Paulo Raimundo acusa UE de “hipocrisia e cinismo” no conflito entre Israel e Hamas

O secretário-geral do PCP considera que o Governo deve “reafirmar em todas as suas instâncias” que a “solução do conflito passa por dois Estados”: Israel e Palestina.

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Paulo Raimundo apresentou as conclusões da reunião do comité central deste domingo e segunda-feira LUSA/MIGUEL A. LOPES
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Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, voltou a pronunciar-se nesta segunda-feira sobre o conflito entre Israel e o Hamas, acusando a União Europeia de "hipocrisia e cinismo" e apelando ao Governo português para que defenda "em todas as suas instâncias" a "solução de dois Estados".

A partir da sede nacional do PCP, em Lisboa, em que apresentou as conclusões da reunião do comité central, Paulo Raimundo criticou a "clamorosa hipocrisia e cinismo" em torno do conflito entre Israel e o Hamas, considerando que aqueles que "estiveram calados anos sucessivos" sobre a ocupação da Palestina por Israel "também se calaram" agora perante os "crimes de guerra em curso na acção de massacre de Israel à Faixa de Gaza".

O comunista admitiu que a União Europeia (UE) se "enquadra nesta ideia de hipócritas e cínicos" e apelou para que haja uma "voz forte de condenação e de obrigar a travar" o conflito. "Basta a palavra certa no momento certo e o poder certo do ponto de vista internacional para parar este conflito", afirmou.

Paulo Raimundo não coloca, contudo, o Presidente da República no mesmo saco. "As palavras de hipocrisia e cinismo não se enquadram no posicionamento do Presidente da República", garantiu.

Já quanto ao Governo, o líder do PCP referiu que o Estado português "tem a responsabilidade de cumprir e fazer cumprir as resoluções da ONU", nomeadamente reafirmando "em todas as suas instâncias" que a "solução do conflito passa por dois Estados", isto é, Israel e Palestina, e tomando "iniciativas nesse sentido".

O líder dos comunistas voltou ainda a responder às críticas do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, sobre a posição do PCP e do BE em relação ao ataque do Hamas, considerando as declarações do autarca "inqualificáveis". Para Raimundo, Carlos Moedas "deve andar em despique de protagonismo com outros protagonistas da sua corrente política", já que "pega em tudo e mais alguma coisa para se pôr em bicos de pés".

Questionado sobre se o PCP considera o Hamas uma organização terrorista, Raimundo não respondeu directamente, notando antes que o "combate" que o Hamas fez às "formas democráticas da Palestina" mostra que serve "interesses obscuros" e que "uma parte das acções que tem desenvolvido não corresponde aos interesses do povo palestiniano".

O secretário-geral sublinhou ainda que é "um erro de análise" olhar para este conflito como sendo "entre Israel e o Hamas", avisando: os "erros de análise pagam-se".

Comité central não condena directamente Hamas

Antes, quando transmitiu a posição do comité central sobre este conflito no Médio Oriente, o comunista condenou os "terríveis desenvolvimentos no conflito entre Israel e o povo palestiniano", alertando que são inseparáveis de "décadas de política de ocupação e opressão e desrespeito dos direitos do povo palestiniano por parte de Israel".

Mas se, em declarações aos jornalistas na semana passada, Raimundo condenou também o ataque do Hamas quando afirmou que qualquer operação que tenha como alvo civis, "seja ela do Hamas, seja de quem for" é "sempre condenável", nas conclusões do comité central que apresentou esta segunda-feira não há nenhuma referência directa ao Hamas.

O líder aproximou-se dessas declarações ao garantir que o PCP se "distancia" e "condena" as "acções de violência que visem as populações e vitimem inocentes", mas condenou apenas abertamente a "escalada de guerra de Israel contra o povo palestiniano".

"Um povo já profundamente martirizado e agora mais uma vez alvo de bombardeamentos indiscriminados, bloqueio e ameaças que procuram condenar o povo palestiniano à morte e à expulsão", sustentou.

Paulo Raimundo insistiu ainda na ideia de que "aqueles que tanto falam em direito internacional" não têm uma "condenação que seja, qualquer acção ou iniciativa para travar o crime" de Israel e, pelo contrário, ainda "apoiam as perigosas tentativas de proibição em várias partes do mundo, de manifestações pela paz e de solidariedade com o povo palestiniano".

Notícia actualizada com a posição do comité central sobre o conflito entre Israel e o Hamas

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