Animais de companhia registados em Portugal já ultrapassam os quatro milhões
Tutores vão ter acesso directo a várias funcionalidades da plataforma onde estão registados os chips, sem terem de passar pelo veterinário. Doar ou adoptar um bicho vai ser mais fácil.
Os animais de companhia oficialmente registados em Portugal já ultrapassam os quatro milhões. E, ao contrário do que sucedia no passado, o número de cães já não supera o de gatos. E se até aqui alterar qualquer dado do registo implicava uma ida ao veterinário, isso vai mudar até ao Natal. Várias das funcionalidades desta base de dados vão passar a estar acessíveis aos donos dos animais nela registados, foi anunciado esta terça-feira numa conferência dedicada ao bem-estar animal promovida pelo Instituto da Conservação da Natureza.
O Sistema de Informação de Animais de Companhia (SIAC) registava esta semana 4,19 milhões de bichos distribuídos por 2,26 milhões de titulares, o que dá uma média de 1,76 animais por tutor. E se alguns destes animais poderão já ter morrido sem que os seus donos tenham dado baixa deles no sistema, também é verdade que ainda existem muitos bichos por registar. O microchip é neste momento obrigatório tanto para cães como para gatos e ainda furões. E facultativo para as restantes espécies, de animais exóticos a coelhos.
Quem quiser adoptar um animal que esteja num canil ou mesmo ficar com o bicho que pertencia a um amigo já pode preencher online todos os formulários necessários. E se algumas funcionalidades do sistema continuam a estar reservadas ao veterinário, como a inscrição da vacinação, o dono fica agora com a vida facilitada não só no que concerne à transmissão da titularidade do animal mas também no caso de precisar de alterar o local de residência ou de registar o seu desaparecimento ou a sua morte. Criado para smartphones, o chamado SIAC Titulares será accionável através da chave móvel digital. E embora o tutor não possa registar a toma da vacina, passa a poder verificar se o veterinário a anotou devidamente no sistema.
As associações que recolhem animais de rua aguardam com expectativa a entrada em funcionamento de um instrumento que poderá facilitar-lhes bastante a vida, nomeadamente a entrega de bichos para adopção. E que poderá ainda, num futuro próximo, servir para fazer chegar aos aderentes do sistema mensagens relacionadas, por exemplo, com determinada campanha de vacinação em determinada zona do país. Ou com o surgimento de determinada patologia animal numa região.
O presidente da Animalife, Rodrigo Livreiro, gostava de ver ainda outras funcionalidades a operar, nomeadamente um campo onde o dono pudesse deixar inscrito o nome do novo tutor legal do animal em caso de morte.
Na mesma conferência, o presidente do Instituto da Conservação da Natureza revelou que desde que a tutela dos animais de companhia passou para este organismo, há três anos – antes pertencia à Direcção-Geral de Veterinária – foram distribuídos apoios e feitos investimentos na área no valor de 30 milhões de euros. “Não se trata de despejar dinheiro em cima dos problemas. Foram criados mais centros de acolhimento de animais e feitas mais esterilizações”, enumerou.
Embora não fossem o tema central deste encontro, que teve lugar em Lisboa, os maus tratos não foram esquecidos. A jurista Alexandra Reis Moreira criticou o carácter disperso da legislação portuguesa no que concerne à protecção dos animais, o que dificulta a vida aos magistrados encarregados dos respectivos processos judiciais.
“É altamente preocupante que, entre 2019 e 2022, 80% dos inquéritos abertos por maus tratos tenham sido arquivados pelo próprio Ministério Público”, assinalou, recordando que já este ano Espanha alargou a tutela penal aos crimes praticados contra qualquer animal vertebrado, enquanto em Portugal pontapear um cavalo ou um burro é um acto que continua a poder ser praticado impunemente, a não ser que dele resulte a morte ou graves lesões para a vítima.