Uma perspetiva farmacêutica de 2023

Algumas das já antigas reivindicações dos farmacêuticos foram atendidas. Refiro-me à renovação da terapêutica crónica e à campanha de vacinação sazonal contra a gripe e a covid-19.

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O ano de 2023 viu, finalmente, uma maior integração dos farmacêuticos comunitários e das farmácias no sistema de saúde português, com mais soluções e serviços a passarem por estes profissionais de saúde na resolução de problemas relacionados com a saúde e terapêutica dos utentes.

Algumas das já antigas reivindicações dos farmacêuticos foram atendidas, indo ao encontro daquilo que era do interesse das próprias pessoas, que acorriam já anteriormente às farmácias pela maior comodidade e proximidade. Refiro-me à renovação da terapêutica crónica e à campanha de vacinação sazonal contra a gripe e a covid-19.

O sucesso da atual campanha de vacinação é incontestável: em menos de dois meses os farmacêuticos, nas farmácias comunitárias, administraram mais de 3,5 milhões de vacinas. E isto sem comprometer o serviço habitual destas, garantido o acesso equitativo e seguro às terapêuticas dos seus utentes, aliviando sobremaneira as unidades do Serviço Nacional de Saúde que estariam adstritas a esta campanha, nomeadamente os centros de saúde. Tal alívio permite uma maior eficiência destes serviços de cuidados primários que, por certo, será vantajosa tanto em termos de recursos económicos como humanos para o SNS. Ao mesmo tempo, as vantagens para os utentes passam pela maior comodidade, menor absentismo laboral e maior proximidade, mantendo ou melhorando o nível de prestação do serviço e a sua segurança.

Quanto à renovação da terapêutica crónica, será melhor começar por esclarecer, tendo em conta a forte campanha publicitária lançada, mas que presta um pobre serviço em termos de comunicação e cria falsas expectativas no utente, que de momento foi implementada uma primeira fase deste projeto e ainda não existe uma verdadeira “renovação da terapêutica crónica” pelos farmacêuticos. Existe sim uma nova e útil ferramenta, com maior acesso a dados do utente, especificamente ao histórico das suas receitas médicas, o que permite aos farmacêuticos aceder às receitas eletrónicas do utente mesmo que ele não as tenha consigo ou que as tenha perdido. Necessitando apenas do consentimento do utente, do seu número de utente do SNS e que este tenha o seu número de telemóvel associado a esse número, é possível recuperar prescrições antigas.

Ao mesmo tempo, as regras de prescrição e dispensa de medicamentos foram alteradas, sendo agora prescrito pelo médico um tratamento durante 12 meses e não um número fixo de embalagens, que poderia ou não ser suficiente para esse período. Assim, é garantido o fornecimento da terapêutica na quantidade suficiente para cumprir a posologia prescrita, podendo ser dispensada de cada vez a quantidade suficiente para dois meses de tratamento. Após esses 12 meses, e caso o utente não consiga nova consulta médica entretanto… vamos ver.

Ao dia de hoje, se o utente não tiver uma prescrição válida, com embalagens disponíveis, mesmo que no seu histórico de prescrição esteja determinada terapêutica, não existe lugar a renovação da terapêutica, leia-se dispensa de medicamentos habituais com comparticipação. Assim, resta esperar que uma efetiva renovação da terapêutica crónica pelos farmacêuticos esteja para breve.

Estes novos serviços implicaram um maior acesso aos dados de saúde dos utentes pelos farmacêuticos, dado que para além do histórico de prescrições médicas foi também disponibilizada a consulta, parcial, ao histórico vacinal destes para permitir a segurança e eficiência da campanha de vacinação. Além disso, o próximo passo já anunciado será a criação de canais de comunicação efetivos entre os farmacêuticos e os prescritores e, espera-se, acesso a mais dados de saúde relevantes para assim se poder oferecer um maior e melhor acompanhamento dos utentes, bem como uma maior segurança e eficácia das suas terapêuticas, tal como há muito é pedido pelos farmacêuticos.

É por isso de louvar a abertura dos decisores políticos (mais vale tarde do que nunca) e o trabalho de todos os farmacêuticos envolvidos, pois pela sua habitual boa resposta aos desafios que lhes são lançados, perspetiva-se que em 2024 continuem a ser alargados os serviços disponibilizados nas farmácias. Seja por desenvolvimento dos já referidos, seja por uma maior implementação da entrega dos medicamentos hospitalares em proximidade, onde se incluirá medicamentos oncológicos, e também por uma maior intervenção em situações clínicas ligeiras, atuando e fornecendo tratamento eficaz, de forma normalizada e de acordo com protocolos terapêuticos, ou triando e referenciando os casos mais sérios para as unidades de saúde adequadas, indo assim, mais uma vez, ao encontro de soluções anteriormente apontadas pelos farmacêuticos para garantir maior comodidade ao utente e maior sustentabilidade do nosso sistema de saúde.

Um Feliz Ano Novo.

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