Cameron escolheu Kiev para a sua primeira viagem como chefe da diplomacia britânica
Num encontro com Zelensky na capital ucraniana, o novo ministro dos Negócios Estrangeiros britânico garantiu que o Reino Unido dará apoio militar à Ucrânia “durante o tempo que for necessário”.
A dança de cadeiras no Governo conservador do Reino Unido não abala o seu apoio à Ucrânia, nem retira Londres da linha da frente da assistência militar e financeira ao país invadido pela Federação Russa desde Fevereiro do ano passado. Esta foi, pelo menos, a mensagem que Downing Street quis levar até Kiev, pela mão de David Cameron, que se reuniu esta quinta-feira com Volodymyr Zelensky e com outros líderes políticos ucranianos.
O antigo primeiro-ministro, que suspendeu a reforma na segunda-feira para assumir o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros no executivo de Rishi Sunak, escolheu a capital ucraniana para a sua primeira viagem ao estrangeiro, tendo garantido ao Presidente da Ucrânia que o Reino Unido vai continuar a fornecer ajuda militar “durante o tempo que for necessário”.
“Queria que esta fosse a minha primeira visita”, disse o novo chefe da diplomacia britânica a Zelensky, num vídeo que a presidência ucraniana publicou na rede social X (antigo Twitter), que mostra o momento em que os dois políticos se cumprimentam e algumas trocas de ideias, com Cameron a assegurar que vai continuar a trabalhar com os aliados do Reino Unido “para garantir que a atenção” da comunidade internacional permanece na Ucrânia.
“Ao vir até aqui, o que vos quero dizer é que iremos continuar a dar o apoio moral, o apoio diplomático, o apoio económico, e, acima de tudo, o apoio militar de que necessitam, não apenas este ano ou no próximo, mas durante o tempo que for necessário”, afiançou Cameron.
A presença de David Cameron em Kiev acontece poucos dias depois de o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, ter admitido que a União Europeia vai falhar a meta da entrega de um milhão de munições à Ucrânia até Março do próximo ano.
O homem que liderou o Governo do Reino Unido entre 2010 e 2016 – e que se demitiu depois de a maioria dos britânicos ter apoiado a saída do país da UE, em referendo – dedicou ainda um elogio à postura do também antigo primeiro-ministro Boris Johnson sobre a Ucrânia, com quem, admitiu, teve várias divergências políticas.
“Tenho tido alguns dissentimentos com Boris Johnson – conhecemo-nos há 40 anos – mas o apoio que vos deu foi a melhor coisa que ele e o seu governo fizeram”, afirmou Cameron.
Num comunicado divulgado pouco depois da reunião com Zelensky, o ministro britânico deu conta do compromisso total do Reino Unido em ajudar a Ucrânia a “resistir à invasão ilegal de [Vladimir] Putin”, Presidente russo, e congratulou-se com o facto de o Exército ucraniano ter “empurrado a Rússia para o mar Negro e estar a abrir rotas comerciais marítimas vitais para a economia ucraniana e para o abastecimento global de alimentos”.
Do ponto de vista de Zelensky, numa altura em que o mundo está focado noutras zonas de conflito, nomeadamente em Israel e na Faixa de Gaza, o sinal mais importante da visita de Cameron a Kiev é mesmo o de mostrar à Rússia que os aliados da Ucrânia não se esquecem dela.
“O mundo não está tão focado na situação no campo de batalha na Ucrânia e é verdade que esta divisão do foco não ajuda”, admitiu, em conversa com Cameron.
Sublinhando também o facto de se tratar da primeira visita de Cameron ao estrangeiro, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, o Presidente ucraniano agradeceu a Londres pelo seu apoio e deu alguns pormenores sobre os temas discutidos durante o encontro.
“Tivemos uma boa reunião, focada em armas para a linha da frente, no reforço da defesa aérea e na protecção do nosso povo e de infra-estruturas críticas”, detalhou, numa mensagem publicada no X.
Dmitro Kuleba, ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, também recorreu às redes sociais para dar conta da visita do seu homólogo ao país, enfatizando que o Reino Unido “permanece firme em fornecer armas à Ucrânia, em aumentar a sua co-produção e em eliminar as ameaças russas do mar Negro.”