Paddy Cosgrave pede desculpas depois do boicote de Israel à Web Summit
Empresário irlandês repete que “Israel deve cumprir a lei internacional e não cometer crimes de guerra”, mas admite que as suas palavras causaram “mágoa” aos “amigos” israelitas.
O fundador e dirigente da Web Summit, Paddy Cosgrave, pediu desculpa na terça-feira pelos seus comentários dos últimos dias sobre o conflito entre Israel e o Hamas, que tinham levado a embaixada israelita em Lisboa, vários investidores e empresas a cancelar a sua participação na feira tecnológica deste ano, em Novembro.
Numa publicação no blogue da Web Summit, Cosgrave pediu “desculpas profundas” a “quem ficou magoado” com as suas palavras, nomeadamente aos “amigos” de “Israel e das suas empresas tecnológicas”, mas reiterou que a resposta israelita “às atrocidades do Hamas” não pode “ultrapassar as fronteiras da lei internacional”.
“Apoio inequivocamente o direito de Israel a existir e a defender-se. Apoio inequivocamente uma solução de dois Estados”, escreveu o empresário irlandês. “Também acredito que, ao defender-se, Israel deve cumprir a lei internacional e a Convenção de Genebra – isto é, não cometer crimes de guerra.”
O desagrado israelita para com Paddy Cosgrave começou logo a 7 de Outubro, o dia do ataque do Hamas, quando o empresário fez uma publicação, entretanto apagada, no X (antigo Twitter), em que comparava o número de mortes de ambos os lados do conflito israelo-palestiniano na última década e meia. Na sexta-feira, já depois de partilhar alguns links de canais televisivos e de jornais internacionais sobre o assunto e de ter ‘gostado’ de algumas publicações críticas de Israel (‘gostos’ entretanto apagados), Cosgrave voltou a pronunciar-se, escrevendo: “Estou chocado com a retórica e as acções de tantos líderes e governos ocidentais (…) Crimes de guerra são crimes de guerra, mesmo quando são cometidos por aliados, e devem ser nomeados enquanto tal.”
I’m shocked at the rhetoric and actions of so many Western leaders & governments, with the exception in particular of Ireland’s government, who for once are doing the right thing. War crimes are war crimes even when committed by allies, and should be called out for what they are.
— Paddy Cosgrave (@paddycosgrave) October 13, 2023
Os comentários à publicação encheram-se de líderes empresariais israelitas a acusá-lo de estar mal informado e de apoiar implicitamente o Hamas. A indignação atingiu tal ponto que Paddy regressou ao assunto no domingo à noite para condenar o grupo islamista publicamente pela primeira vez. “O que o Hamas fez foi chocante e repugnante. É um acto de mal monstruoso. Israel tem o direito a defender-se, mas não tem, como já afirmei, o direito a violar a lei internacional”, escreveu.
Na segunda-feira, o embaixador de Israel em Lisboa anunciou, também no X, que as “declarações ultrajantes” de Cosgrave tinham levado o país a decidir não participar na Web Summit deste ano. “Mesmo nestes tempos difíceis, ele é incapaz de pôr de lado as suas opiniões políticas extremistas e de denunciar as actividades terroristas do Hamas contra pessoas inocentes”, escreveu Dor Shapira.
Sempre na mesma rede social, a história conheceria ainda outros capítulos até ao pedido de desculpas desta terça. Cosgrave voltou a condenar “os ataques do Hamas” e “o nível de baixas civis inocentes em Israel e Gaza”, mais tarde repetiu que “crimes de guerra são crimes de guerra mesmo quando cometidos por aliados” e garantiu que não ia “ceder” nesta posição.
Entretanto, noticiou a Bloomberg, os responsáveis de várias empresas de investimento de risco e tecnológicas decidiram cancelar a sua participação na Web Summit. Foi o caso de Ravi Gupta, sócio da Sequoia Capital, uma firma que financiou o lançamento de empresas hoje famosas, como a Airbnb, a Apple, o Instagram e a Zoom, ou de Garry Tan, líder da aceleradora de startups Y Combinator, que apoiou negócios como a Dropbox, o Reddit ou o Substack.
Escrevi hoje ao Presidente da Câmara de #Lisboa informando-o que Israel não participará na conferência @WebSummit devido às declarações ultrajantes proferidas pelo Diretor Executivo da conferência, Paddy Cosgrave.
— Dor Shapira???????? (@ShapiraDor) October 16, 2023
Mesmo nestes tempos difíceis, ele é incapaz de pôr de lado as suas…
Antes do seu pedido de desculpas, Paddy Cosgrave tinha escrito, também no X, que “nas últimas 24 horas, enquanto nove investidores cancelaram, outros 35 inscreveram-se” e que a Web Summit “vendeu mais bilhetes do que em qualquer outra segunda-feira de 2023”.
“Sempre fui anti-guerra e a favor da lei internacional”, escreveu o empresário irlandês no pedido de desculpas. “Com os meus comentários, tentei fazer exactamente o mesmo que o secretário [de Estado norte-americano] Blinken e tantos outros globalmente: pedir a Israel que na sua resposta às atrocidades do Hamas não ultrapasse as fronteiras da lei internacional”, defendeu-se.
“No entanto, compreendo que aquilo que disse, o momento em que o disse e a forma como foi apresentado causou mágoa a muitos”, acrescentou, terminando: “O meu objectivo é e sempre foi lutar pela paz. Espero, com todo o meu coração, que isso possa ser alcançado.”