Renováveis, metano, nuclear: os acordos paralelos em curso na COP28

Mais de 100 países apoiam compromisso de triplicar a energia limpa para reduzir a utilização de combustíveis fósseis. Grupo mais pequeno de países planeia aumentar a energia nuclear.

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A Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas de 2023 (COP28), que decorre até 12 de Dezembro, deverá acolher um dos maiores números de participantes, com mais de 70.000 EPA/ALI HAIDER
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Os governos fizeram uma série de anúncios sobre energia este sábado, na cimeira da ONU sobre o clima, em Dubai, onde os países estão sob pressão para apresentar planos para travar o aumento ininterrupto das emissões que aquecem o planeta. O compromisso de triplicar a capacidade de produção de energia renovável até 2030 deverá obter o apoio de mais de 110 países, com alguns a pressionarem para que o acordo final da cimeira COP28 o inclua como um objectivo global.

A União Europeia, os Estados Unidos e os Emirados Árabes Unidos, anfitriões da COP28, têm vindo a angariar apoio para o compromisso, com a ideia de que o aumento da capacidade renovável ajudará os países a afastarem-se dos combustíveis fósseis poluentes. "Mais de 110 países já aderiram ao compromisso", afirmou a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na cimeira COP28. "Apelo a todos para que incluam estes objectivos na decisão final da COP."

Porém, a questão de saber se os governos e as empresas irão mobilizar os enormes investimentos necessários para atingir o objectivo é uma questão em aberto.

A implantação de energias limpas, incluindo projectos de energia solar e eólica, tem aumentado nos últimos anos. Mas a subida dos preços dos materiais, as restrições laborais e as perturbações na cadeia de abastecimento obrigaram a atrasos e cancelamentos de projectos nos últimos meses, custando a promotores como a Orsted e a BP milhares de milhões de dólares em amortizações.

A inclusão do acordo na decisão final da cimeira da ONU sobre o clima exigiria um consenso entre os quase 200 países presentes. Embora a China e a Índia tenham manifestado o seu apoio à triplicação das energias renováveis até 2030, nenhum dos dois países confirmou que apoiaria o compromisso global - que associa o aumento da energia limpa à redução da utilização de combustíveis fósseis.

A África do Sul, o Vietname, a Austrália, o Japão, o Canadá, o Chile e Barbados estão entre os países que já aderiram à iniciativa.

Energia Nuclear

Mais de 20 nações assinaram uma declaração este sábado com o objectivo de triplicar a capacidade de energia nuclear até 2050, com o enviado dos EUA para o clima, John Kerry, a dizer que o mundo não pode chegar ao "zero líquido" sem construir novos reactores.

"Não estamos a argumentar que esta será absolutamente a alternativa a todas as outras fontes de energia", afirmou Kerry durante a cerimónia de lançamento da COP28. "Mas... não é possível chegar a 2050 com emissões líquidas nulas sem algum nuclear, tal como não é possível chegar lá sem alguma utilização da captura, utilização e armazenamento de carbono", acrescentou.

A capacidade nuclear mundial situa-se actualmente em 370 gigawatts, com 31 países a explorarem reactores. Triplicar essa capacidade até 2050 exigiria um aumento significativo de novas aprovações - e de financiamento.

A declaração de sábado, assinada pela França, Bélgica, Grã-Bretanha e Coreia do Sul, também compromete os países a tomar medidas para mobilizar investimentos para este sector.

Reduzir combustíveis fósseis

Uma das decisões centrais que as nações enfrentam na COP28 é a de chegar a acordo, pela primeira vez, sobre a eliminação gradual do consumo global de combustíveis fósseis. A queima de carvão, petróleo e gás para produzir energia é a principal causa das alterações climáticas.

O projecto de compromisso relativo às energias renováveis feito recentemente apelava ao "abandono progressivo da energia do carvão" e ao fim do financiamento de novas centrais eléctricas alimentadas a carvão.

A França disse que iria reunir um grupo de nações para pedir à OCDE que medisse os riscos climáticos e financeiros associados ao investimento em novos activos de carvão, para dissuadir os financiadores privados de apoiarem os projectos. O Kosovo e a República Dominicana, utilizadores de carvão, também concordaram em desenvolver planos para eliminar gradualmente a sua energia a carvão.

De acordo com uma análise do grupo de reflexão Ember, triplicar as fontes limpas, como a energia eólica e a energia solar, e duplicar as poupanças de eficiência energética, seria suficiente para cobrir 85% das reduções de combustíveis fósseis necessárias nesta década para cumprir os objectivos climáticos globais.

Os objectivos aumentarão a pressão sobre as nações ricas e as instituições financeiras internacionais para desencadear os investimentos maciços necessários para atingir 11 000 gigawatts de energia renovável até 2030 - em particular, reduzindo o elevado custo do capital que tem impedido os projectos de energia renovável em África e noutros países em desenvolvimento.

"Ainda existe um desfasamento entre as nossas potencialidades e as nossas limitações para atrair investimento", afirmou Najib Ahmed, consultor do Ministério do Clima da Somália. África recebeu apenas 2% dos investimentos globais em energias renováveis nas últimas duas décadas, segundo a Agência Internacional de Energias Renováveis.

Emissões de metano

Enquanto muitos dos anúncios deste sábado se centravam no fornecimento de energia para o futuro, cerca de uma dúzia de instituições filantrópicas de grande envergadura concentraram os seus esforços num dos principais poluentes climáticos - as emissões de metano.

Os grupos filantrópicos, que incluem o Bezos Earth Fund, a Bloomberg Philanthropies e a Sequoia Climate Foundation, afirmaram que investirão 450 milhões de dólares nos próximos três anos para ajudar os países a lançarem planos nacionais de combate ao metano, a segunda maior causa das alterações climáticas a seguir ao dióxido de carbono.

Espera-se também que os Estados Unidos, os Emirados Árabes Unidos e a China façam anúncios relacionados com a angariação de mais financiamento para este esforço.