Chef Michelin cozinha ao lado de formandos da associação Crescer

É Uma Mesa, espaço de formação para pessoas em situação de sem abrigo, lança ciclo de jantares com chefs portugueses. Iniciativa arranca no dia 16 com André Cruz, do Feitoria.

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André Cruz (esq.) é o primeiro chef convidado de Nuno Bergonse (dir.) e da equipa de formandos do É Uma Mesa DR
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É um jantar a quatro mãos, com dois chefs, mas é mais do que isso: é uma forma de ajudar o projecto da associação Crescer para a integração no mercado de trabalho, no sector da restauração, de pessoas que estão ou estiveram em situação de sem abrigo. Dia 16 de Novembro, às 20h, no espaço É Uma Mesa, no Bairro Padre Cruz, Carnide, em Lisboa, o chef André Cruz, do Feitoria (uma estrela Michelin) vai cozinhar ao lado dos formandos deste projecto e do coordenador, o chef Nuno Bergonse.

Este “É um convite do André Cruz” será o primeiro de uma série de jantares com chefs portugueses de renome, que irão acontecer a cada dois meses. A refeição custa 50 euros sem bebidas ou 65 euros com bebidas e os lucros serão usados pela Crescer para dar “maior robustez económica” a este trabalho, iniciado em 2019 com a abertura do É Um Restaurante e que prosseguiu com o nascimento, em 2022, do É Uma Mesa. Actualmente, o espaço no Bairro Padre Cruz é usado como base para os serviços de catering que têm tido uma procura crescente, diz Américo Nave, responsável da Crescer.

“O André Cruz vai estar connosco desde manhã até à noite e a ideia é que seja uma aula prática. É um chef descontraído, que gosta de ensinar e de estar próximo de causas sociais”, explica Nuno Bergonse à Fugas. Será uma forma de ajudar os formandos a “saírem da sua zona de conforto e entrarem ainda mais no mundo da cozinha profissional”. O chef do Feitoria escolheu dois pratos que tem no seu restaurante, mas adaptou-os ligeiramente para que não fosse preciso “usar técnicas ultra-sofisticadas”. O objectivo é que um deles fique durante os próximos dois meses na carta do É Um Restaurante.

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É Uma Mesa, lançado em 2022, é um espaço preparado para acolher eventos e base do serviço de catering do projecto DR/Arlindo Camacho

A refeição terá uma entrada de André Cruz com gamba da costa, halófitas e laranja do Algarve; peixe-espada frito com molho de moqueca, batata-doce e espinafres, que é um prato da Crescer; peito de pato com arroz de cogumelos selvagens e emulsão de alho negro, criação de André Cruz (e o prato que ficará na carta do É Um Restaurante); e, para sobremesa, um pudim de azeite e mel, cenouras caramelizadas e granizado de lúcia-lima, também da Crescer.

O número de pessoas em situação de vulnerabilidade – o projecto acolhe pessoas sem abrigo, mas também refugiados e requerentes de asilo – que procuram a ajuda da Crescer tem vindo a aumentar, afirma Américo Nave. Mas também o número de instituições que se abrem ao projecto é hoje maior. Para além do É Um Restaurante e do É Uma Mesa, que deixou em stand-by a ideia inicial de ser uma pizzaria aberta ao público, existe o É Uma Esplanada, no Museu de São Roque, em Lisboa, e restaurantes nas empresas Ageas e Cofidis. “Estas empresas têm-nos elogiado, o que prova que estas pessoas fazem um serviço de qualidade dentro de espaços que têm as suas regras e formalismos”, sublinha o responsável da Crescer. “Isto é também uma forma de combater o estigma”.

A maior dificuldade que a associação enfrenta neste momento tem a ver com a formação, para a qual conta com uma parceria com a Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa e com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), dois entre os 30 parceiros do projecto. “Começámos com turmas de 20 alunos e agora já estamos a tentar fazer turmas de 40, mas enfrentamos uma falta de espaços para as aulas. Há falta de espaços em Lisboa para darmos formação”, diz Américo Nave, lançando um apelo para que surjam outros parceiros que possam ajudar a ultrapassar este problema logístico. Para já, desde o início do projecto, 143 formandos, que são acompanhados desde o princípio por psicólogos da associação, iniciaram a sua formação on the job, 72 terminaram-na e 54 estão já integrados no mercado de trabalho.

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