Médicos devem suspender protestos até haver novo Governo, defende Xavier Barreto

Presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares diz que, se protestos dos médicos não pararem, terá que haver uma reforma da rede de urgências.

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Presidente da associação de administradores hospitalares diz que não faz sentido que os médicos protestem sem terem um interlocutor Nelson Garrido (arquivo)
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Tendo em conta o actual cenário político, com o país a viver com um Governo de gestão até Março, o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), Xavier Barreto, defende que os sindicatos que representam os médicos e o movimento “Médicos em luta” devem parar com os protestos – as greves já convocadas e a indisponibilidade manifestada por mais de 2500 médicos para fazerem mais horas extraordinárias além das 150 obrigatórias por ano, que está a provocar grandes constrangimentos em muitos serviços de urgência do país.

“Não me parece que o Governo [de gestão] tenha legitimidade política para prosseguir com as negociações com os sindicatos. Não havendo um interlocutor com capacidade para responder aos anseios e reivindicações dos sindicatos, não faz sentido continuarem com os protestos. Devem parar até haver um novo Governo”, advoga Xavier Barreto. “Só vale a pena protestar quando está alguém do outro lado”, enfatiza.

Por isso, considera que é “lógica” a posição do secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha – que já anunciou que, em caso de eleições antecipadas, suspenderia a greve às horas extras nos centros de saúde.

E se a Federação Nacional dos Médicos e o movimento “Médicos em luta” decidirem continuar com os protestos? Face às crescentes dificuldades para assegurar o funcionamento de várias especialidades em muitos serviços de urgência, “tem que haver uma reforma da rede de urgências”, que “poderá levar à concentração em áreas metropolitanas e até a nível regional”, defende. Uma tarefa que, com o Governo em gestão, poderá ser concretizada pela Direcção Executiva do SNS.

“É uma decisão difícil, vai gerar protestos, até porque nenhum autarca gosta de perder valências, mas qual é a alternativa? Temos que ser muito pragmáticos e organizar a rede com base nos recursos que temos. É melhor ter seis urgências [de especialidade] fechadas ou três abertas e a funcionar sem constrangimentos?”, pergunta, com a convicção de que o país “não pode manter-se numa constante expectativa de que os problemas se vão resolver”.

“Os médicos só querem fazer as 150 horas por ano, não é? Então temos que ser consequentes e tomar decisões. E isso terá que ser feito com rapidez, porque a situação não pode manter-se durante muito mais tempo. “O final do ano vai ser muito difícil, na última quinzena de Dezembro há muitos profissionais de férias”, antevê.

Xavier Barreto dá o exemplo do centro hospitalar em que trabalha, o de S. João, no Porto, que está neste momento a receber doentes de sete hospitais do Norte que têm as suas urgências de cirurgia geral fechadas. “É uma panela de pressão que está a encher e qualquer dia rebenta. Os profissionais do S. João podem começar também a entregar minutas [recusando fazer mais horas extras] por não aguentaram a sobrecarga”, teme.

Confessa ainda que ficou aliviado porque vai ser possível aprovar o Orçamento do Estado (OE) para 2024, uma vez que o SNS iria ter “problemas gravíssimos”, se isso não acontecesse. Com a reorganização que está em curso e a generalização das Unidades Locais de Saúde (que juntam os centros hospitalares e os agrupamentos de centros de saúde da mesma área geográfica) a partir de Janeiro, sem a aprovação do OE e vivendo o país de duodécimos, “ao fim de 15 dias não havia dinheiro para pagar a fornecedores”.

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