Blinken rejeita pedidos de países árabes para um cessar-fogo imediato em Gaza

Num encontro com diplomatas árabes, o secretário de Estado norte-americano defendeu apenas as pausas humanitárias. Guterres “horrorizado” com ataque israelita a ambulâncias.

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Blinken esteve na Jordânia em conversações com diplomatas de países árabes Reuters/ALAA AL SUKHNI
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Os EUA e os países árabes continuam sem conseguir alcançar uma posição comum relativamente à guerra entre Israel e o Hamas. Os aliados regionais da Palestina exigem um cessar-fogo imediato, mas Washington defende apenas a declaração de “pausas humanitárias”.

Poucas vezes como nos últimos dias ficou patente a dificuldade da diplomacia norte-americana em tentar encontrar um caminho para a moderação. O secretário de Estado Antony Blinken encontrou-se este sábado com vários dirigentes árabes para lhes reiterar a oposição dos Estados Unidos aos ataques que visam os civis na Faixa de Gaza.

Ver uma criança a ser puxada de escombros “atinge-me as entranhas”, disse Blinken, numa conferência de imprensa em Amã, na Jordânia, referindo-se às imagens que chegam de Gaza, onde cerca de 9500 pessoas morreram desde o início dos bombardeamentos, as quais uma grande parte são crianças. Embora reafirmando o direito de Israel se defender, na sequência do ataque sem precedentes do Hamas, Blinken disse que “devem ser tomadas todas as medidas possíveis para impedir vítimas civis”.

“Quando não o fazemos, estamos a fazer o trabalho do Hamas por eles”, acrescentou. Tal como tinha feito na véspera em Israel, Blinken voltou a defender pausas humanitárias para que possa ser entregue ajuda humanitária aos civis e para a evacuação de feridos. No entanto, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, tem afastado qualquer tipo de cessação das hostilidades enquanto o Hamas não for totalmente destruído e os mais de 200 reféns libertados.

Blinken disse ainda que os dirigentes árabes concordaram que é impossível “um regresso ao statu quo” na Faixa de Gaza sob controlo do Hamas e que foram discutidos cenários para reanimar a solução dos dois Estados.

No entanto, os seus interlocutores árabes voltaram a insistir num cessar-fogo imediato, e não em paragens temporárias das hostilidades – Blinken disse que um cessar-fogo apenas iria beneficiar o Hamas, ajudando o grupo islamista a manter o controlo sobre Gaza.

O ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio, Sameh Shoukry, exigiu um cessar-fogo “imediato e intensivo” nos combates em Gaza e “sem quaisquer condições”. O ministro criticou ainda o que disse serem os “padrões duplos” ocidentais na condenação das violações do direito internacional, “como se o sangue árabe valesse menos que o sangue de outros povos”.

No mesmo sentido, o ministro dos Negócios Estrangeiros jordano, Ayman Safadi, também realçou a necessidade de um cessar-fogo e avisou que “toda a região está a afundar-se num mar de ódio que irá definir as próximas gerações”. “Isto já se começa a manifestar nas expressões e nos actos de ódio na região e nos actos deploráveis e expressões de islamofobia e anti-semitismo”, alertou o chefe da diplomacia da Jordânia.

O desacordo entre Blinken e os dirigentes árabes deverá dificultar ainda mais qualquer esforço para pôr fim ao conflito na Faixa de Gaza. Em Israel, Netanyahu não concorda sequer com a possibilidade de pausas humanitárias e está empenhado em continuar a atacar todos os alvos que acredite poderem estar ligados ao grupo islamista.

Na sexta-feira, um ataque aéreo israelita atingiu um grupo de ambulâncias perto de um hospital, matando pelo menos 15 pessoas e deixando mais de 60 feridos. As Forças de Defesa Israelitas (IDF) disseram que “uma célula terrorista do Hamas foi identificada a usar uma ambulância”, embora não tenham fornecido qualquer prova para suportar essa alegação.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar “horrorizado” com o ataque contra as ambulâncias e renovou os pedidos de cessar-fogo. “Há quase um mês que os civis em Gaza, incluindo crianças e mulheres, estão cercados, com ajuda negada, mortos e bombardeados, expulsos das suas casas. Isto deve parar”, afirmou.

Já este sábado, uma escola operada por uma agência das Nações Unidas no campo de refugiados de Jabalia foi atingida, causando pelo menos 20 mortos.

As forças israelitas declararam a região norte da Faixa de Gaza, que incluiu a maior cidade do território, como uma zona de guerra e é aí que a maioria dos ataques se tem concentrado. No entanto, de acordo com as estimativas mais recentes, pelo menos 400 mil civis permanecem nesta área.

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