A Argentina decidiu: Javier Milei será o novo Presidente

A decisão dos eleitores era entre o ex-ministro da Economia Sergio Massa e o economista Javier Milei. Ganhou Milei com a sua “terapia de choque” para a economia.

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Argentina elege Javier Milei como Presidente EPA/Juan Ignacio Roncoroni

A Argentina elegeu este domingo o economista Javier Milei como o seu novo Presidente, apostando no candidato com opiniões radicais, que se auto-intitula como um "anarco-capitalista", para resolver uma economia abalada por uma inflação de três dígitos, uma recessão iminente e o aumento da pobreza.

Os resultados oficiais ainda não foram confirmados, mas os primeiros números apontam para uma vitória de 56% contra 44%. O rival, o candidato peronista, Sergio Massa, já reconheceu a derrota. A sua candidatura foi prejudicada pela pior crise económica do país em duas décadas, que coincidiu com o seu mandato.

Milei promete um tratamento de choque para a economia do país. Os planos incluem o encerramento do banco central, abandonar o peso como moeda, e reduzir gastos. As reformas ressoaram junto dos eleitores irritados com o marasmo económico, mas geraram receios de austeridade noutros.

Os desafios, porém, são enormes. O novo líder argentino terá de lidar com os cofres vazios do Governo e do banco central, um programa de dívida com o Fundo Monetário Internacional e uma inflação próxima dos 150%.

No discurso da vitória, Milei agradeceu aos "argentinos por terem escolhido um Presidente liberal", agradeceu aos membros do partido e da campanha e a todos os que estiveram ao serviço no dia eleitoral. "Hoje começa o fim da decadência da Argentina", disse.

Escolha do "mal menor"

Muitos argentinos, que não ficaram convencidos com nenhum dos candidatos à presidência, caracterizaram a votação como uma escolha do "mal menor”: por um lado, o medo da dolorosa medicina económica de Milei, por outro a raiva de Massa e do seu partido por causa de uma crise económica que deixou a Argentina profundamente endividada.

Milei tem sido particularmente popular entre os jovens que cresceram vendo o seu país mergulhar de uma crise para outra. O novo Presidente argentino é firmemente contra o aborto, favorável a leis mais flexíveis sobre armas e chamou o Papa Francisco argentino de "filho da mãe socialista". Costumava transportar uma motosserra como símbolo dos seus cortes planeados, mas deixou de o fazer nas últimas semanas para ajudar a promover uma imagem mais moderada.

Depois da votação da primeira volta em Outubro, Milei estabeleceu uma aliança com os conservadores para aumentar o seu apoio. No entanto, enfrenta um congresso altamente fragmentado. A realidade pode suavizar algumas das suas propostas mais radicais. Os apoiantes acreditam, no entanto, que apenas Milei pode erradicar o statu quo político e a marasmo económico que se vive na Argentina.

A vitória de Milei também tem o potencial de abalar o cenário político e económico da Argentina no panorama global. O novo Presidente da Argentina criticou a China e o Brasil, afirmando que não lidará com "comunistas", e quer laços mais fortes com os Estados Unidos.

Vantagem a confirmar

Depois de três semanas de suspense, a vantagem obtida pelo candidato do partido Liberdade Avança terá sido superior ao esperado, de acordo com o jornal argentino La Nación​. Nos dias anteriores às eleições, ninguém se arriscava a fazer prognósticos. Agora, ainda sem resultados definitivos, já se sabe que Milei sucederá a Alberto Fernández a partir de 10 de Dezembro.

"É o presidente que os argentinos escolheram. A partir de amanhã, a responsabilidade de fornecer certezas é de Milei", disse o ainda ministro da Economia, Sergio Massa, no discurso em que assumiu a derrota. "Houve dois projectos para o país. O dia de hoje confirma que a Argentina tem um sistema democrático transparente e sólido, que respeita os resultados eleitorais", assumiu.

Com estas palavras, Massa distanciou-se dos apoiantes de Milei (incluindo Karina Milei e Santiago Viola, representantes legais do partido) que durante o dia de eleição sugeriram estar a haver “fraude” eleitoral. Também Guillermo Francos, assessor do Liberdade Avança, acabou por reconhecer que foi uma eleição "transparente", relativizando as críticas.

Durante a campanha, o Presidente eleito havia recebido apoio de sete ex-chefes de Estado de países latino-americanos, assim como do prémio Nobel da Literatura Mario Vargas Llosa e do ex-chefe de Governo espanhol Mariano Rajoy, que se uniram contra a continuidade de “um modelo económico corporativo fracassado”.