Para evitar os mísseis russos, a Ópera em Kharkiv passou a ser subterrânea
O Teatro Académico de Ópera e Ballet do estado de Kharkiv, que parou de se apresentar no palco por precaução, equipou o porão com um palco e um fosso improvisado para a orquestra.
Depois de mais de 20 meses de guerra, os cantores de ópera da cidade de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, anseiam voltar aos palcos, mas enquanto isso ainda não é possível, actuam no porão do seu teatro para se protegerem dos ataques aéreos russos.
A segunda maior cidade da Ucrânia, que proibiu grandes eventos públicos quando a Rússia invadiu o país em Fevereiro de 2022, é um alvo frequente de ataques que podem demorar apenas 45 segundos para atingir o seu alvo a partir do momento em que são disparados através da fronteira russa, a 30 quilómetros de distância.
O Teatro Académico de Ópera e Ballet do estado de Kharkiv, que parou de se apresentar no palco por precaução, equipou o seu porão com um palco, um fosso improvisado para a orquestra e filas de bancos para a plateia.
A ópera está a planear pedir às autoridades municipais que lhes permitam actuar regularmente, já que o porão serve também de abrigo anti-aéreo. Na última sexta-feira, foi realizado um ensaio geral perante a equipa do teatro, amigos e familiares.
“Sentimos falta de nos apresentar em palco”, disse Olena Starikova, que faz parte da trupe. “Cantamos em muitos lugares – garagens, florestas, escolas, creches, hospitais – mas não há nada como o palco. A ópera é um conto de fadas. Todos nós, a trupe de ballet, a trupe de ópera, estamos incrivelmente felizes."
O enorme teatro foi projectado como um salão de congressos para membros do Partido Comunista na era soviética, disse Andrii Turlobekov, o engenheiro-chefe do teatro. “O edifício aguenta muita coisa, é uma construção monolítica e segura. A elite para a qual foi projectado precisava de estar segura."
Apesar da proximidade com a fronteira russa, Kharkiv nunca foi ocupada pelas forças russas durante a invasão em grande escala, embora alguns distritos, especialmente as zonas nordeste, mais próximas da Rússia, tenham ficado gravemente danificadas por bombardeamentos e ataques.
A distância até a fronteira é tão curta que os mísseis podem aterrar e explodir na cidade antes mesmo de as sirenes de ataques aéreos dispararem, referiu Ihor Tuluzov, director geral e artístico do teatro.
No início deste mês, o governador da cidade anunciou planos para construir uma escola subterrânea para as crianças estudarem com segurança, apesar da ameaça de mísseis.
A cidade já construiu dezenas de salas de aula no sistema de metro subterrâneo para permitir que alguns alunos regressem às aulas presenciais. As escolas têm funcionado em ensino online durante a guerra por causa dos ataques aéreos.
A cidade prepara-se agora para um segundo Inverno em guerra, com receios crescentes de que a Rússia tenha como alvo a rede eléctrica nacional e outras infra-estruturas energéticas essenciais, causando cortes de energia devastadores.
Apesar desses receios e dos ataques aéreos regulares, as autoridades dizem que muitos residentes regressaram a Kharkiv depois de fugirem no início da invasão. Mais de 1,2 milhões de pessoas vivem na cidade que tinha uma população pré-guerra de 1,4 milhões.
Starikova afirmou estar encantada e ansiosa com o regresso da ópera aos palcos. “É uma celebração porque apresentar ópera para os residentes de Kharkiv agora pode ser seguro, as pessoas podem estar seguras e podemos presenteá-las com as nossas canções, com as nossas actuações e trazer-lhes alegria neste momento difícil para o nosso país e para a nossa cidade”.