Sem combustível não há água e sem água as pessoas vão morrer de desidratação em Gaza, diz a ONU

Israel abre “duas vias seguras” em Gaza, um dia depois de ter bombardeado famílias que fugiam para o Sul do território. Estrangeiros vão poder cruzar a fronteira com o Egipto.

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Palestinianos retiram uma menina ferida depois de um bombardeamento israelita em Khan Younis Reuters/STRINGER
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Nas redes sociais circulam várias imagens de viaturas em chamas e corpos no chão, pessoas aparentemente mortas na sexta-feira, quando obedeciam às ordens dos militares israelitas e tentavam deslocar-se do Norte para o Sul da Faixa de Gaza. Este sábado, depois de ter prolongado o prazo para metade dos palestinianos de Gaza, 1,1 milhões, fazer este percurso, até às 16h (14h em Portugal continental), o exército anunciou que haveria “duas rotas seguras” para a viagem.

“Para vossa segurança, aproveitem o pouco tempo para se deslocarem para o Sul”, escreveu o tenente-coronel Avichay Adraee, porta-voz das IDF (Forças de Defesa de Israel) para os media árabes, na rede social X (antes Twitter).

O prazo dado aos habitantes termina uma semana depois do feroz ataque do Hamas, que matou mais de 1300 israelitas, a maioria civis, fazendo ainda 150 reféns. Desde então, pelo menos 2215 palestinianos morreram nos ataques israelitas na Faixa de Gaza, enquanto 54 foram mortos na Cisjordânia. Em Gaza, os feridos aproximam-se dos 10 mil.

Não é certo que as indicações das IDF cheguem a todos os que delas necessitam – na véspera, quando Israel deu 24 horas a toda a população a norte de Wadi Gaza, vários relatos que chegavam da Faixa explicavam que com a falta de electricidade, cortada por Israel na quarta-feira (tal como a entrada de ajuda humanitária), muita gente sem bateria nos seus telemóveis demorou horas a saber do aviso.

Entretanto, o Hamas disse que 70 pessoas, a maioria mulheres e crianças, foram mortas em raides aéreos dentro dos seus carros, quando saiam da Cidade de Gaza. O grupo islamista fala de três ataques diferentes. O diário norte-americano The Washington Post confirmou a veracidade de um dos vídeos destes ataques: na estrada de Salah al-Deen, a principal de Gaza, “mostra corpos, incluindo vários de crianças pequenas, espalhados ao longo da estrada enquanto fumo preto sai dos veículos em chamas”; "no lado norte da estrada, os corpos estão dispostos entre pertences destas pessoas, incluindo uma bicicleta, em reboques atrelados a um camião”.

“O massacre revela a extensão das mentiras israelitas… e do engano, depois de apelos suspeitos israelitas ao nosso povo para abandonarem as suas casas”, reagiu o Hamas num comunicado. “Eles foram alvo directo [das forças israelitas], num crime hediondo.”

E quando se sabe que já há acordo para os estrangeiros que se encontram em Gaza abandonarem o território através de Rafah, o principal ponto de passagem entre a Faixa de Gaza e o Egipto, o Ministério da Saúde palestiniano pede “a abertura imediata de passagens para levar os doentes e os feridos para tratamento no estrangeiro e para trazer equipamento médico e medicamentos e combustível para os hospitais e os centros médicos”. “Tememos que milhares de feridos e pessoas doentes morram por causa desta situação catastrófica”, sublinhou.

As Nações Unidas fazem outro apelo desesperado: é preciso água e isso só se consegue garantir com combustível que permita voltar a pôr as instalações de tratamento a funcionar.

Pelo menos 2269 palestinos foram mortos e 9814 ficaram feridos devido aos ataques israelitas na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, informou o Ministério da Saúde palestino no último balanço EPA/MOHAMMED SABER
Palestinianos fogem das suas casas durante o conflito entre o Hamas e as forças militares de Israel Reuters/MOHAMMED SALEM
Habitantes fogem das suas casas em Khan Younis, Faixa de Gaza Reuters/IBRAHEEM ABU MUSTAFA
Cidade de Gaza Reuters/MOHAMMED SALEM
Dezenas de milhares de pessoas fugiram do norte de Gaza, em direcção ao sul do território, depois da ordem de evacuação dada pelas forças militares de Israel na manhã de sexta-feira, estima a ONU EPA/HAITHAM IMAD
Antes da ordem de evacuação, mais de 400 mil palestinianos já estavam deslocados internamente EPA/HAITHAM IMAD
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse na noite de sexta-feira que os hospitais no sul de Gaza já estão lotados e não poderiam aceitar milhares de novos pacientes vindos do norte Reuters/AHMED ZAKOT
Os militares de Israel dizem ter assistido a um "movimento significativo" de civis palestinianos para o sul do território, um dia depois de ordenarem que os moradores da Cidade de Gaza fugissem dada a iminência de uma invasão terrestre Reuters/AHMED ZAKOT
O exército israelita informou este sábado a população do norte da Faixa de Gaza que tem até às 16h locais (14h em Portugal) para se deslocar para sul do enclave ao longo de uma série de estradas específicas EPA/MOHAMMED SABER
Hnaneen Ghanem e o seu gato fugiram da cidade de Gaza na manhã deste sábado EPA/MOHAMMED SABER
Cidade de Gaza, 13 de Outubro de 2023 EPA/MOHAMMED SABER
Cidade de Gaza, 13 de Outubro de 2023 EPA/HAITHAM IMAD
Mais de 1300 edifícios foram completamente destruídos na Faixa de Gaza, anunciou a ONU, após uma semana de intensos bombardeamentos pelas forças israelitas EPA/HAITHAM IMAD
Cidade de Gaza, 13 de Outubro de 2023 EPA/MOHAMMED SABER
Cidade de Gaza, 13 de Outubro de 2023 EPA/MOHAMMED SABER
Os ataques aéreos israelitas à Faixa de Gaza nas últimas 24 horas mataram pelo menos 324 palestinianos e feriram outros mil, segundo avança o Ministério da Saúde de Gaza neste sábado. Entre as vítimas mortais, há pelo menos 126 crianças e 88 mulheres EPA/MOHAMMED SABER
Cidade de Gaza, 13 de Outubro de 2023 EPA/MOHAMMED SABER
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinianos no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês) alertou este sábado que “mais de dois milhões de pessoas estão em risco à medida que a água acaba” em Gaza EPA/MOHAMMED SABER
Habitantes fogem da Cidade de Gaza, 13 de Outubro de 2023 EPA/MOHAMMED SABER
Habitantes fogem da Cidade de Gaza, 13 de Outubro de 2023 EPA/MOHAMMED SABER
Forças israelitas deram ordem de evacuação para o norte da Faixa de Gaza na manhã de sexta-feira Reuters/AHMED ZAKOT
Israel diz estar a preparar próximas operações no norte da Faixa de Gaza EPA/MOHAMMED SABER
Menina palestiniana lê o Corão junto ao carro com os pertences da sua família EPA/MOHAMMED SABER
Habitantes fogem da Cidade de Gaza, 13 de Outubro de 2023 EPA/MOHAMMED SABER
Habitantes fogem da Cidade de Gaza, fortemente atingida pelos ataques aéreos de Israel em retaliação aos movimentos do grupo Hamas EPA/MOHAMMED SABER
As Nações Unidas fizeram apelo desesperado: é preciso água e isso só se consegue garantir com combustível que permita voltar a pôr as instalações de tratamento a funcionar EPA/MOHAMMED SABER
Dezenas de milhares de pessoas fugiram do norte de Gaza, em direcção ao sul do território, depois da ordem de evacuação dada pelas forças militares de Israel na manhã de sexta-feira, estima a ONU EPA/MOHAMMED SABER
Segundo o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), que cita dados do Ministério das Obras Públicas de Gaza, foram destruídos 1324 edifícios residenciais e não residenciais, num total de 5.540 habitações, enquanto 3750 outras casas foram danificadas a ponto de se tornarem inabitáveis EPA/MOHAMMED SABER
O grupo islamita Hamas lançou no sábado passado um ataque surpresa contra Israel com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados por terra, mar e ar EPA/MOHAMMED SABER
Habitantes fogem da Cidade de Gaza, 13 de Outubro de 2023 Reuters/MOHAMMED SALEM
Israel bombardeou a partir do ar várias infraestruturas do Hamas na Faixa de Gaza e impôs um cerco total ao território com corte de abastecimento de água, combustível e eletricidade EPA/MOHAMMED SABER
A UNICEF estima que mais de 423.000 pessoas já fugiram das suas casas em Gaza para procurar refúgio em escolas ou hospitais e algumas instalações educativas foram danificadas pelos ataques EPA/HAITHAM IMAD
Israel diz estar a preparar próximas operações no norte da Faixa de Gaza EPA/HAITHAM IMAD
Dezenas de milhares de pessoas fugiram do norte de Gaza, em direcção ao sul do território, depois da ordem de evacuação dada pelas forças militares de Israel na manhã de sexta-feira, estima a ONU EPA/HAITHAM IMAD
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Pelo menos 2269 palestinos foram mortos e 9814 ficaram feridos devido aos ataques israelitas na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, informou o Ministério da Saúde palestino no último balanço EPA/MOHAMMED SABER

“Tornou-se uma questão de vida ou morte. É obrigatório, é preciso fazer chegar combustível entrar em Gaza agora. Combustível é a única maneira para as pessoas de Gaza terem água segura para beber”, disse Philippe Lazzarini, comissário geral da agência da ONU para os refugiados palestinianos. “Se não, as pessoas vão começar a morrer de desidratação, incluindo crianças, as pessoas mais velhas, e as mulheres”, acrescentou. “A água é a última tábua de salvação. Peço que o bloqueio à assistência humanitária seja levantado agora.”

Enquanto não há novidades sobre qualquer passagem segura para a população de Gaza poder abandonar o território, o Egipto anunciou um acordo para abrir pela primeira vez o posto fronteiriço de Rafah, este sábado à tarde, para permitir a saída dos estrangeiros.

Horas antes, segundo a Al-Jazeera, os palestinianos de Gaza que têm dupla nacionalidade receberam emails das suas embaixadas a informá-los que poderiam sair por Rafah, mas quando chegaram à fronteira foi-lhes dito que o acordo foi cancelado e ali continuam, à espera.

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