Ponte Ferreirinha sobre o Douro suscitou suspeitas ao Ministério Público
Enquanto ministro do Ambiente, Matos Fernandes é suspeito de impor nomes para o júri do concurso. Arquitectos indicados pela Ordem mostram-se surpreendidos.
A construção de uma nova ponte sobre o Douro, que será baptizada como Ferreirinha e pela qual vai passar o metro, foi outro projecto que suscitou suspeitas ao trio de procuradores do Ministério Público encarregado de investigar as situações que envolvem vários membros actuais e antigos do executivo liderado por António Costa.
O projecto que irá homenagear a empresária do séc. XIX que dedicou a sua vida ao negócio do vinho do Porto, Dona Antónia Ferreira, foi ganho pelo consórcio constituído pelas empresas Edgar Cardoso, Arenas e Noarq, por escolha de um júri que integrou representantes de várias instituições. Inês Lobo e Alexandre Alves Costa foram os nomes indicados pela Ordem dos Arquitectos para esse júri. Mas os investigadores entendem que não foi bem isso que se passou. “O suspeito e então ministro do Ambiente João Pedro Matos Fernandes impôs, como se tivessem sido escolhas da Ordem dos Arquitectos, os nomes de Alexandre Alves Costa e Inês Lobo no júri”, observavam a certa altura, sem no entanto terem ainda percebido nem a motivação do governante nem o que dali teria resultado.
Contactada pelo PÚBLICO, a arquitecta Inês Lobo mostrou-se surpreendida: “Não conheço sequer o ex-ministro, nunca falei com ele na vida. Foi o então bastonário José Manuel Pedreirinho que me contactou para integrar o júri”. Reacção idêntica tem o seu colega Alexandre Alves Costa: “Nunca me passou pela cabeça que a minha indicação pudesse ter sido uma imposição do ministro. Se o fez, foi nos bastidores”, observa o arquitecto, ressalvando que a Ordem dos Arquitectos “é autónoma e não recebe ordens de ninguém”.
O PÚBLICO tentou falar com o antigo bastonário, que exerceu funções entre 2017 e 2019, mas sem sucesso.
Com um custo estimado de 110 milhões de euros, a ponte foi pensada para servir a futura Linha Rubi, que vai ligar por metro a Casa da Música, no Porto, à rotunda de Santo Ovídio, em Vila Nova de Gaia. A ideia inicial era que a obra se iniciasse em Novembro para estar pronta em 2026. Entretanto, o traçado escolhido suscitou polémica, por causa do "impacto negativo bastante significativo" na paisagem, conforme se lê no respectivo Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que qualifica como "sensível" a interferência com o tecido urbano da cidade, nomeadamente na zona da Via Panorâmica, entre a casa da escritora Agustina Bessa Luís e a Casa Rosa, da Faculdade de Arquitectura. Texto corrigido às 11h43 de 09/11, com o valor correcto estimado para o custo da ponte.