Crise política e abrandamento da economia agravam risco para a banca

O potencial aumento do incumprimento no crédito, de empresas ou de particulares, é o principal risco para a estabilidade financeira, alerta o Banco de Portugal.

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Mário Centeno é o governador do Banco de Portugal. LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO
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O abrandamento da actividade económica e a actual crise política, aliados aos efeitos da política monetária seguida na zona euro para fazer baixar a inflação, estão a agravar os riscos para a estabilidade financeira. O alerta vem do Banco de Portugal (BdP), que admite um aumento do incumprimento no crédito e uma correcção dos preços do imobiliário.

Os avisos constam do mais recente Relatório de Estabilidade Financeira, publicado nesta segunda-feira pelo regulador. "Os riscos para a estabilidade financeira aumentaram, reflectindo a restritividade da política monetária, o abrandamento da actividade económica e, mais recentemente, a incerteza política", pode ler-se no relatório.

Sobre a política monetária de aumento das taxas de juro directoras para forçar a redução da inflação, e os impactos desta política sobre a economia, o BdP lembra que, apesar de a inflação já estar a baixar na zona euro, "esta permanece acima do objectivo de médio prazo estabelecido pelo Banco Central Europeu", pelo que a actual política monetária deverá prolongar-se.

A isso, somam-se "os conflitos militares em curso, na Ucrânia e no Médio Oriente", que "acrescentam complexidade à condução de políticas, dado o potencial efeito sobre a inflação e a actividade económica". Em concreto, alerta o regulador, estes eventos "podem originar desvalorizações de activos e subidas dos prémios de risco nos mercados financeiros internacionais".

Já sobre a crise política, o BdP salienta que "o recente quadro de incerteza política que o país vive é uma nova fonte de risco, apesar de mitigada pela expectável aprovação do Orçamento do Estado para 2024 proposto pelo actual Governo".

É neste contexto que o BdP destaca quatro grandes riscos para a estabilidade financeira: "A pressão acrescida sobre as contas das administrações públicas; o aumento do incumprimento das famílias mais vulneráveis; a dificuldade das empresas para assegurar o serviço de dívida, em particular das mais vulneráveis; e a correcção de preços no mercado imobiliário residencial."

Mas o "principal risco para o sistema bancário português", resume o regulador, "decorre de uma potencial materialização acrescida do risco de crédito de empresas e particulares". Assim, defende o BdP, "é fundamental que o sector bancário continue a promover a sua resiliência a potenciais choques adversos, conservando o capital gerado organicamente".

A este propósito, recorde-se, o BdP impôs, a quatro dos cinco maiores bancos nacionais (BCP, BPI, Santander e Novo Banco), a criação de uma reserva de capital suplementar, para acautelar o risco associado à carteira de crédito à habitação.

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