e da Portela.
Porém, não há opções perfeitas, tal como aludiu Rosário Partidário, líder da CTI, durante a apresentação do relatório. Nesse sentido, Vendas Novas e Alcochete têm pontos negativos. Por exemplo, são as localizações menos favoráveis ao montado. Existem 42.000 sobreiros que ficam em risco com as instalações em Alcochete – e não os 250.000, como foi referido – e 38.900 em Vendas Novas. Além disso, a solução em Alcochete pode ter bastante impacto nas águas superficiais e de profundidade, já a de Vendas Novas terá impacto nas águas superficiais. Vendas Novas também se posiciona melhor em relação à avifauna do que Alcochete.
Sobre o impacto nos sobreiros, Acácio Pires explica que os ecossistemas florestais não faziam parte das quatro linhas vermelhas que as associações ambientalistas tinham definido no documento que enviaram como contributo para a produção do relatório: o cumprimento da legislação sobre o ruído, as áreas protegidas, as rotas de voo da avifauna e a vulnerabilidade a inundações.
O facto de as florestas estarem ausentes das linhas vermelhas explica-se com um conceito de permanência de um determinado ecossistema. “Não podemos deslocar as áreas húmidas do Tejo e do Sado, as aves circulam ali de forma permanente”, argumentou, referindo-se a duas zonas classificadas. Já uma floresta de sobreiros “é possível de se reconstruir” noutro lugar.