Casa da Música decide em Janeiro estratégia para angariar mecenas

O presidente do Conselho de Fundadores, Valente de Oliveira, garante que as dificuldades financeiras não comprometem o programa de 2024 e assegura que que a orquestra sinfónica “não está em causa”.

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Casa da Música Miguel Manso

A Casa da Música, no Porto, vai debater em Janeiro o relatório do grupo de reflexão criado para repensar a missão e a estrutura da instituição, que foi apresentado na quinta-feira aos fundadores, anunciou Valente de Oliveira.

Segundo o presidente do Conselho de Fundadores da Casa da Música, "vai haver uma reunião em Janeiro para as pessoas terem tempo para reflectir sobre as propostas relativas à missão, organização e finanças" da instituição.

O grupo de reflexão que elaborou o relatório, a que a Lusa teve acesso, defende que a Casa da Música deverá angariar mais mecenas e estabelecer parcerias com mais municípios para assegurar o serviço prestado.

Questionado se o programa para 2024 está comprometido devido às necessidades identificadas de dinheiro, Valente de Oliveira assegurou que "nada está comprometido". O Conselho de Administração (CA) da Casa da Música "fez um trabalho excelente de prospectiva financeira, suficientemente a tempo de garantir que se tomam as medidas adequadas sem haver acidente", diz o presidente do Conselho de Fundadores, garantindo que "nada vai comprometer o programa para 2024".

Também a orquestra sinfónica "não está em causa", diz. "É uma peça cara, mas é uma peça importante. Ter uma cidade com uma orquestra sinfónica é ter uma cidade diferente, e a nossa orquestra, ainda por cima, é boa", sublinhou.

O presidente do CA, Rui Amorim de Sousa, interveio na conversa para revelar que em breve será anunciada a programação para 2024, na qual que será perceptível a "diversidade musical e a quantidade que o programa de actividades tem e que é muito ambicioso, muito rico e muito suportado nos quatro agrupamentos residentes na Casa da Música".

A direcção artística de António Jorge Pacheco acaba em Dezembro de 2024 e Rui Amorim de Sousa apressou-se a lembrar que "é um cargo de comissão de serviço e que tem sido renovado com o António Jorge por decisões do CA. Não é um lugar perene. Ele acaba o mandato e vai ser naturalmente reavaliado, e será aberto um concurso".

"As instituições ligadas às artes, sejam plásticas ou auditivas, lucram em ter, de vez em quando, uma perspectiva diferente na sua direcção artística", acrescentou Valente de Oliveira.

Sobre o futuro, o presidente do Conselho de Fundadores explicou que a administração "fez um trabalho prospectivo a vários anos", e que deu disso conta ao Conselho de Fundadores, alertando que se os problemas não forem atalhados, "há-de haver um momento no futuro que pode implicar escolhas radicais".

"Estamos a trabalhar bem mais do que a um ou dois anos de distância", afirmou, com Rui Amorim de Sousa a acrescentar que "depois de um passado ganhador, há que olhar para a frente –​ conhecendo as restrições no futuro e tentando antecipá-las, pois nada pode ser gerido de forma constante –​, gerando um programa de dinamização, e não de encolhimento".

A Casa da Música foi inaugurada em 2005. Quando da constituição da Fundação da Casa da Música e a respectiva construção do edifício, junto à Avenida da Boavista, no Porto, o Estado fixou uma subvenção de 10 milhões de euros por ano, que inicialmente esperava vir a reduzir com o envolvimento dos privados.

Em 2012, devido à troika, os 10 milhões de euros foram reduzidos a três milhões de euros anuais, e só em 2021 o Governo repôs inteiramente a dotação original.

O músico portuense Mário Barreiros foi escolhido pelo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, para representar o Ministério da Cultura no grupo de reflexão sobre a Casa da Música, adiantou, em Novembro de 2022, o jornal PÚBLICO.

O novo modelo de instituição para a Casa da Música deverá ser aplicado pelo próximo conselho de administração, em 2024. Nos órgãos sociais, a Fundação Casa da Música integra um conselho de fundadores, que inclui representantes do Estado e de privados.