O que levou à extinção dos dinossauros? Afinal, poderá ter sido a poeira

Poeiras lançadas para a atmosfera da Terra terão bloqueado a luz solar e impedido a fotossíntese das plantas. No rescaldo da colisão, o planeta registou uma queda na temperatura de cerca de 15 graus.

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Ilustração da região do Dakota do Norte, nos Estados Unidos, nos primeiros meses após a queda de um asteróide ao largo da costa do México, há 66 milhões de anos, que mostra um mundo escuro, poeirento e frio que levou à extinção dos dinossauros Mark A. Garlick/ REUTERS

Afinal, foi a poeira que resultou do impacto de um asteróide na Terra que levou os dinossauros à extinção – essa é, pelo menos, a conclusão de um estudo sobre o que aconteceu quando, há 66 milhões de anos, um asteróide caiu na Península de Iucatão, no México, levando ao desaparecimento de três quartos das espécies do mundo e pondo fim à era dos dinossauros.

Imediatamente a seguir ao impacto do asteróide na Terra ocorreram incêndios florestais, erupções vulcânicas, terramotos e enormes ondas estacionárias nos mares. Mas o que terá ditado o fim de muitas espécies pode ter sido a catástrofe climática que se desenrolou nos anos seguintes, com os céus escurecidos por nuvens de detritos e as temperaturas a caírem a pique.

O estudo, publicado esta segunda-feira na revista Nature Geoscience, revela o papel que as poeiras da rocha pulverizada lançadas para a atmosfera a partir do local do impacto do asteróide podem ter desempenhado na extinção das espécies, sufocando a atmosfera e impedindo as plantas de aproveitarem a luz solar para fazerem a fotossíntese.

Segundos os cálculos dos investigadores belgas, a quantidade total de poeira gerada foi de cerca de duas mil gigatoneladas – mais de 11 vezes o peso do Monte Evereste.

Os cientistas realizaram simulações paleoclimáticas com base em sedimentos descobertos no sítio paleontológico de Tanis, no Dakota do Norte (EUA), onde estão preservados vestígios do que restou após o impacto do asteróide (incluindo vestígios da poeira emitida após a colisão que, entretanto, assentou naquele local).

As simulações mostraram que esta poeira de grão fino pode ter impedido a fotossíntese das plantas durante até dois anos e permanecido na atmosfera durante 15 anos, de acordo com o cientista planetário Cem Berk Senel, do Observatório Real da Bélgica e da Universidade de Vrije, em Bruxelas, principal autor do estudo.

Embora estudos anteriores tenham destacado dois outros factores que contribuíram para a extinção das várias espécies – nomeadamente o enxofre libertado após o impacto e a fuligem dos incêndios florestais –, a recente investigação indica que as poeiras desempenharam um papel mais importante do que se pensava até agora.

As poeiras – partículas de silicato com cerca de 0,8 a 8 micrómetros de diâmetro – foram geradas a partir de rochas de granito e gnaisse pulverizadas no violento impacto que formou a cratera de Chicxulub, na península de Iucatão, com cerca de 180 quilómetros de largura e 20 quilómetros de profundidade.

Frio e escuro durante anos

No rescaldo da colisão, a Terra registou uma queda na temperatura à superfície de cerca de 15 graus Celsius. “Ficou frio e escuro durante anos”, explicou, citado pela Reuters, Philippe Claeys, cientista planetário da Universidade de Vrije e co-autor do estudo.

A Terra entrou numa espécie de Inverno após a queda do asteróide, com as temperaturas globais a caírem a pique e a produtividade primária – o processo que as plantas terrestres e aquáticas e outros organismos utilizam para produzir alimentos a partir de fontes inorgânicas – a entrar em colapso, provocando uma reacção em cadeia de extinções. À medida que as plantas morriam, os herbívoros morriam de fome. Os carnívoros, por sua vez, ficaram sem presas e também morreram. Nos reinos marinhos, o desaparecimento do minúsculo fitoplâncton provocou o fim das cadeias alimentares.

“Enquanto o enxofre permaneceu cerca de oito a nove anos, a fuligem e a poeira de silicato permaneceram na atmosfera durante cerca de 15 anos após o impacto”, acrescentou o investigador Özgür Karatekin, que também participou no estudo, salientando ainda que a temperatura só se normalizou para níveis pré-impacto após cerca de 20 anos.

O asteróide, que se estima que teria entre dez a 15 quilómetros de largura, foi sinónimo de um fim cataclísmico para o Período Cretáceo (período compreendido entre há 145 milhões e 66 milhões de anos).

A queda do asteróide provocou a extinção dos dinossauros não aviários, assim como dos répteis marinhos que dominavam os mares e de muitas outras espécies de animais. Os grandes beneficiários foram os mamíferos, que até então desempenhavam um pequeno papel e que tiveram a oportunidade de se tornarem personagens principais na história.

“Os grupos bióticos que não estavam adaptados para sobreviver às condições de escuridão, frio e privação de alimentos durante quase dois anos teriam sofrido extinções maciças”, afirmou Karatekin. “[As espécies de] fauna e flora que conseguiam entrar numa fase de dormência – por exemplo, através de sementes ou hibernação em tocas – e que eram capazes de se adaptar a um estilo de vida generalista, não dependente de uma fonte de alimento específica, geralmente sobreviviam melhor, como os pequenos mamíferos”, acrescentou.

Se este desastre não tivesse acontecido, os dinossauros poderiam ainda dominar a Terra actualmente. “Os dinossauros dominavam a Terra e estavam a sair-se muito bem, quando o meteorito caiu”, disse Claeys. “Se o impacto não se tivesse dado, o meu palpite é que os mamíferos – incluindo nós – teriam tido poucas hipóteses de se tornarem os organismos dominantes neste planeta.”

Steve Brusatte, professor de Paleontologia e Evolução na Universidade de Edimburgo (Reino Unido), que não esteve envolvido no estudo, descreveu ao jornal The Guardian o asteróide que esteve na origem do desaparecimento dos dinossauros como “apocalíptico”. “Foi o maior asteróide a atingir a Terra nos últimos 500 milhões de anos e detonou com a força de mais de mil milhões de bombas nucleares juntas. Mas não foi isso que realmente matou os dinossauros e 75% das outras espécies que se extinguiram”, afirmou. “O que realmente provocou a sua morte foi o que aconteceu depois, quando a poeira e a sujidade do impacto do asteróide entraram na atmosfera e bloquearam o sol”, explicou.

“A Terra ficou escura e fria durante alguns anos. O asteróide não matou todos os dinossauros de uma só vez, mas foi um assassino mais furtivo, que desencadeou uma guerra de desgaste que levou à morte de três em cada quatro espécies”, sublinhou Steve Brusatte.