Rússia coloca vencedora ucraniana da Eurovisão na lista de procurados pela justiça
Jamala é acusada de violar lei que proíbe divulgação de “informações falsas” sobre as forças armadas russas.
A Rússia colocou Susana Jamaladinova, mais conhecida por Jamala, cantora ucraniana vencedora do Festival Eurovisão da Canção de 2016, na sua lista de procurados pela justiça. Segundo as agências estatais russas, uma base de dados do Ministério do Interior inclui a cantora na lista de procurados por violação de uma lei penal.
O site de notícias independente Mediazona, que cobre assuntos relacionados com a oposição russa e os direitos humanos, afirmou que Jamaladinova foi acusada ao abrigo de uma lei adoptada no ano passado que proíbe a divulgação de informações consideradas falsas sobre as Forças Armadas russas e a guerra em curso na Ucrânia, iniciada a 24 de Fevereiro de 2022.
Descendente de tártaros da Crimeia, Susana Jamaladinova, cujo nome artístico é Jamala, ganhou o concurso da Eurovisão em 2016 com a canção "1944" - título que se refere ao ano em que a União Soviética deportou em massa os tártaros da Crimeia. A sua actuação ocorreu quase dois anos depois de a Rússia ter anexado a Crimeia, em 2014, altura em que a Ucrânia se encontrava numa situação de turbulência política. A maioria da comunidade internacional considera a anexação ilegítima.
A Rússia protestou contra a inclusão da canção "1944" no concurso, argumentando que violava as normas contra o discurso político na Eurovisão. No entanto, a canção não emite qualquer crítica específica à Rússia ou à União Soviética, apesar de estas estarem implícitas, começando a letra com: "Quando estranhos chegam, vêm a vossa casa, vos matam a todos e dizem 'Não somos culpados'".
A Rússia lançou a 24 de Fevereiro de 2022 uma ofensiva militar na Ucrânia que causou, de acordo com dados da ONU, a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e fez nos últimos 20 meses um elevado número de vítimas não só militares como também civis, impossíveis de contabilizar enquanto o conflito decorrer.
A invasão, justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia, foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.