Presidente volta à posição sobre a guerra Israel-Hamas e mantém pedido de “moderação”

Marcelo Rebelo de Sousa avisa Israel de que “tem deveres maiores” e rejeita ter extravasado as suas competências, lembrando que a política externa também compete ao chefe de Estado.

Foto
O Presidente diz não perceber o "alarido" em torno das suas declarações sobre a guerra entre Israel e o Hamas LUSA/RUI MINDERICO/LUSA
Ouça este artigo
00:00
04:28

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O Presidente da República clarificou, uma vez mais, a sua posição sobre a guerra entre Israel e o Hamas, tentando mostrar que os pedidos de "moderação" que fez ao embaixador da Palestina nesta sexta-feira (e que mantém) se enquadram na "política de paz" de Portugal e que apoia a solução de dois Estados. Além de uma condenação a quem não cumpre o direito humanitário, deixou também um aviso directo a Israel que, diz, "tem deveres maiores" do que o Hamas. Mas continuou a lamentar que o conflito tenha "nascido" do lado da Palestina.

Falando aos jornalistas este sábado, à margem do Encontro Nacional de Cuidadores Informais, Marcelo Rebelo de Sousa começou por dizer que não compreende o "alarido" em torno das declarações que fez, esta sexta-feira, no Bazar Diplomático, quando disse ao representante da Palestina em Portugal, Nabil Abuznaid, que os palestinianos "não deviam ter começado" o conflito.

O Presidente afirmou que aquilo que fez nesse encontro entre diplomatas estrangeiros foi alertar para a importância da "moderação", algo que, defende, "agora até faz todo o sentido", visto que "há sinais de que pode haver um cessar-fogo se houver acordo sobre os sequestrados". E que, "depois, disse que foi uma pena que, neste caso, tivesse nascido de um determinado lado".

Marcelo apontou também que afirmou que não confunde a Palestina "com quem desencadeou" o ataque de 7 de Outubro e acrescentou que, já nessa altura, fez "uma coisa muito moderada", porque, além de condenar o ataque, referiu que se "instabilizou a situação num sentido prejudicial a quem tinha uma determinada causa". Isto, para mostrar que apoia aquela que é a causa de Portugal "desde sempre", ou seja, a criação de "dois estados: Israel e Palestina".

"Quem de um lado ou de outro, em cada momento, — aconteceu ao longo de décadas — teve actos que em termos internacionais de opinião pública acabaram por ter um eco monumental desfavorável à causa, sem querer, criou uma situação negativa para a causa", defendeu.

Lembrando que a "política portuguesa é muito clara nesta matéria", o Presidente justificou também as palavras que dirigiu ao embaixador da Palestina com o facto de Portugal ter uma "política de paz, de convivência pacífica de dois povos", isto é, os israelitas e os palestinianos, que "implica moderação, entendimento e negociação".

Mas, voltando a apoiar-se na posição do ex-líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, de que "não há culpas colectivas" e de que vitimar inocentes é "negar o direito humanitário", garantiu que, se a conversa desta sexta-feira tivesse sido com o embaixador israelita, o avisaria de que "há direito humanitário". E que já fez o apelo deixado à Palestina para "combater" a "radicalização" a outros países, como o Irão.

"Quem se diz uma democracia tem deveres maiores do que movimentos terroristas que, por natureza, não são democráticos. É muito mau se as democracias começam a achar que a única forma de combater a anti-democracia é ser como elas", avisou mesmo, referindo-se a Israel.

Marcelo lembra que falou depois do Governo

Questionado pelos jornalistas sobre se a política externa não é, em primeira instância, matéria do Governo, o chefe de Estado apontou que "a política externa é conjunta entre o Governo, o Presidente da República e o Parlamento" e que frisou que tem respeitado que seja o ministro dos Negócios Estrangeiros a falar primeiro, seguido do primeiro-ministro e, só depois, do Presidente, nomeadamente, sobre a posição do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, relativamente ao conflito. Algo que, disse, "um determinado Estado não gostou nada", como mostrou a sua "falta" no bazar diplomático, numa alusão a Israel.

Quanto ao facto de ter falado com o chefe da missão diplomática da Palestina sobre a guerra entre Israel e o Hamas naquele contexto, apontou que foi Nabil Abuznaid quem "levantou a questão", já que "normalmente não teria falado" sobre o assunto. E afastou a hipótese de uma deterioração das relações com o embaixador: "Terminou em termos nada inamistosos a conversa", vincou.

Depois de a líder do BE ter considerado na sexta-feira que a posição do Presidente "envergonha" (tal como outras figuras do PS e do PCP criticaram Marcelo), este sábado, Mariana Mortágua desafiou o chefe de Estado a "defender o cessar-fogo". "É assim que se representa Portugal nas instâncias internacionais, estando ao lado de António Guterres e falando a uma só voz", disse, citada pela Lusa.

Já o presidente do Parlamento, Augusto Santos Silva, escusou-se a comentar as palavras do Presidente da República, alegando que "o Estado tem uma hierarquia". "Por definição, as palavras do senhor Presidente da República nunca me merecem nenhum comentário, porque o Estado tem uma hierarquia e, nessa hierarquia, o Presidente da República é a primeira figura do Estado e eu sou apenas a segunda", afirmou, também citado pela Lusa.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários