Inverno': dias curtos, noites longas, a violência da natureza
por Luís Octávio Costa
Explorar a Islândia no Inverno é conviver com uma contagem decrescente — tão rápida como a da descolagem de um foguetão. Quatro em cada 24 horas é muito pouco tempo para quem faz três mil quilómetros para ir daqui à Lua ou à Islândia e as suas facetas lunares e cenários longínquos, campos de lava, cascatas que desafiam as leis da gravidade, abismos e buracos no centro da Terra, rajadas de vento que cospem anemómetros, chuvadas tresloucadas e todo um clima que dificilmente conseguimos prender num colete de forças.
Os dias são micro — nascem tarde e com o fim à vista — e os serões intermináveis, ampulheta na mão enregelada, grão de areia escura a grão de areia escura. Temos que ir ter com a natureza, mas a natureza encontra-nos primeiro, desarmados, e manifesta-se com violência.
Está escuro quando chegamos. Está escuro quando partimos. "O tempo é terrorista". Transforma os planos, muda a paisagem, escava cavernas e fá-las desaparecer. Isola-nos. Gera diamantes. Faz-nos sofrer. Não levamos nem o calçado nem o equipamento certo. Estacionamos contra o vento. Sacrificamo-nos por uma foto.
[Luís Octávio Costa é jornalista do PÚBLICO e Kitato no Instagram]
Inverno: a branco e azul, com luzes dançarinas
por Tânia Muxima
Naquele dia, acordei ainda de noite para avançar. Os dias de inverno na Islândia são incríveis, mas existe um preço a pagar, é enfrentar tempestades tão agrestes que só acreditamos que existem quando lá estamos. Eu queria viajar no remoto, viajar natureza adentro e, é sem dúvida, um país que nos proporciona isso tudo.
Muitos dos dias são pintados de duas cores: branco e azul. Em muitas das noites, quando tudo se alinha, há luzes verdes que dançam nos céus e, quando tudo se alinha mais ainda, aparece o roxo a dançar com o verde pelo meio das estrelas. As estradas geladas, dão uma mística especial à viagem, damos-lhe o cuidado merecido. No Inverno, há uma maior interacção com o povo e isso leva-nos a conhecer melhor os seus costumes.
No Verão, os locais estão mais ocupados a trabalhar no turismo massivo que a Islândia recebe. No Inverno, encontram mais tempo para nos explicar a sua história e tradições. O povo islandês vive bastante isolado, em condições austeras. Por vezes as condições mudam de hora para hora, de minuto para minuto. E eles sabem bem adaptar-se a tudo isso. Fui recebida por uma senhora que me explicou: nós não decidimos nada e por isso não programamos nada, adaptamo-nos ao momento. Têm uma capacidade de se adaptar e minimizar incrível.
Paisagens brutas e belas, paisagens puras, a natureza apresenta-se ali de todas as formas: vulcões, mar, montanhas, glaciares, praias, fiordes.
[Seguir Tânia Muxima no Instagram]
Da Primavera ao Verão, para os "amantes do verde"
por Bernardo Conde
Costumo dizer que nunca se vai apenas uma vez à Islândia. Digo frequentemente que a ir, pelo menos uma vez seja no Inverno para ver auroras boreais ou no Verão para ver a Islândia perfeita para os amantes do verde, ou nas meias estações quando as cores mudam todas.
Mas para os amantes da perfeição das paisagens verdejantes, a ir é no Verão. Nesta altura do ano o verde dos campos de pasto e os musgos das montanhas e que cobrem os extensos quilómetros dos campos de lava, ganham uma intensidade tal que é electrizante.
O frenesim de visitar a Islândia ganha um encanto especial, o contraste do preto com o verde, com as flores roxas invasoras (lupinas), com o branco e azulado dos glaciares, o branco dos véus de algumas cascatas, o branco mais leitoso de outras, tudo é como que polarizado ao máximo da intensidade se tens a sorte de vislumbrar a paisagem com sol. No Verão, as quatro estações são sempre presentes, pode fazer chuva, neve, vento, muito vento. Vento é uma das constantes islandesas, tão certo como apanharmos um incrível fish and chips com um suculento naco de bacalhau fresco numa roulotte vermelha às pintinhas pretas a caminho da emblemática Skogafoss.
Para os amantes das aves posso ainda acrescentar que é a altura do ano mais incrível para poder avistar uma das aves migratórias mais icónicas da Islândia – os puffins (papagaios do mar). O Verão tem sempre o lado mau do turismo massificado ao expoente máximo da loucura, por isso se me perguntarem a altura ideal para ir uma vez diria que seria entre estações, ou Inverno para fugir às enchentes de turistas. Mas por fim, há uma enorme vantagem de se visitar a Islândia no Verão, os dias rendem infinitamente, temos luminosidade as 24 horas, podemos viajar e pensar que são três da tarde e ao olhar para o relógio são onze da noite, e este longos dias sabem bem renderem tanto.
[Bernardo Conde é um viajante fotógrafo - site, Instagram; e líder de expedições na Trilhos da Terra]
Outono, quase Verão, quase Inverno
por Luís J. Santos
Embora as temperaturas possam não atingir aqueles níveis mais radicais, o Outono é arisco e entre os céus cinza, dia e noite, aos dias soalheiros, à chuva a estragar planos, tudo pode acontecer. "O tempo na Islândia é imprevisível, prepara-te", bem me tinham avisado. Os dias de inícios de Outubro foram passados assim, com algum tom cinza melancólico em boa parte dos dias, umas chuvinhas frias, uns ventos mais rijos a Sul. Mas, tudo somado, digamos que tempo "ameno" para o nível islandês.
Com a Primavera/Verão a ser tempo de elevada afluência turística, o Outono, além de começar a dar os seus tons amarelados, avermelhados à paisagem, pode também não ser aquela quietude que se deseja: pelo menos há umas semanas, havia muito, muito turista pelas principais atracções. Outra mais-valia do pré-Inverno: dias ainda longos, com luz do dia sem grandes diferenças com as horas portuguesas (mas vai diminuindo, claro, conforme a estação avança).
Para quem quer tentar a caça às auroras boreais sem passar pelo frio mais agreste do Inverno, o Outono, que marca o regresso da temporada das luzes, pode também ser prometedor, mas há que ter é conta que se forem noites de céu muito nublado elas não vão dar um ar de sua graça - foi o que nos aconteceu, com dias seguidos de Northern Lights Tours canceladas, mais a experiência de ir numa saída nocturna durante cinco ou seis horas sem chegar a vê-las. Mas, ei, nada de frustrações. Fica para a próxima.
[Luís J. Santos é jornalista do PÚBLICO e esteve em Outubro na Islândia]