Achas que os gatos são indiferentes? Fazem 300 expressões faciais distintas

O estudo analisou os gestos de 53 gatos durante um ano e descobriu 276 expressões. Fechar os olhos significa que o animal está tranquilo, mas contrair as pupilas é sinal de agressividade.

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Achas que os gatos são indiferentes? Fazem 300 expressões faciais distintas A Suárez/Unsplash
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Brittany Florkiewicz sempre gostou mais de cães, mas ficou surpreendida com o que descobriu quando esteve mais de 100 horas a analisar vídeos de gatos. A jovem de 31 anos, que é professora de Psicologia no Lyon College em Batesville, no estado norte-americano do Arkansas, passou a infância a correr no quintal com os pastores alemães e os labradores da família. E acreditava, tal como muitos donos de animais de companhia, que os cães eram mais amigáveis e mais expressivos do que os gatos.

Mas o pensamento mudou em 2021 quando começou, em conjunto com uma colega, a estudar gatos a fim de saber mais sobre a forma como comunicam e se expressam. Depois de os filmar durante quase um ano num café para gatos e analisar as expressões faciais que fizeram, descobriu que estava errada.

De acordo com os resultados do estudo publicado na revista Behavioral Processes, as investigadoras constataram que os gatos fizeram, pelo menos, 276 expressões faciais diferentes. Em declarações ao The Washington Post, Brittany afirmou que as descobertas mostram que os gatos são mais articulados e carinhosos do que se pensava. E assumindo-se como alguém que caiu no estereótipo de acreditar que "os gatos são indiferentes e não se expressam tanto quanto os cães”, adiantou que a investigação foi muito esclarecedora.

Brittany e Lauren Scott, co-autora do estudo, estavam a estudar antropologia na UCLA em 2020 quando decidiram investigar os gatos. Brittany já analisou as expressões faciais dos chimpanzés e outros primatas, mas assegurou que não existe muita investigação sobre as expressões que os felinos fazem uns aos outros.

A partir de Agosto de 2021 e durante uma vez por semana, as duas investigadoras filmaram gatos durante algumas horas no CatCafe Lounge, em Los Angeles. O espaço albergava cerca de 30 felinos que estavam para adopção. Os funcionários arranjaram uma sala e um pátio para os animais passearem à vontade, comida, água, caixas de areia, arranhadores, poleiros de madeira e brinquedos. Alguns foram adoptados durante os dez meses seguintes, mas outros viveram no café durante esse período, permitindo às investigadoras observar 53.

Em Junho de 2022, tinham gravado 150 horas de interacções entre os felinos com recurso a uma câmara de vídeo. Nos quatro meses seguintes, analisaram cuidadosamente as filmagens e documentaram as expressões faciais dos animais. Estudaram a forma como os animais mexiam as orelhas, enrugavam o nariz, abriam a boca e lambiam os lábios. Rotularam cada uma com uma expressão amigável ou não amigável.

Quando os gatos estavam felizes ou a divertir-se, normalmente mexiam as orelhas e os bigodes para a frente e para fora e, por vezes, também fechavam os olhos. As expressões consideradas amigáveis aconteciam quando se limpavam uns aos outros, descansavam, cheiravam, rebolavam e brincavam. Quando se sentiam ameaçados ou descontentes com outro gato, tendiam a mover as orelhas para trás e baixavam-nas, lambiam os lábios e contraíam as pupilas. Estas expressões faciais aconteciam quando mordiam, fugiam, rosnavam, assobiavam, arranhavam, cuspiam, olhavam fixamente e davam patadas uns nos outros.

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As investigadoras analisaram as expressões faciais de 53 gatos Paul Hanaoka/Unsplash

Das 276 expressões faciais, os investigadores descobriram que cerca de 46% eram amigáveis, quase 37% eram agressivas e cerca de 17% eram ambíguas. O abrir a boca, baixar o maxilar, enrugar o nariz e pestanejar foram comportamentos observados tanto nos casos amigáveis como agressivos. "A comunicação entre gatos é muito mais complexa do que pensámos anteriormente", acrescentou a investigadora.

Brittany espera ainda que os donos de gatos e as associações de protecção animal utilizem os resultados do estudo para compreender até que ponto é que os animais se estão a dar bem. No futuro, está a pensar criar uma aplicação que permita aos tutores gravar as interacções dos seus gatos para perceberem que emoções é que os felinos estão a expressar.

Além disto, está a utilizar a investigação na vida pessoal. No ano passado, o marido encorajou-a a adoptar um gato, uma fêmea a quem deram o nome Char, baseado na personagem Charizard da série Pokémon. Na sexta-feira, o casal adoptou outro gato chamado Darth Vader.

A investigadora não esperava que os gatos se cumprimentassem, mas quando se encontraram, Char empurrou as orelhas e os bigodes para a frente e cheirou Darth Vader — sinal que estava a tentar ser hospitaleira. Mas quando Darth Vader tentou, mais tarde, saltar para cima dela, sibilou, dobrou as orelhas e estreitou os olhos, indicando que não estava preparada para ser a nova companheira do gato.

À medida que os dois animais aprendem a partilhar a casa, Brittany tenciona continuar a avaliar os estados de espírito dos animais através das expressões faciais que fazem. E agora, admite, gosta de viver tanto com gatos como com cães.

"Em termos de comportamento lúdico e exploratório, [os gatos] também nos podem proporcionar isso", resumiu.


Exclusivo PÚBLICO/ The Washington Post

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