Rasmussen propõe Ucrânia na NATO sem os territórios ocupados pela Rússia

Antigo secretário-geral da aliança atlântica considera que a Europa teria a ganhar com “o exemplo” do Exército ucraniano, que ficaria liberto para combater apenas na linha da frente.

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Anders Fogh Rasmussen foi secretário-geral da NATO entre 2009 e 2014 Reuters/AGENCJA GAZETA
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Os membros da NATO vão poder analisar uma proposta, apresentada por um antigo secretário-geral da organização, Anders Fogh Rasmussen, para que a Ucrânia seja aceite como membro de pleno direito durante a próxima cimeira, no Verão de 2024, mas sem os territórios actualmente ocupados pela Rússia.

Segundo o jornal britânico Guardian, Rasmussen — um antigo primeiro-ministro da Dinamarca e consultor do Governo ucraniano, que liderou a NATO entre 2009 e 2014 — considera que a proposta não implica uma cedência à Rússia dos territórios ocupados, nem seria uma formalização do congelamento do conflito; em vez disso, uma adesão da Ucrânia nestes moldes enviaria a mensagem ao Governo russo de que qualquer acção militar no restante território ucraniano teria como consequência a entrada da NATO na guerra.

"A credibilidade absoluta das garantias do artigo 5.º iria dissuadir a Rússia de lançar ataques no território ucraniano protegido pela NATO, e iria também libertar forças ucranianas para combaterem na linha da frente", disse Rasmussen ao Guardian.

Em Julho, durante a cimeira da NATO em Vílnius, na Lituânia, os membros da organização rejeitaram uma adesão imediata da Ucrânia, frustrando as expectativas do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Em alternativa, vários países — incluindo membros da NATO e do G7 — propuseram acordos de segurança bilaterais com a Ucrânia.

Apesar de terem garantido que a Ucrânia irá ser convidada para a NATO "quando as condições o permitirem", os membros da organização afastaram a hipótese de uma adesão imediata precisamente por causa da guerra de ocupação russa — nesse cenário, uma adesão enviaria o sinal à Rússia de que a NATO iria entrar na guerra em defesa do seu mais recente membro, em conformidade com o artigo 5.º.

Segundo Rasmussen, a sua proposta tem a vantagem de evitar essa fatalidade, ao fazer recuar as fronteiras da Ucrânia que seriam protegidas pela NATO, e mantendo os territórios actualmente ocupados pela Rússia como uma zona de combate onde só o Exército ucraniano poderia actuar.

"Para credibilizar o artigo 5.º, a Rússia teria de receber a mensagem de que qualquer violação do território da NATO teria uma resposta", disse o antigo secretário-geral da organização, comparando a sua proposta ao estabelecimento de uma zona de exclusão aérea na Ucrânia.

Em termos históricos, Rasmussen evoca a adesão da Alemanha Ocidental à NATO, em Maio de 1955, como um antecedente da sua proposta sobre a Ucrânia. Na altura, a oposição da União Soviética à entrada da Alemanha Ocidental na aliança atlântica levou à criação do Pacto de Varsóvia, um tratado de defesa promovido por Moscovo e que incluiu a Alemanha Oriental.

Tal como em meados da década de 1950, quando os defensores da adesão da Alemanha Ocidental à NATO salientaram a capacidade do país para travar uma eventual invasão soviética no resto da Europa, Rasmussen argumenta que o Exército ucraniano — "o mais testado em combate na Europa actual" — seria "um exemplo e uma mais-valia para outros países europeus".

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