Sports Illustrated apagou artigos de jornalistas criados com IA

A dúvida sobre a identidade dos autores da Sports Illustrated surgiu depois do site de tecnologia Futurism descobrir fotografias de escritores da revista numa plataforma de venda de imagens com IA.

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Fotografia do autor "Drew Ortwitz" à venda na plataforma Generated.photos DR
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A revista de desporto norte-americana Sports Illustrated apagou várias análises de produtos de desporto, devido a suspeitas de que os autores não existem. Em causa está uma notícia desta semana do site de tecnologia Futurism que alerta para o facto de algumas fotografias de perfil dos autores da Sports Illustrated estarem à venda em plataformas de imagens criadas com inteligência artificial (IA). Soma-se o facto de não existir informação online sobre os escritores em questão. A única menção da guru de desporto “Sora Tanaka” e do amante de ar livre “Drew Orwitzna Internet eram as biografias que tinham na Sports Illustrated.

De acordo com a Futurism, que cita relatos anónimos de jornalistas da Sports Illustrated, os artigos terão sido escritos com ferramentas de IA generativa, o ramo da IA por detrás de ferramentas como o ChatGPT, que permite produzir conteúdo original a partir da análise de enormes quantidades de dados. O Arena Group, que detém a publicação Sports Illustrated, desmente a acusação, mas reconhece que “Drew Orwitz” e “Sora Tanaka” não existem – os artigos foram comprados à AdVon Commerce, uma empresa que desenvolve soluções de comércio electrónico com IA.

Apesar da área de trabalho, a AdVon garante que foram humanos a escrever os artigos que vendeu. Algumas peças eram assinadas com pseudónimos para proteger os autores reais. O Arena Group diz que não estava a par da situação e terminou a parceria com a AdVon depois de descobrir.

“Os artigos em questão eram análises de produtos e eram conteúdos licenciados por uma empresa externa, a AdVon Commerce”, começa por explicar um comunicado da equipa da Sports Illustrated sobre a situação. “A AdVon garantiu-nos que os artigos em questão foram escritos e editados por humanos”, continua a justificação. “No entanto, soubemos que a AdVon fez com que os escritores utilizassem um pseudónimo em determinados artigos para proteger a privacidade dos autores.”

O grupo não menciona as imagens que a equipa da Futurism encontrou na Generated.photos, uma plataforma que vende fotografias de perfil, criadas digitalmente, para treinar sistemas de IA. Muitas podem ser geradas automaticamente com base em especificações do utilizador (por exemplo, tom de pele, expressão facial, tamanho do cabelo, cor dos olhos).

O PÚBLICO tentou contactar a AdVon Commerce e o Arena Group para mais informações, mas não obteve resposta até à hora de publicação deste artigo.

Não é a primeira vez que o grupo da Sports Illustrated se vê envolvida em controvérsia sobre IA. Em Fevereiro, a revista Men's Health, outra publicação do Arena Group, teve de editar uma peça escrita com inteligência artificial por incluir desinformação sobre testosterona.

Também não é a primeira vez que a equipa da AdVon Commerce é acusada de vender artigos escritos por algoritmos. Em Outubro, trabalhadores do site de análises de produtos Reviewed acusaram a empresa de usar IA para escrever alguns dos seus textos. A dona do site, a Gannett, desmentiu a acusação, mas reconheceu que estava a comprar artigos à ASR Group Holdings, um nome que a AdVon Commerce usa em alguns anúncios de emprego.

O caso na Sports Illustrated surge numa altura em que aumentam as preocupações sobre a utilização de sistemas de inteligência artificial no jornalismo. Um dos receios é que a tecnologia leve à proliferação de desinformação devido ao fenómeno da alucinação – uma característica de sistemas de IA generativa que produzem acidentalmente resultados que podem parecer plausíveis, mas que são factualmente incorrectos.

No entanto, várias publicações defendem que a tecnologia pode poupar tempo na escrita de peças simples (por exemplo, textos sobre as condições meteorológicas ou resultados de jogo, sem comentário). Empresas como a BuzzFeed começaram a usar a tecnologia para preparar conteúdo mais simples como quizzes e guias de viagem. Há também autores que usam a tecnologia para escrever partes de romances: é o caso de Allado-Mcdowell, que desde 2020 usa IA para escrever ficção e estudar o processo artístico.

Vários países debatem leis para evitar os efeitos negativos da tecnologia, sem travar o progresso. Na próxima quarta-feira, dia 6 de Dezembro, os representantes do Parlamento Europeu, Comissão Europeia e Conselho da UE reúnem-se para debater a versão final de uma lei para regular programas e serviços de IA na União Europeia.

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