Que indícios existiam sobre a presidente da Câmara de Matosinhos na Operação Teia?
Luísa Salgueiro foi constituída arguida e interrogada, mas o Ministério Público acabou por arquivar as suspeitas contra si por falta de indício de crime.
O Ministério Público suspeitava, no âmbito da Operação Teia, que a presidente da câmara de Matosinhos, a socialista Luísa Salgueiro, tinha sido influenciada pelo seu colega que liderava a autarquia de Santo Tirso, Joaquim Couto, considerado um “dinossauro” do PS, para subir de posto a filha do antigo presidente do Instituto Português de Oncologia do Porto, José Laranja Pontes, que era técnica superior do município de Matosinhos.
A 24 de Outubro de 2017, a então mulher de Joaquim Couto, a empresária Manuela Couto, é escutada a falar com uma colaboradora sua. Conta que reunira com Laranja Pontes por causa da sua recondução e que também falara nessa manhã com o marido e lhe pedira: “Fala com a Luísa para ver se a filha sobe de posto… Lá dentro!”
Facto é que na véspera já a presidente da autarquia de Matosinhos proferira despacho a determinar a constituição do gabinete de apoio à presidência, onde a filha de Laranja Pontes era nomeada chefe de gabinete de Luísa Salgueiro.
O aviso da sua nomeação só foi publicado a 13 de Dezembro de 2017, sem a nota curricular da nomeada nem a indicação do serviço a que pertencia, nem da carreira e categoria de origem. O Instituto Nacional de Administração (INA) foi chamado a fazer uma perícia onde reconhece a inexistência destes requisitos formais.
Após as buscas na Operação Teia, o telemóvel de Marta Pontes, actualmente vereadora na Câmara de Matosinhos, também foi analisado. Em Agosto de 2017, a técnica superior contava ao companheiro, referindo-se alegadamente a Luísa Salgueiro, que já eram amigas. “Afinal, ela quer-me muito a trabalhar na equipa dela.” O companheiro, que na altura era administrador da MatosinhosHabit, também estaria a interceder por Marta e conta a 11 de Outubro que falou com “a Luísa”. “Ela já tem pensado o teu futuro na câmara. Será sobretudo no turismo/desenvolvimento económico sob alçada dela.” A realidade viria a dar-lhe razão: Marta Pontes tem actualmente no executivo autárquico os pelouros do turismo, do comércio e do investimento e incubação de empresas, entre outros.
Luísa Salgueiro foi constituída arguida em Outubro do ano passado e deveria ter sido ouvida no mês seguinte, uma diligência que não se realizou por ter apresentado um atestado médico. Foi ouvida em Janeiro de 2023, tendo optado por não prestar declarações. Foi notificada para se pronunciar sobre a perícia do INA, colocou em causa este estatuto e juntou parecer da CCDR dando nota que a omissão da nota curricular de Marta Pontes tinha sido uma falha dos serviços, que tinha sido rectificada por nova publicação em Diário da República, em Fevereiro de 2020, ou seja, mais de dois anos depois.
Luísa Salgueiro garantia que escolhera Marta Pontes apenas por apreciar o seu trabalho, nomeadamente durante a campanha eleitoral, insistindo que não pode ser responsabilizada pelo que outros dizem sobre si. O procurador acabou por arquivar as suspeitas, considerando que “não se apurou existirem indício suficientes” de crime.
Acrescentado à notícia cargo actual de Marta Pontes, que é vereadora da câmara de Matosinhos